Após os mais
recentes acontecimentos desestabilizadores que pretendem ameaçar a unidade da
República Iraniana, parece-nos apropriado deixar aos nossos leitores a tradução
do que é, para nós, o mais importante capítulo do livro ‘A Narrativa do Acordar’,
de Hamid Hansari – ‘Um Olhar às Crenças, Ideologias e Objetivos de Imam
Khomeini’.
Dada a
extensão do mesmo, publicaremos agora apenas a primeira metade do texto,
contando publicar a segunda muito em breve.
Neste olhar à
biografia política e espiritual do precursor da Revolução Islâmica de 1979, cuja
missão é mantida pelo atual regime que comanda o Irão, pretende-se revelar as verdadeiras
motivações do Imam na criação e liderança deste movimento único na história do
século XX.
Especialmente
para nós, Ocidentais, que nos encontramos cada dia mais abismados e impotentes perante
as forças titânicas que destroem tudo o que é São e Bom, o exemplo da Revolução
Islâmica não pode deixar de tocar fundo. A chama desta representa um foco de
luz e esperança que - não nos enganemos - sendo cada vez mais ténue, nos dá o conforto
de saber ainda existir neste mundo de trevas um regime agregador de milhões de
seres que, como nós, rejeita os frutos da modernidade; mais, luta junto das
mais altas esferas políticas e militares mundiais por manter esta esperança.
Este governo
teocrático, liderado por uma elite de jurisconsultos islâmicos; que baseia toda
a sua atividade na Lei Divina; que compreende que o destino do Homem apenas se
cumpre se encaminhado na via de Deus; que anteviu a perversidade tanto da
democracia liberal como da sua irmã gémea comunista; que entende que nesta
Idade de dissolução em que a Humanidade se encontra apenas medidas pujantes e
restritivas são viáveis para manter a ordem moral e social da comunidade e que
sem pejo denuncia as forças maléficas que tudo e todos querem subjugar na sua
denominação despótica – só por hipocrisia, total engano ou - o que nos parece a
maior parte das vezes, infelizmente – o por ainda se operar sob preconceitos
subversivos, não pode um reacionário digno desse nome deixar de se afirmar de
corpo e alma junto do Regime Islâmico Iraniano.
Que todos nós
que antevemos o abismo em que a Humanidade se precipita, seja qual for a
denominação religiosa a que se pertença, tenhamos o discernimento de distinguir
o real inimigo comum e darmos a mão apenas aos que também buscam a Vida Eterna.
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Agora que este artigo, na busca da senda da vida de
Imam Khomeini, se aproxima dos últimos dias da sua vida, será apropriado deitar
um olhar, apesar de rápido e curto, a alguns dos mais importantes aspetos dos
seus pensamentos e ideologias. Obviamente, uma imagem clara e completa dos
fundamentos religiosos e dos objetivos do Imam apenas pode ser adquirido por
via estudo das suas obras completas, escritas e faladas, e prestando atenção à
sua própria conduta.
Imam Khomeini foi um muçulmano xiita que
fundamentalmente acreditava na unidade do Islão (independentemente dos seus
cismas). Ele acreditava que esta unidade é necessária vis-à-vis os
colonialistas e os inimigos do Islão. Os chamamentos a formas de unidade são
uma parte importante das mensagens e dos discursos de Imam Khomeini.
Sua Santidade, o Imam, afastou de hipótese qualquer
ação que quebrasse as linhas dos muçulmanos e conduzisse à dominação pelos
colonialistas. Pela emissão de decretos únicos e pelo seu apoio à ‘Semana da
União’ no mundo muçulmano e pelas suas repetidas mensagens, ele mostrou vias
práticas tendentes à unidade entre as denominações sunitas e xiitas. Durante a
sua liderança, ele opôs-se a qualquer ação que conduzisse à divisão e à disputa
entre estes dois grandes setores do Islão.
Imam Khomeini acreditava que a fé na unidade de
Deus e na missão do Profeta do Islão, a fé no Sagrado Corão como o capítulo
eterno de orientação, e a aceitação dos seus motes e decretos, como as orações,
jejum, dar esmolas, Hajj1 e Jihad2, são pilares sólidos
para todos os seguidores das várias seitas islâmicas se juntarem em unidade e
erguerem-se contra os politeístas.
O levantamento reformista do Imam e as suas
mensagens não são dirigidos apenas à sociedade iraniana. Ele acreditava que a
intuição do homem é baseada no monoteísmo, na caridade, na procura da verdade e
da justiça e, se a consciência geral aumenta e o mal do ego (nafs-e ammarech) e o Satã exterior são
domados e fragilizados, então toda a sociedade humana devotar-se-á à busca de
Deus e viverá em ambientes ricos de justiça e paz. Por esta razão, em todas as
suas mensagens públicas, o Imam urgia as nações cativas do Terceiro Mundo e os
povos oprimidos a erguerem-se contra o mundo arrogante. Depois da vitória da
Revolução Islâmica, Imam Khomeini propôs abertamente a ideia de formar o
‘Partido dos Povos Oprimidos’ e a defendê-lo. A primeira assembleia universal dos
movimentos de libertação internacionais reuniu-se no Irão durante a liderança do
Imam.
Ele frequentemente enfatizava que a Revolução
Islâmica é o inimigo dos objetivos dominadores das cabeças e dos órgãos
governativos dos E.U.A, do Ocidente e da (antiga) União Soviética, e não das
nações destes países, que são elas mesmas vítimas de neocolonialismo. O lema de
Imam Khomeini era o de combater o opressor e de defender o oprimido e costumava
afirmar: “Nós não somos nem cruéis nem toleramos crueldade”.
Para se fazer uma melhor ideia das crenças
religiosas de Imam Khomeini, o melhor seria ler a sua responsa a um
correspondente do London Times que Lhe colocou questões sobre as mesmas.
“A minha crença e aquela de outros muçulmanos são
os assuntos que o Corão contém ou aqueles que forem proferidos pelo Profeta do Islão
e pelas legítimas autoridades depois dele. A causa e a essência de todas essas
crenças, que são as nossas crenças mais queridas e valiosas, é o monoteísmo. De
acordo com este princípio, acreditamos que o Criador deste mundo e de todos os
seres no universo, incluindo a espécie humana, é o uno e único Deus Exaltado
Que tudo sabe e de todas as coisas é capaz e a Ele todas as coisas e objetos
pertencem. Este princípio ensina-nos a ser submissivos apenas ante o poder de
Deus e não obedecer a nenhum homem a menos que obedecer-lhe seja equivalente a
obedecer a Deus. Com base neste princípio, nenhum indivíduo tem o direito de
forçar qualquer outro homem a ele se submeter. Além do mais, este princípio de
fé ensina-nos o princípio da liberdade humana, isto é, nenhum homem tem o direito
de privar um indivíduo ou comunidade de liberdade, de legislar por eles, de
regular a sua conduta de acordo com o seu próprio entendimento dela, que é
geralmente deficiente, ou de regular a conduta de outros de acordo com as suas
vontades ou desejos. Ademais, deste princípio, vimos a acreditar que a
legislação para o progresso do homem encontra-se apenas com Deus, assim como as
leis da criação e do ser são por Ele desejadas. A felicidade e a perfeição do
homem e aquelas das comunidades estão dependentes da obediência a leis divinas,
das quais a humanidade é informada através dos profetas. A degradação e a queda
do homem são devidas à privação dos seus direitos e à sua submissão a outros
seres humanos. Portanto, o homem deve levantar-se contra estes grilhões e
correntes de dominação e desafiar aqueles que nos convidam à servitude, e de
libertar a comunidade, e a nós mesmos, para que possamos todos ser servos de
Deus e nos submetermos a Deus. É por esta razão que as nossas normas sociais e
regulações começam com a oposição aos poderes despóticos e colonialistas. Em acréscimo,
deste princípio de fé e crença no monoteísmo, recebemos a inspiração de que
todos os homens são iguais aos olhos de Deus, Que a todos criou, e todos são
Suas criaturas e servos. Este é o princípio de igualdade de todos os homens e
que a única distinção do homem e preferência a um ou outro baseia-se na sua
virtude e liberdade de distorção e de culpa. Portanto, todas as coisas que
disturbam esta igualdade e que instituem distinções vãs e sem sentido na
comunidade devem ser combatidas”.
Imam Khomeini costumava dizer: “No Islão o ponto de
referência é o consentimento de Deus e não o dos indivíduos. Nós pesamos e
medimos os indivíduos pela verdade e não vice-versa. A medida é a retidão e a
verdade”. Sua Santidade, o Imam, considerava a natureza e a intuição dos homens
amassada e nascida em amor pela perfeição absoluta, que a Deus pertence
exclusivamente. É Ele Quem é a fonte de todas as perfeições e poderes. O Imam
costumava lembrar os seus seguidores: “O universo é a Presença de Deus;
portanto, não pequem na presença de Deus… Nada temam exceto Deus e coloquem a
vossa confiança apenas em Deus.”
Sua Santidade, o Imam, considerava a filosofia das
missões proféticas como meios pelos quais os homens são guiados em direção à
teosofia, para ativar o poder da busca da perfeição do homem, em negação de
todas as trevas, na reforma da sociedade e no estabelecimento da equidade e da
justiça, como ele disse: “Um objetivo da missão profética é o de salvar das
trevas o caráter das pessoas, os seus egos, as suas almas e os seus corpos.
Almeja a colocar de lado toda a escuridão para salvar os homens dos abismos das
trevas e guiá-los em direção à luz”. Frequentemente ensinava: “Não existe luz
exceto Deus Todo Poderoso, o resto é tudo escuridão”.
Imam Khomeini considerava o Islão como o selo
complementário de todas as religiões divinas e a mais excelsa e compreensiva
escola divina de orientação. Ele enfatizava: “O Islão é o mais elevado grau de
civilização… As leis do Islão são progressivas, compreensivas e
complementárias… No Islão existe apenas uma lei, e essa é a lei divina”. O Imam
considerava o Islão como a religião da oração e da política e frequentemente
comentava: “O próprio Islão tem sido um dos fundadores das notáveis
civilizações do mundo”. Ele aconselhava os seus seguidores: “Cuidem por nunca
confundirem o Sagrado Corão e a religião da salvação, o Islão, com qualquer dessas
escolas falsas, criadas pelo homem e depravadas”. Noutro lugar, Imam Khomeini
disse: “A principal dificuldade dos muçulmanos é a de que eles largaram o
Sagrado Corão e juntaram-se sob os estandartes de outros… A escola de
pensamento xiita que é uma escola revolucionária e é a continuação do
verdadeiro Islão do Profeta, como os próprios xiitas o são, tem sempre estado sob
ataques malvados dos déspotas e dos colonialistas”.
Em relação aos seus motivos e aos objetivos do seu
levantamento e desafio, Imam Khomeini frequentemente enfatizava: “O nosso
objetivo integral é o Islão”. Imam considerava a Revolução Islâmica como uma
radiação do eterno levantamento de Imam Hussayn3 no dia da Ashoora,
que foi feita para salvar o Islão dos tentáculos dos corruptores cruéis. Ele
enfatizava: “O Islão não é uma religião de uma nação particular; não reconhece
diferenças entre turcos, iranianos, árabes ou não-árabes. O Islão pertence a
todos independentemente de raça, tribo, língua ou cor, que não contam nesta
religião. Todos são irmãos e iguais. A honra encontra-se na virtude e na
castidade, no caráter superior e na boa conduta.”
Imam Khomeini via o martírio no caminho de Deus
como uma honra eterna, o orgulho dos santos, a chave para a felicidade e o segredo
para a vitória. Ele via a busca do martírio como o resultado do amor por Deus.
Sobre o martírio e a sua essência e valor, Imam disse: “Quão ignorantes são os
mamomistas e os mal-informados que buscam o valor do martírio nas crónicas do
universo, e buscam as suas descrições em canções, épicos e poesia, e para a sua
descoberta eles buscam a assistência da arte da imaginação e do volume dos
pensamentos!... Longe disso; a resolução deste puzzle não é possível exceto através
do amor!“ Foi com tal lógica que Imam disse: ”Digo-vos, fiéis irmãos, se formos
exterminados da face da terra pelas traidoras mãos dos E.U.A. e da União
Soviética, e com o nosso sangue rubro, encontrarmos o nosso Deus em honra, é de
longe preferível que viver luxuriosamente sob a bandeira vermelha do exército
vermelho do Leste ou do exército negro do Ocidente”.
Imam Khomeini foi um filósofo divino e um místico,
um jurisconsulto, uma autoridade religiosa e ao mesmo tempo o líder da
Revolução Islâmica, e o fundador da República Islâmica do Irão. Ele estava
familiarizado com os princípios da filosofia Ocidental e era também bem versado
nos princípios e argumentos da lógica e na filosofia Islâmica, em ambas, a
peripatética e as aproximações luminosas. Talvez seja seguro afirmar que o
discernimento filosófico do Imam se inclinava de certo modo em direção ao
Iluminacionismo (Eshraqi e Presentatividade) ou de algum modo próximo do estilo
eclético do divino hakim Mullah Sadra4 com algumas diferenças e
distinções: Imam Khomeini ensinou filosofia em altos níveis durante quinze
anos. Ele seguia a filosofia como uma via para o reconhecimento do estádio e do
degrau que permitisse entender as realidades de existência e das criaturas, e
portanto o seu entendimento filosófico em relação à verdade da existência e ao
panteísmo e as suas etapas é profundamente influenciado pela sua escola de
misticismo.
O misticismo de Imam Khomeini é baseado nos versos
corânicos, nos hádices dos grandes da religião e na sabedoria completa dos
profetas, dentro da estrutura da sagrada religião do Islão. Ele opunha-se ao
misticismo negativo, que restringe a fé e a religião a alguns recitais e cantos
e que encorajava a vida em isolamento, evitando responsabilidades sociopolíticas.
O Imam acreditava que conhecer-se a si próprio é a base da teologia e que a
purga em cada um da corrupção ética e dos vícios e a aquisição de excelências
são pré-requisitos para conhecer Deus; e a obtenção da gnose divina e das estações
morais elevadas não é possível exceto no caminho que os grandes profetas e as
“provas” de Deus na terra apreenderam e examinaram. Portanto, Imam Khomeini era
oposto a vias e a ascetismos que se situam fora da estrutura da religião, desprezava
a santimónia, o misticismo hipócrita e as atitudes beatas.
Imam Khomeini acreditava que no folgo arriscado da
grande Jihad ou Jihad-e-Akbar (combater as inclinações do ego), e os modos e as
maneiras de viver, e nas jornadas peripatéticas a caminho das Quatro Jornadas (Asfar-e
Arbaeh), deve-se procurar a assistência dos verdadeiros guias e dos verdadeiros
possuidores de descobertas e de milagres e não dos que simulam tais poderes.
Ainda, deve-se agarrar à grande proteção (velayat-e-uzuma
- o Governo Islâmico) que é a barca salvadora, e tudo que seja de outro modo é mera
divagação. A alma pura de Imam Khomeini, o seu espírito exaltado e a sua
passagem bem-sucedida através das etapas práticas da jornada espiritual são a
melhor prova da retidão da sua viagem. Nesta via ou passagem, Imam Khomeini
alcançou tal estação moral e experimentou uma tal compreensão intuitiva e
alienação em Deus que ele, inclusivamente vis-à-vis reivindicações como as de Hallaj5,
onde se afirmava “Eu sou a Verdade Criativa”, tornava-se empertigado, não
porque os simples de espírito aliados do misticismo tinham excomungado tais
reivindicadores; antes, porque na vastidão da existência, eles testemunharam
coisas que não a Haq (verdade) e reclamaram
auto-asserção - anniyat - e
intercessão. Onde, na visão do Islão, apenas Deus Todo-Poderoso é luz (noor) e todas as outras coisas são escuridão
- e escuridão é ausência de luz e a não-existência não possui ser - a existência
é toda a manifestação de Deus (Haq) e nada que não seja Ele.
Ademais de ser altamente versado em filosofia,
misticismo, exegese, ética e teologia, Imam Khomeini foi um excecional
jurisconsulto com conhecimento total da fiqh6
e dos princípios, que ensinou durante trinta anos ao mais alto nível.
Presentemente, aparte os numerosos livros escritos pelo Imam sobre a fiqh e os princípios, tomos de lições e
de cursos por ele ministrados foram compilados pelos seus estudantes e
encontram-se hoje disponíveis. Das características especiais atribuídas à
escola de fiqh ou de jurisprudência
do Imam, uma é de que ele acreditava que a fiqh
e os princípios gozavam de uma genuinidade especial. Na etapa dedutiva dos
preceitos, ele evitava associar pontos de vista filosóficos, místicos e
teológicos aos decretos de fiqh. Imam
Khomeini considerava a investigação da qualidade da fiqh e dos princípios como um pré-requisito para obter uma visão
dedutiva (ejtehadi), e ele mantinha
que os fatores de tempo e lugar têm um papel determinante no razoamento independente
da lei islâmica (ejtehad) e
ignorá-los resulta numa inabilidade de entender e responder aos assuntos
diários emergentes. Ele, além do mais, acreditava que a busca de ação por via
da fiqh não significa tornar inválido
o processo dedutivo da ejtehad convencional.
Ele portanto enfatizava que as assembleias teológicas deveriam aderir ao fiqh tradicional como uma salvaguarda
das vias e dos métodos dos antepassados competentes na dedução de decretos, e o
desvio de tal via conduziria à heresia, e constituiria perigos enormes. Sua Santidade,
o Imam, queria que as assembleias teológicas reformassem e mudassem dentro
deste estrutura, da qual foi pioneiro. Ao emitir decretos revolucionários, o
Imam abriu a porta a mudar o ângulo de perceção e a sua extensão aos problemas
vitais e essenciais da sociedade e portanto reavivou os capítulos esquecidos da
jurisprudência, e provocou de facto a inevitável intervenção de fatores do
tempo e do espaço.
Imam Khomeini disse: “Nas visões de um grande
jurisconsulto, o governo é a filosofia prática de toda a jurisprudência no
âmbito completo da vida do homem. O governo representa os aspetos práticos da
jurisprudência ao confrontar toda a escala das diferenças sociais, políticas,
militares e culturais. A jurisprudência é a teoria verdadeira e total da gestão
do homem do berço à cova”.
Com base em tal ponto de vista, Imam Khomeini
elaborou a teoria da “Formação do Governo Islâmico com base na tutela do
Jurista durante a Ocultação”, e perseguiu durante anos a sua realização. Apesar
da teoria da tutela do jurisconsulto (velayat-e
faqih), à parte as diferenças de pontos de vista que existiram acerca da
extensão da autoridade do Vali-ye Faqih,
ter gozado do consenso de opiniões dos jurisconsultos xiitas, as suas dimensões,
no entanto, não foram adequadamente exploradas e a sua implementação prática
não foi realizada no passado porque as condições não se encontravam dispostas
para tal. Portanto, Imam Khomeini é a primeira pessoa em séculos que alcançou
estabelecer um movimento religioso com base na liderança de mujtahid, jurisconsultos plenamente
qualificados. Dos pré-requisitos para tal liderança encontram-se:
auto-purificação e preservação, integridade, ingenuidade para a administração
pública, audácia, justiça e perícia em jurisprudência islâmica e nas leis
divinas. Imam costumava dizer: “O governo islâmico é o domínio da lei divina
sobre as pessoas.”
1 [N.T.] Peregrinação anual a
Meca, a mais sagrada das cidades para os muçulmanos, é uma dever que deve ser
levado a cabo por todos os muçulmanos que tenham capacidade para tal e que
possam suster a sua família na sua ausência. A intenção de percorrer o caminho
até Meca aplica-se tanto ao caminho físico percorrido, bem como à intenção interior
de alcançar o Divino. Este é o maior evento anual de fé islâmica, apenas
ultrapassado pela peregrinação á cidade de Karbala, em comemoração do martírio
do neto do Profeta, Al-Ḥusayn ibn
Ali ibn Abi Talib, às mãos de Yazid I.
2 [N.T] Jihad pode tanto ser entendida
no sentido mais exterior, de guerra santa de ação militar e guerreira por via
do combate físico ao infiel com vista a propagar a fé islâmica – al-jihad al-asghar, a Menor Jihad – bem
como na aceção interior de combate interior de cada um às respetivas inclinações
diabólicas com vista ao melhoramento individual tendente ao encontro com Deus –
al-jihad al-akbar, a Grande Jihad.
3 Imam Hussayn, o terceiro Imam
xiita, é o filho de Amir al-Mo’menin (‘a) e de Fatemeh (‘a), filha do santo
Profeta. Nasceu no ano 4 A.H./625 D.C. em Medina. O seu treino inicial foi no
colo do Profeta, nos ensinamentos do seu nobre pai e na sua presença prolongada
nos eventos político-militares dos primeiros dias do Islão, e que melhor
desenvolveram a sua distinta personalidade. Em 61 A.H./680 D.C., Imam Hosseyn,
com um pequeno número de seguidores, levantou-se contra o domínio de Yazid I. A
confrontação com o exército de dez mil homens de Yazid I ocorreu na terra
conhecida como Karbala (no Iraque). Neste épico evento sanguinário, Imam
Hosseyn e os seus homens, que totalizavam setenta e duas unidades, incluindo os
seus filhos, foram martirizados e as suas famílias foram tomadas como cativas
pelo exercido de Yazid I.
4 Sadrol Moteallehin Shirazi,
também conhecido como Mulla Sadra (falecido em 1050 A.H./1640 D.C.), foi o
fundador da hekmat-e motealliyeh (filosofia
transcendental ou Sophia). A frase hekmat-e
motealliyeh foi usada por Boo Ali (Avicenna) no seu livro Esharat mas a
filosofia de Boo Ali não se tornou conhecida por este termo. Sadrol Moteallehin
cunhou formalmente esta filosofia de hekmat-e
motealliyeh e tornou-se conhecida por este termo. O método de Mulla Sadra é
similar à escola do Iluminacionismo, isto é, acredita na mesma argumentação,
intuição e revelação mas difere para com ela fundamental e conclusivamente. Na
escola de Molla Sadra, muitos pontos da filosofia iluminativa e peripatética
foram resolvidos. Também a diferença entre a própria filosofia e o misticismo e
as diferenças entre filosofia e “kalam” foram para sempre resolvidas. A
filosofia de Safrol Moteallehin não é eclética. Antes, é um particular sistema
filosófico na emergência do qual vários métodos Islâmicos de pensamento foram
efetivados; no entanto, deve ser considerado como um sistema de pensamento
independente. Molla Sadra digeriu tudo o que foi legado na área de filosofia
dos antigos gregos, especialmente de Platão e de Aristóteles, e tudo o que foi
explicado por filósofos islâmicos tais como Farabi, Avicenna, Sheykh-e Eshraq,
e/ou pela sua própria iniciativa, foi acrescentado à filosofia, e tudo o que os
grandes místicos, pela sua intuição interior e pelo poder do misticismo
descobriram. Molla Sadra então engendrou desde o início uma nova fundação e
baseou-a em prontos e impregnáveis comandos e princípios. De ponto de vista da
argumentação e da prova, ele deu aos problemas filosóficos – como aqueles da
matemática – uma tal ordenação que eles podem ser derivados e aduzidos uns dos
outros e, fazendo-o tal, resgatou a filosofia dos dispersos modos de raciocínio
e de argumentação.
5 Hossseyn ibn Mansoor, também
conhecido por Hallaj, é um dos místicos do terceiro século A.H. (309 A.H./922 D.C.).
Ele foi detido e preso durante anos por conta das suas crenças, e finalmente o
ulama emitiu um decreto declarando que ele merecia a morte. Sofreu mil
chicotadas, as suas mãos e pés foram decepados, o seu corpo queimado e atirado
ao rio Tibre (em Baghdad). A acusação contra ele levantada, que se manteve nas
mentes, foi a de que, em estado de transe místico, gritou “ANAL-HAQ” (Eu sou a Verdade ou Deus). [N.T.]
6. [N.T.] Fiqh constitui o entendimento
e a aplicação concreto da Lei Sagrada – Sharia
– como revelada no Corão e nos ensinamentos do Profeta. A fiqh é o entendimento humano da Sharia, sendo
portanto mutável e falível, e é interpretada por juristas islâmicos por via de fatwas.
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