Na perceção do Imam, o
governo Islâmico, sem contar com as diferenças substanciais de objetivos e de
ideais de um ponto de vista organizacional, possui também diferenças básicas para
com o sistema político contemporâneo. De acordo com aquele ponto de vista ou
teoria, a “maioria” torna-se legítima com base na “verdade” (haq) e, na
senda desta, a necessidade de realizar velayat
- tutela - depende da presença das suas condições, incluindo a aceitação
pública, a qual é realizada por via da seleção natural direta ou através da
eleição pelos peritos da nação.
Portanto, a ligação entre
o povo, a liderança e o Governo Islâmico é profunda e fiel e, por causa disso,
Imam Khomeini pôde conduzir e instituir um dos mais populares tipos de governo.
Neste tipo de governação, ao contrário dos restantes sistemas políticos
mundiais existentes, o povo, após determinação da liderança e realizando
eleições, não renega a sua responsabilidade, nem é deixado a si próprio. Antes,
a sua presença nos episódios de gestão do Sistema Islâmico é garantida como um
dever religioso incumbente. De acordo com Imam Khomeini, o pilar do governo
Islâmico é o amor e a confiança recíprocos entre o povo e a chefia competente.
Nesta conexão, Imam Khomeini afirmou: “Qualquer jurista que atue
ditatorialmente será expulso da curadoria… O líder e a liderança, nas religiões
divinas, incluindo o Islão, não são em si mesmas algo grande que sirva para
tornar o homem orgulhoso e presunçoso”. Foi tal ponto de vista que fez Imam
Khomeini afirmar: “Chamarem-me servidor é melhor do que me chamarem líder. A
liderança não é o que conta; o que conta é o serviço; o Islão tornou necessário
que sirvamos… Sou um irmão do povo Iraniano e considero-me seu servo e soldado…
No Islão, só uma coisa comanda e tal coisa é a lei. A Lei também imperava
durante o período do honorável Profeta; Ele foi o implementador”. Dirigindo-se
a regimes que se consideravam governantes absolutos e superiores aos seus
povos, Imam Khomeini disse: “Um governo é um pequeno conjunto de pessoas que
serve a nação. Tais governantes não entendem que o governo sirva o povo, que ele
não existe para governar sobre eles… A atenção do povo, a sua participação,
cooperação e supervisão do governo escolhido por eles, são por si próprias uma
enorme garantia de proteção da sociedade”. A diferença entre esta teoria da
soberania nacional e a segurança social e a teoria que define o governo e a soberania
– até nos sistemas políticos mais democráticos – apenas dentro do âmbito do
“poder” e dos seus acessórios, e que portanto considera o poder como o pilar
mais importante da segurança social, é bastante clara. Imam Khomeini afirmou:
“Um grande poder não se consegue manter sem ter uma base nacional”. A
desintegração do aparentemente poderoso sistema Comunista, por um lado, e, por
outro lado, a perpetuação da República Islâmica do Irão e a sua estabilidade,
apesar da animosidade dos maiores poderes mundiais existentes e a imposição de
uma guerra de oito anos de duração, constituem as melhores provas da
legitimidade da teoria de Imam.
É óbvio que a visão de
Imam Khomeini acerca do governo islâmico e a posição que o povo nele ocupa nada
tem a ver com o autoproclamado “nacionalismo” da cultura política mundial.
Antes, é o exato oposto de tal. O nacionalismo, quando aparece como uma
ideologia, aparte a sua inabilidade prática, resulta numa antítese de valor.
Porque tal visão, se as imaginações nacionalistas de cada nação são
introduzidas como factos defensáveis, significa que não existem factos e
valores estáveis e que eles variam e mudam constantemente, de acordo com o
número de nacionalidades, de geografias e de fronteiras políticas que são modificadas
em cada momento. Também o são a interpretação dos factos, dos valores e dos
assuntos como a justiça, a paz e a liberdade, sendo estes também numerosos,
mutáveis e antitéticos. Naturalmente, em tais condições, a nação, que por
qualquer razão possui mais instrumentos e ferramentas de poder, considerará a
imposição do seu domínio sobre as nações mais fracas como seu legítimo direito.
Porque o nacionalismo extremo não é mais do que superioridade de raça, cor,
língua e posição geográfica e histórica. Na base da evidência documental histórica,
Imam Khomeini acreditava que a promoção do “nacionalismo e da etnocracia”, a
instituição de movimentos como os do Pan-arabismo, Pan-turquismo, Pan-iranianismo
e aparentados, no Terceiro Mundo e em países Islâmicos, são o resultado de
estudos e de esforços realizados pelos colonialistas para dividir os respetivos
países, semear a discórdia e impor o seu domínio.
Imam Khomeini costumava
afirmar “O plano dos grandes poderes e dos seus afiliados no Terceiro Mundo é o
de virar estratos muçulmanos uns contra os outros e de dividir os respetivos
crentes, para os quais Deus Todo-Poderoso concedeu o espírito de irmandade, e
de designá-los pelos seus nomes étnicos, i.e., nação Turca, nação Árabe, nação
Curda, etc., e inclusive torná-los inimigos um do outro. Isto é exatamente o
oposto da via Islâmica e contradiz o Sagrado Corão”. Concluindo, Imam Khomeini afirmava:
“O nosso Movimento é Islâmico antes de ser Iraniano”.
Na visão de Imam
Khomeini, o estabelecimento da verdadeira paz no mundo com a presença dos
poderes arrogantes dominantes e enquanto se aceitar a sua existência e dominação,
é senão um pensamento vão. Costumava dizer: “A paz mundial e a sanidade estão
orientadas em direção ao derrube do arrogante e enquanto estes corpos sem
cultura e sedentos de dominação existirem na terra, os dóceis não herdarão o
legado que Deus Todo-Poderoso lhes concedeu…. Esse dia será uma bênção para
nós, no qual a dominação do belicoso sobre a nossa inocente nação e sobre
outras nações oprimidas será quebrada e removida, e então cada nação tomará o
seu destino nas suas próprias mãos…. A América pode derrotar-nos, mas não a
nossa Revolução, e por esta razão estou confiante na nossa vitória. A América
não entende o conceito de martírio!”.
Em relação à natureza do
usurpador governo de Israel e das suas raízes, Imam disse: ”A América, este
terrorista natural, é um governo que pegou fogo a todo o mundo e o seu aliado é
o Sionismo mundial, o qual, para alcançar os seus objetivos gananciosos, executa
crimes que canetas e línguas se envergonham de pronunciar…. Do ponto de vista
do Islão, do ponto de vista muçulmano e de todos os critérios internacionais,
Israel é um agressor e usurpador…. Eu considero o plano para a independência e
reconhecimento de Israel uma catástrofe para os muçulmanos e uma explosão para
os governos Islâmicos”. Após a vitória da Revolução, Imam Khomeini denominou a
última sexta-feira do mês de Ramadão de “Dia de Al-Quds” e pediu a todos os
muçulmanos do mundo que realizem demonstrações anuais nesse dia enquanto
Al-Quds permanecer nas mãos dos inimigos do Islão, e que portanto demonstrem o
seu apoio aos combatentes palestinianos.
Na opinião de Imam
Khomeini, o único modo de libertar Al-Quds é o de acreditar em Deus e de abraçar
a escola do martírio e da cruzada armada até à completa alienação de Israel.
Em relação ao Comunismo,
Imam Khomeini afirmou: ”Desde o primeiro dia do seu surgimento, os líderes
comunistas têm sido e são os mais ditatoriais, sedentos de poder e monopolísticos
líderes do mundo”. No que respeita ao progresso do mundo Ocidental, ele
afirmou: “Aceitamos o seu progresso mas não a sua corrupção da qual eles
próprios se queixam…. A educação ocidental removeu a espécie humana do seu
humanismo…. Não nos opomos à civilização, opomo-nos à civilização exportada,
queremos uma civilização baseada na honra e no humanismo.”
Sua Santidade, Imam
Khomeini, enfatizou o papel infraestrutural da cultura e frequentemente dizia:
“A cultura é a origem de toda a felicidade ou miséria…. O que constrói as
nações é a cultura saudável…. A barriga, o pão e a água não são critério, a
principal questão é a da honra humana…. O homem não é humano e não pode
alcançar os seus fins humanísticos enquanto procurar continuar a viver na
sombra de metralhadoras, canhões e tanques… Deves tentar, pelas tuas palavras e
canetas, arrumar as metralhadoras e abrir a arena por via das letras,
conhecimentos e ciências”. Imam Khomeini negava e considerava sem valor as
artes que estão ao serviço do colonialismo. Ele também negava a ‘arte pela arte’.
Ele costumava afirmar: “No misticismo islâmico, a arte é a descrição clara da
justiça, da honra e da equidade. Deve refletir a aflição do povo esfomeado,
anatemizado pelo poder e pela riqueza”.
Na área da educação Imam
Khomeini foi tanto um teórico como um especialista prático. Pelos seus métodos
educativos, ele foi capaz de estabelecer, como pioneiro do grande movimento
religioso, uma comunidade cujas culturas e valores tinham, até então, sido
esmagados pela traição da dinastia Pahlavi e dos seus afiliados e que se tinham
inclinado em direção à indiferença. É dito que durante o ‘levantamento de 15
Khordad de 1342 A.H./1963 D.C.’1, nessas dolorosas condições de
estrangulamento social, os seus amigos perguntaram a Imam: contra aquela força
quereria ele levantara-se e afirmar o primado da Justiça? Imam apontou para o
berço de um bebé. Estranhamento, quinze anos mais tarde, a juventude muçulmana
iraniana foi dos principais atores nas arenas do levantamento.
Imam Khomeini considerava
que o autoconhecimento e a purga regular de todas as impuridades diabólicas e
egotísticas ao longo do curso da vida de cada um constituíam um pré-requisito
para obter a verdade e a perfeição (kamal-e
haqiqi), e ele acreditava que o
auxílio ou a educação devem começar desde a infância e mesmo durante a própria
vida fetal, e portanto ele afirma: “Nenhuma ocupação é mais honorável que a da
maternidade…. A primeira escola de uma criança é o colo da sua mãe”.
Dirigindo-se à comunidade de professores, Imam Khomeini disse: “Tomem cuidado,
o ensino da escola elementar é mais importante que a universidade, porque o
desenvolvimento mental tem lugar na infância…. Os professores são os depositários
que, para além de outras coisas, têm seres humanos confiados ao seu cuidado….
Todas as prosperidades e misérias encontram as suas raízes na escola e os
professores possuem as chaves”. Imam Khomeini tinha em conta o ensino como a
profissão dos profetas e considerava a orientação da comunidade em direção a
Alá como a mais importante ocupação dos professores, aparte do ensino formal
das ciências.
Imam Khomeini considerava
a humanidade o sumo ou a essência de todos os seres no universo. Ele disse: “O
homem é uma maravilha que tanto se pode tornar numa criatura divina ou
diabólica…. Pelo treino e educação adequados o mundo inteiro reforma-se”. Ele considerava
a educação e a expurgação como tendo prioridade sobre a instrução de sala de
aula. Ele acreditava que a ciência, com toda a sua posição exaltada, se não
acompanhada por expurgação, é um instrumento ao serviço de objetivos
diabólicos; como ele disse “O conhecimento numa mente perversa é mais nocivo
que a ignorância!”
Uma das maiores
consequências do movimento de Imam Khomeini foi a reintegração do papel da
mulher no âmbito das atividades sociais. Arriscamos dizer que em nenhuma altura
da história do Irão a mulher ganhou tanta consciencialização geral e política
como nessa época, nem nunca estiveram mais envolvidas nos seus próprios
destinos como hoje. Durante os dias finais da Revolução, as mulheres estiveram
presentes ombro a ombro com os homens e por vezes, inclusive, à frente dos
homens, em todos os cenários. Durante a guerra imposta2, o papel da
mulher iraniana em prover mantimentos para as frentes de guerra, o seu
encorajamento aos respetivos maridos e irmãos para participarem na defesa do
Islão e da Revolução, incluindo a sua própria participação no fornecimento de
mantimentos para as frentes de combate, foi algo sem precedentes nas guerras
contemporâneas.
Neste momento, as mulheres
estão bem ativas, com os homens, em todas as atividades sociais, na educação,
nas universidades e também nas organizações de saúde, bem como nos órgãos de
governo, etc., etc., enquanto antes do triunfo da Revolução Islâmica, devido à atmosfera
desfavorável e poluída que o regime do Xá tinha desenvolvido, a maior parte das
mulheres islâmicas iranianas tinham-se necessariamente refugiado na atmosfera
das quatro paredes de suas casas e muitas raparigas, especialmente nas áreas
provinciais e rurais, estavam privadas de educação. Aquelas que, nas grandes
cidades, podiam participar em atividades sociais defendiam a sua honra e virtude
em condições por demais complicadas, sentindo-se muitas impelidas a desistir da
educação ou das suas profissões.
As mudanças que ocorram
na sociedade iraniana feminina têm sido, mais do que qualquer outra coisa, um
resultado da consideração de Imam Khomeini pela personalidade da mulher e da
sua estação, bem como da sua defesa dos seus direitos. Imam costumava dizer:
“Na ordem Islâmica as mulheres gozam dos mesmos direitos que os homens possuem:
o direito a estudar, a trabalhar; o direito de propriedade, de votar e de ser
votada…. Do ponto de vista dos direitos humanos, não existe diferença entre
homens e mulheres, pois ambos são seres humanos e as mulheres são admitidas nos
assuntos que afetam os seus destinos como os homens…. Ao que o Islão se opõe e considera
proibido é a corrupção e o vício, seja da parte das mulheres ou da parte dos homens….
Queremos mulheres que se ergam na sua imponente estação humana e que não sejam
brinquedos… O Islão não quer mulheres que sejam joguetes ou bonecas nas mãos
dos homens. O Islão deseja proteger a personalidade das mulheres e
desenvolvê-las em seres humanos sérios e capazes…. As mulheres são livres, como
os homens, de escolherem os seus próprios destinos e atividades…. A liberdade
na sua forma ocidental que corrompe raparigas e rapazes é condenada pelo Islão
e pela sabedoria”.
As posições e as
recomendações económicas de Imam Khomeini foram baseadas na justiça e em dar
prioridade aos direitos dos membros da comunidade desamparados e oprimidos. Ele
exortava ao serviço dos desamparados como a maior oração e referia-se a eles
como os benfeitores da sociedade e dele próprio. A maior parte das
recomendações de Imam Khomeini aos agentes da ordem Islâmica era sobre os
cuidados para com os indigentes e o de evitar o desenvolvimento de condutas
palacianas. Ele acreditava que o governo e os seus empregados e gestores são
serventes do povo e um servente não tem o direito de exigir para si próprio
melhores circunstâncias que as do público. O Imam afirmou: “Um fio de cabelo dos
despossessos e daqueles que deram mártires é muito superior, em honra, a todos
os palácios e respetivos hóspedes do mundo…. Aqueles que estão connosco até ao
fim da linha são aqueles que experimentaram a dor, a privação e a opressão…. No
dia em que o governo se tornar focado no palácio, esse será o dia em que teremos
que tocar o dobre de finados do governo e da nação.”
Uma das mais
extraordinárias características de Imam Khomeini é a de que todas as suas
palavras eram baseadas na crença e na verdade e que, antes dos outros,
praticava o que ensinava. O estilo de vida de Imam era o perfeito exemplo de
ascetismo, contentamento e simplicidade e este estilo não se confinava ao
período pré-liderança. Mais, ele acreditava que o estilo de vida de um líder
deve estar ao nível ou ainda mais abaixo que o do mais inferior estrato populacional.
Ele esteve ligado ao estilo ascético de existência toda a sua vida. Apesar de
volumosos tomos terem sido escritos e publicados acerca deste aspeto da vida de
Imam, as dimensões do seu apego ao ascetismo e à vida simples ainda se encontram,
em larga medida, inexploradas.
Para fazer uma ideia do
estilo de vida de Imam e da sua crença no cuidado extremo com que se deve gastar
o Bayt al-mal (Casa do Dinheiro)
3, é o suficiente notar que foi de acordo com o seu ênfase no artigo 142
da Constituição da República Islâmica que o Supremo Tribunal é obrigado a
investigar os bens do líder e dos restantes elementos do escalão superior da
Ordem Islâmica, anterior e posteriormente à respetiva incumbência ou
designação, para garantir que nenhuns aumentos ilegais tenham sido realizados. Imam
Khomeini foi a primeira pessoa a submeter uma lista dos seus parcos ativos à
consideração do Supremo Tribunal (24/10/1359; 14 de Janeiro de 1979).
Imediatamente após a Ascensão de Imam, o seu filho, numa carta impressa nos jornais,
pediu ao poder judiciário para investigar de novo os bens de Imam de acordo com
a Lei Constitucional. O resultado da investigação foi publicado na consequente
homologação pelo Supremo Tribunal, datada de 11/4/1368 (2 de Julho de 1989).
Esta declaração revelou que, durante o respetivo lapso de tempo, não apenas
nada tinha sido acrescentado ao património de Imam, mas pelo contrário um lote
de propriedade que foi herdado de Seu pai foi doado, durante a sua vida e por
sua ordem, à indigente população local.
O único ativo imobiliário
de Imam Khomeini é a sua antiga casa de Qom, a qual, desde a sua partida em 1343
(1964), foi e, na verdade, tem sido dedicada aos objetivos do Movimento e usada
como um centro para reuniões por estudantes-clérigos e visitantes e portanto
não possui a natureza de propriedade privada. A dita lista de ativos, que foi
preparada em 1359 (1979) na altura da Ascensão de Imam, depois do devido
controlo legal, não revelou qualquer adição mas sim redução. Foi mencionado que
o falecido não possuía ativos pessoais à exceção de alguns livros. Os poucos
utensílios rudimentares necessários para uma vida simples que se encontravam na
casa pertenciam à sua mulher. Os dois tapetes em segunda mão não constituíam
propriedade pessoal e deveriam ser legados aos Sadat4 (plural de Seyyed,
a progenitura do Profeta do Islão) necessitados.
O dinheiro líquido era nulo; se alguma coisa existisse, eram as esmolas
religiosas provenientes do público que foram deixadas à Autoritária Religiosa
para gastos religiosos, não podendo os herdeiros tocar tais fundos. Os
restantes ativos de um homem que tinha passado quase 90 anos de vida sob extrema
popularidade incluíam uns óculos, um corta unhas, rosários, o Corão, um tapete
de oração, um turbante, vestimentas de clérigo e alguns livros religiosos.
Esta era a lista de todos
os ativos de um homem que não apenas foi o líder de um país rico em petróleo
com dezenas de milhões de habitantes, mas que também comandava os corações de
muitos mais milhões, pessoas que, quando Imam emitiu a ordem de mobilização, se
alistaram como candidatos a martírio. Estas foram as pessoas que, ao escutaram
da doença de coração de Imam, se alinharam nas entradas dos hospitais prontos
para oferecer-Lhe o seu. O segredo de tanta popularidade apenas pode ser encontrado
na Sua fé, ascetismo e veracidade.
Imam Khomeini favorecia
ou, ainda melhor, acreditava profundamente na programação e na disciplina na
vida. Ele costumava passar diariamente horas específicas da noite e do dia em
oração e em devoção, em rezas e em recitações do Sagrado Corão. Caminhar
enquanto invocava Deus e pensava era outra das atividades do seu programa
diário. Aos noventa anos de idade ele era um dos líderes políticos mundiais
mais ativos. Ele não se abstinha do êxtase do serviço do caminho de exaltação da
comunidade Islâmica e de resolver os seus problemas, até nas mais inclementes
circunstâncias. Em adição à leitura das principais notícias, dos relatórios de
imprensa oficiais e de volumes de boletins, de escutar as notícias na rádio e
na televisão locais, Imam Khomeini escutava, várias vezes ao dia, a análise das
notícias de rádios estrangeiras de língua persa para que se pudesse familiarizar
com o processo de propaganda dos inimigos da Revolução e de planear modos de a
combater. As atividades diárias urgentes e as frequentes reuniões com
autoridades da Ordem Islâmica não podiam impedir Imam de ter contato com a
população, que ele cunhava como o bem mais essencial do Movimento Islâmico. Os detalhes
de mais de 3700 encontros com cidadãos comuns nos anos após o triunfo da
Revolução estão gravados em dois volumes do livro “Mahzar-eNoor”. Isto com a intenção de
indicar o profundo interesse e a relação de Imam com a população do seu tempo.
Imam nunca tomou uma decisão que afetasse o destino do povo sem que ele
primeiro, fielmente, a discutisse com a população. Ele considerava o povo como
o mais digno de confiança, por conhecer os fatos. Imam Khomeini possuía uma
face doce e determinada. O seu olhar era solenemente atrativo e repleto de
espiritualidade. Qualquer multidão, perante ele, involuntariamente se sentia
atraída pela sua espiritualidade e muitos inconscientemente vertiam lágrimas. O
povo do Irão tinha um direito de, nas várias palavras de ordem e slogans, rezar a Deus para levar as suas
vidas e acrescentar, em vez, mais um momento à de Imam Khomeini. O mundo,
alienado de espiritualidade, poderá não crer em tal mas aqueles que cresceram
com Imam apreciaram cada momento da vida deste ser adorável, cuja inteira
existência foi devotada a Deus e ao serviço do povo.
Não obstante, o Mundo
Arrogante e a mass media ocidental
fizerem uma grande injustiça a Imam e, ainda mais, à humanidade. Durante anos a
sua disseminada propaganda teve como alvo aviltar a personagem de Imam e a
Revolução Islâmica. Mesmo hoje, vários anos após a sua Ascensão, numerosas estações
de rádio e de televisão estão dia e noite, em volume crescendo, a emitir em
pársi mensagens depreciativas para com Imam, a Revolução e os respetivos ideais.
A América e a maior parte dos países europeus disponibilizam extensas infraestruturas
a grupos antirrevolucionários, incluindo pró-monarquia, a esquerdistas e a Mujahedins5.
Cada ano dezenas de livros e centenas de artigos e de periódicos são publicados
com a intenção de distorcer os fatos do Movimento de Imam Khomeini. Mas o sol
da verdade irá rasgar as negras nuvens de tumulto e de fraude. O mundo
ocidental, cuja existência tem sido baseada, desde há vários séculos, na
dominação e na exploração de outras nações e na fraude da opinião pública, diagnosticou
o cancro incorretamente6. Que pessoa de vistas largas existe que, ao
tornar-se familiarizada com a vida e com as mensagens despertadoras de Imam
Khomeini, não se atraia pelo seu caminho? E mais, que não se levante contra
esta ordem cruel que domina o mundo?
Na verdade, porque é que a
publicação, a distribuição e o estudo da Última Mensagem (Testamento) de Imam
Khomeini proibida na maior parte dos países islâmicos e árabes cujos governos
são regimes fantoches? Porque é tal considerado um crime? Tão extensiva
mobilização de infraestruturas e a aliança, de chefes de estado, para encobrir
o pensamento e o movimento de Imam Khomeini; do que se trata tudo isso? Será
não outra coisa que o facto de que Imam defendia algumas verdades e valores por
falta dos quais a humanidade tem ardido desde há séculos? Para aqueles que
estão familiarizados com a vida imaculado de Imam Khomeini, que escutaram a sua
mensagem e que conheciam a sua personalidade, não há dúvida que a tocha que
Imam alumiou não poderá perecer, nem ser distorcida por entre todas estas
ladainhas hostis e ruinosas tempestades de distorções. “Pretendem extinguir a Luz de Deus com as suas (infames) bocas; porém,
Deus completará a (revelação de) Sua Luz, embora isso desgoste os incrédulos.”
(Sagrado Corão, Surá 61 ‘As Fileiras’, versículo 8).
1 [N.T.] Khrodad é o
mês persa que em 1963 corresponde ao mês de Junho, durante o qual ocorreu o
massacre de manifestantes afetos ao Imam Khomeini. Durante esse ano, o Xá Pálavi
anunciou e implementou medidas tendentes à reforma económica do Irão e uma
abertura do País ao investimento estrangeiro. Tais medidas foram fortemente
contestadas por Imam Khomeini, que galvanizou a cúpula religiosa xiita na
oposição à denominada ‘Revolução Branca’, que tanto submetia o país aos
interesses geopolíticos dos E.U.A e de Israel, como atentava à influência do
Islão no mesmo. A 3 de Junho de 1963, no feriado sagrado de Ashura, Imam
Khomeini denunciou nos mais fortes termos o Xá e comparou o seu regime ao do
Califado Omíada, cujo soberano Yazid I derrotou o filho do Profeta em Karbala.
Tal discurso recebeu esmagador apoio popular, tendo nesse mesmo dia cerca de
cem mil apoiantes do Imam marchado à porta do palácio real em Teerão, entoando
cânticos de ‘Morte ao Xá’. Na madrugada do dia 5 de Junho, forças paramilitares,
sob ordens do regime, detém o Imam em Qom – cidade sagrada onde este proferiu o
seu discurso – e tropas militares prendem manifestantes nas várias cidades onde
a contestação ao Xá e o apoio ao Imam se tinham alastrado, alguns deles já
marchando em direção Teerão sob o slogan
‘Khomeini ou a morte’. Os milhares de vítimas mortais por ocasião da brutal
repressão das forças policiais e militares afetas ao então regime são
relembradas anualmente neste dia, dando o mesmo o nome a uma das principais
ruas do centro de Teerão, situada junto do Palácio do Golestão, residência do
Xá na capital e local da sua coroação.
2 [N.T.] O autor refere-se à Guerra Irão-Iraque
ocorrida entre 1980 e 1988.
3 [N.T.] Termo arábico
que se refere á instituição financeira pública, cujos antecedentes datam do
Antigo Califado, cujo propósito é o de administrar os impostos.
4 [N.T.] Título
honorífico (Saíde em português) que designa as pessoas aceites como descendentes
do Profeta por via dos seus netos Hasan ibn Ali e Husayn ibn
Ali, filhos de Fátima, filha de Maomé, e do seu genro Ali ibn Abi
Talib, o primeiro Imam xiita e . Não havendo estatísticas fiáveis, estima-se o
número de Saídes em dezenas de milhões.
5 [N.T.] O autor refere-se à Organização dos Mujahedins do
Povo Iraniano, conhecida internacionalmente por abreviaturas diversas - EK, PMOI ou MKO.
Tendo sido criada por muçulmanos em 1965 com vista ao derrube do Xá do Irão, foi
ainda antes da Revolução Islâmica tomada por membros de tendências marxistas. Com
a Revolução e após divergências políticas com o braço político do novo
Ayatollah, que resultaram em vários ataques bombistas, o grupo passou ao
exílio, considerando-se ainda hoje o legítimo governo do país, sendo apoiado
por vários governos ocidentais, incluindo os E.U.A. Nas suas fileiras conta com
cerca de 5000 elementos, estando a liderança e operacionais espalhados principalmente
pela França, Iraque e E.U.A..
6 [N.T.] A tradução em
inglês contém a palavra ‘correctly’ (corretamente), que assumimos ser uma
gralha dado o sentido da frase.
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