Monday, November 6, 2017

A Mulher e o Sexo na Modernidade







Men and women will live together merely because of superficial attraction, and success in business will depend on deceit. Womanliness and manliness will be judged according to one’s expertise in sex, and a man will be known as a brahmana just by his wearing a thread.

Srimad Bhagavatam 12.2.3


                                                      --------------------------------------



Acerca dos mais recentes casos mediáticos de abuso e violência sexuais contra mulheres que vieram à baila na comunicação social, cabe-nos deixar algumas reflexões que nos parecem oportunas sobre as peculiaridades que apresentam.

Primeiro, porque tais abusos, ao contrário do que é comummente transmitido e expectável, ocorreram dentro dos meios mais progressivos e liberais da sociedade ocidental, e não no seio das estruturas ditas patriarcais. Segundo, revelam que sob um sistema igualitário e de libertação sexual jaz uma superestrutura de poder – para utilizar uma terminologia marxista – na qual a ascensão das mulheres se baseia em muitos casos em favores sexuais, como tem sido abundantemente reportado, cuja sistematicidade não pode ser considera um acaso.

Por detrás de todos as proclamações idealísticas, cabe-nos levantar o véu sobre o real papel da mulher e do sexo na sociedade moderna e tentar entrever, no contexto da progressiva luta pela igualdade de género, quais serão as próximas etapas deste processo.

A emancipação feminina, que hoje é considerada por todos como fenómeno salutar e de inegáveis benefícios, acelerou-se definitivamente no decorrer do século XX. Contra o paradigma tradicional que então subsistia, no qual à mulher cabiam essencialmente as funções de mãe e amante, todo o século XX assistiu ao aparecimento de um novo conjunto de fatores que possibilitaram a realização materialmente da igualdade de género na sociedade, que mais não fez do que estender a democracia política já consignada nas principais constituições modernas ao domínio familiar, especialmente a partir do final da segunda guerra mundial.

Na União Soviética, esta igualdade foi promovida por decretos governamentais de cariz totalitário em que a família foi abolida e os sexos se dissolveram na noção proletário do “camarada”; nos EUA e na Europa tal aconteceu por realizações políticas graduais, numa ótica de progressismo, que em alguns casos promoveu a igualdade por via legislativa e que noutros se limitou a reconhecer uma igualdade que já existia por via de mudanças socias, culturais e tecnológicas (para dar alguns exemplos, a invenção da pílula do dia seguinte, a industrialização massiva, o surgimento da indústria da moda, as crises financeiras, etc.), e que possibilitou à mulher adquirir uma igualdade económica, social e política que, mesmo que muitas vezes só o fosse em termos formais, representou um notável contraste com a anterior realidade ocidental.

Como consequência desta emancipação, a mulher teve progressivamente que se adaptar a uma nova realidade onde passou a competir de igual para igual com o homem. Em lugar de ter como inspiração aquilo que correspondia à sua natureza fisiológica e psíquica, na sua nova liberdade ela só tinha a que se agarrar, na sua “necessidade” de libertação, ao outro modelo que na sua ótica já era livre - o homem. Sem outra referência existente, porque de facto não existe outra alternativa, ela só podia aspirar a ser um homem: a vestir-se como ele, a adotar os seus modos de comportamento, os seus hábitos e as suas profissões. Ao não poder imitar o homem senão nos seus aspetos mais exteriores e ao copiar-lhe os modos, tornou-se um homem menor, um homem incapacitado, uma caricatura do mesmo, ao mesmo tempo que ia perdendo e esquecendo aquilo que lhe conferia a sua inerente dignidade e personalidade.

Pior, num ambiente geral de desagregação e decomposição em que os homens verdadeiros escasseavam – quando já não tinham mesmo desaparecido dos lugares de proeminência nas sociedades moderna - e não podiam ou sabiam mais exercer uma soberania aristocrática e verdadeiramente masculina, a mulher imitou então o único exemplo de masculinidade disponível, o homem vulgar; ou melhor, numa sociedade-massa, sem verdadeiras classes aristocráticas de valor ou de sangue, a mulher, quando ainda não proletária, também se proletarizou, rebaixou-se ao único modelo existente que tinha disponível - o homem-massa.

A partir desta nova mundivisão, a chamada “libertação sexual da mulher” correspondeu o passo seguinte, coadjuvada por fenómenos vários que a tornaram hoje numa realidade de facto. Destes fenómenos mencionaremos aqui, de passagem, a pílula do dia seguinte, o surgimento da indústria da moda (instituição de engenharia social a cuja pouca atenção é dada), a infiltração de instituições universitárias e culturais por elementos marxistas, a proliferação do consumo de drogas e a divulgação para o grande público de música hedonista de tendências individualistas e hipnóticas, como são o jazz, o rock e o rap.

Neste ambiente que promove a explosão dos sentidos, em que as instituições tradicionais eram vistas como sintomas da opressão masculina, a atividade sexual da mulher privatizou-se e ela passou a ser dela a única custodiante. Mais, nesta sua rebelião, ela via no exercício desta atividade, mais que um ato de prazer, uma afirmação da sua nova liberdade e um modo de confirmação de que se encontrava no mesmo patamar que o homem. O homem de então, na maior parte dos casos totalmente aburguesado ou proletarizado, aproveitou-se, quando não muitas vezes encorajou, esta rebelião, da qual usufruía tanto física como ideologicamente, já que tal ia de encontro às doutrinas ideológicas vigentes que, no fundo, apenas tinham em vista a satisfação dos seus prazeres mais vulgares.

Consequência disto foi o rebaixar a atividade sexual a algo sem valor intrínseco ao ato próprio, a não mais que uma atividade que, como todas numa sociedade materialista e hedonista, se preocupa com a felicidade instantânea dos seus praticantes, a busca de poder e de outras vantagens materiais.

E se em alguns setores da sociedade, a prática sexual ainda é realizada recatadamente dentro de um contexto próprio, tal corresponde a mero formalismo, muitas vezes mais por pruridos e falsos moralismos da antiga nobreza, que já não compreende a sua verdadeira vocação, ou do falso puritanismo da burguesia que se preocupa sobretudo em manter as aparências.

Como já notamos, nesta sociedade igualitária a mulher, apesar de almejar comparar-se ao homem nos seus sinais externos, não possui, nem nunca possuirá as características deste, sejam as físicas, espirituais ou psíquicas, seja igualmente um tipo de pensamento racional que é dele característico. Não possuindo tal, e tendo perdido contacto com a verdadeira feminidade que era a sua herança natural e divina, tem de recorrer ao que possui de feminino no sentido mais baixo e profano do termo – o seu sexo - e, portanto, vai buscar ao seu sensualismo e apelo feminino os instrumentos para poder competir com o homem nos diversos setores onde tem de lutar para conquistar o seu espaço, trabalho e salário, já que tais são os únicos meios de distinção que possui. Não é por acaso que, ao mesmo tempo que ela se equiparava ao homem, ela hipersexualizou-se, realçou os seus traços femininos, para assim maximizar o seu poder sexual.

Não é de estranhar que a mulher moderna perca grande parte do seu dia a preparar-se para sair de casa, pois sabe que tal lhe permitirá reter a atenção de homens estranhos, pois é aí que poderá beneficiar em termos sociais, profissionais, sexuais e, não menos, alimentar o seu narcisismo vácuo, que já não mais é posto em xeque. Para fazer o contraste, repare-se no abismo de diferença que existe com a antiga mulher europeia - ou a ainda tradicional hindu ou muçulmana - que, no exterior, se resguardava o mais que podia dos olhares de homens estranhos e reservava todo o sensualismo para o seu marido dentro de casa. A mulher ocidental de hoje deleita-se no exibicionismo para estranhos e amiúde, dentro de casa, veste-se de pijama ou fato de treino, pois já não tem tempo, disposição ou energia para aí exercer sensualismo e cumprir-se. De facto, esta, ao desnudar-se cada vez mais na rua e no escritório, com as suas maquilhagens, com as suas pinturas, com os seus trajes menores, assemelha-se muito mais a uma prostituta que vende o seu corpo a um preço, atiçando os seus potenciais clientes, do que à mulher dona de casa de ainda recentemente.

Isto acaba por ter efeitos perversos para as próprias mulheres, que nesta competição selvática para exibir mais e mais sensualismo, tornam-se escravas do seu corpo e da sua aparência, acorrentadas que estão a manter a sua jovialidade e boa-aparência até cada vez mais tarde, mesmo depois do ponto em que estas já não são os mesmas – daí a recorrerem a métodos artificiais de beleza vai um passo – e aí estão as indústrias de maquilhagem, implantes e botox prontas a fornecerem os seus serviços. E se os limites da sexualização ultrapassam cada vez mais os limites superiores da idade, vão igualmente superando os inferiores, e é ver a crescente sexualização de raparigas e meninas a ganhar terreno, estando estas cada vez mais precocemente conscientes do poder da sua sexualidade e inclusivamente já a utilizá-la.

Não é também por acaso que a emancipação feminina é precursora da indústria pornográfica, das agências de modelos, da sexualização de todos os aspetos da vida humana, para não falar no submundo das indústrias de prostituição, tráfico humano e pedofilia, que exploram a ânsia tresloucada por aquilo que permeia a sociedade atual, e ao qual recorrem mulheres que, no fundo, sabendo da sua disfunção natural para vingar numa sociedade em que terão de competir de igual para igual com o homem, usam o sexo diretamente para garantir o seu sustento, sem as veleidades de manter as aparências e sem as táticas dissimuladas utilizadas pelas outras mulheres do mundo civil.

Ao contrário das práticas descaradas nas indústrias acima mencionadas, nos outros campos da sociedade o uso do sexo é mais dissimulado e está velado por táticas de sedução e exploração da fraqueza do homem relativamente ao mesmo; nele a consumação do próprio ato sexual é apenas uma modalidade do jogo. E tal acontecerá especialmente em indústrias – como a cinematográfica, a televisiva e a de moda, por exemplo – que mais apelo fazem ao sexo e que mais conscientemente empregam mulheres com esse intuito, o qual é aproveitado tanto pelos homens como pelas mulheres mais ambiciosas dessas áreas.

Em posições de poder nestas indústrias – como noutras, mesmo que em menor grau, já que os processos de poder na sociedade moderna são transversais e podem-se aplicar do mesmo modo à política, à economia, sociedade, etc. – encontraremos os homens e as mulheres menos escrupulosos e que estão mais sedentos de poder e de acesso às vantagens materiais dessas posições, que incluem sobretudo riqueza e sexo. É nestes sistemas de prostituição legal que encontramos então mais casos de homens que se julgam no direito de obter este tipo de favores do sexo feminino, já que tal é a expetativa e, no fundo, a razão por que acederam a tais patamares de poder. Quando tal não acontece, as repercussões serão graves para a parte que não cumprir com o esperado, podendo tais consequências passar por entraves à progressão profissional até mazelas físicas, nos casos mais extremos.

E sendo a sociedade ocidental tão pronta a criticar antigas instituições tradicionais como o concubinato e a poligamia, só por muito hipocrisia não se nota que as mesmas subsistem hoje - sob outros véus, claro está - em que homens mais ou menos abastados mantêm sob seu sustento um círculo de amantes, das quais se desfazem assim que são descobertos ou a partir do momento em que estas já não satisfazem o seus apetites, o que é exatamente o oposto do tipo de realização e das obrigações que antigamente oneravam o homem polígamo ou o que mantinha uma harém.

O homem moderno, que já não faz a mínima ideia do que é a verdadeira masculinidade, emasculou-se por sua vez e portanto, sempre sem o saber, encontra-se sob o domínio do signo feminino. Ao contrário dos antigos exemplos tradicionais de masculinidade – dos quais o cavaleiro e o asceta eram os expoentes máximos – que se afirmavam por si próprios e nos quais os traços de caráter, nobreza, verticalidade e controlo sobre si mesmo imperavam, é ver os seus herdeiros a usarem tácitas sensualistas de caráter feminino para conquistar a fêmea, que se baseiam sobretudo em aspetos exteriores de atenção. Ele tem na maior parte dos casos que exibir as suas riquezas (como antigamente os pais da noiva providenciavam o dote para atrair o futuro marido) ou recorrer a truques e esquemas engenhosos para tentar convencer a fêmea a escolhe-lho como parceiro. Se dúvidas houvesse atente-se no surgimento do fenómeno da “moda” masculina a que cada vez mais homens aderem, que se cobrem de forma cada vez mais efeminada - e que inclusive se estende também aos cuidados com o cabelo e a pele - com vista a atrair os elementos do sexo oposto; ou entre-se em qualquer discoteca ou clube noturno para observar a maioria dos jovens, quase sempre embriagados, a dançarem freneticamente em movimentos sensualistas para tentarem captar a atenção de uma potencial parceira – qualquer seja ela, na maior parte dos casos.

É óbvio que nesta sociedade feminina, ao contrário do que muitas vezes se julga, são as mulheres que detém o poder sexual e, quase sempre, dominam os homens. Estes servem-nas e tentam satisfazer os seus prazeres mais narcisistas para conquistarem e manterem a sua atenção e, assim, elas lhe darem o que ele ambiciona. O que é perverso é que a própria mulher, mesmo numa sociedade de caráter feminino, em que politicamente e legalmente se encontra equiparada ao homem, não tem mais segurança e proteção do que na antiga sociedade tradicional, pois a sua feminidade é agora usada como mercadoria, moeda de troca, encontra-se profanada ao altar do materialismo, e, portanto, perde todo o seu real poder e não mais é refúgio e razão de ser para ela, que assim se vê, dada a sua natureza dependente, totalmente usada e sozinha, mesmo que esteja numa relação. A mulher é ao mesmo tempo proxeneta e prostituta.

Tal é o atual estado das coisas e, na verdade, um efeito de um sistema artificial que, pela sua perversão, cria estes resultados colaterais, os quais, diga-se, foram alertados por mentes muito mais sábias séculos e até milénios atrás. É para nós claro o caminho a seguir, não só por causa destes efeitos, mas sobretudo porque sabemos da inversão dos atuais valores da humanidade e do processos que levaram a chegar a tal estado de coisas. Infelizmente, é fácil prever qual o caminho que será trilhado: em vez de voltar ao que é são e tradicional em relação ao papel dos sexos na sociedade, vai-se aprofundar o erro em que nos encontramos. Não muito nos enganaremos se previrmos que estas consequências colaterais de um sistema doente serão usados pelas mesmas forças que lhes deram nascimento para fazer avançar ainda mais a agenda da igualdade de género e diminuir por mais meios legislativos, judiciais, culturais e outros - crescentemente violentos – as diferenças no plano material que ainda existam entre o homem e a mulher.

Mais e mais comportamentos masculinos, há pouco tempo ainda vistos como naturais, passarão a ser considerados passadistas e retrógrados, à medida que a sociedade avança para a grande equalização, que só conhecerá um fim com a libertação do homem e da mulher de todos os vestígios de comportamentos remanescentes de qualquer espiritualidade ou ordem superior, até que o homem não mais se diferencie do animal. Não é por acaso que hoje já se assiste abertamente à implantação da nova fase subversiva neste campo, em que os próprios conceitos de género e de orientação sexual são atacados e negados, teorizados que são como meras construções sociais, e que tais designações devem ser deixadas à discrição subjetiva temporária do indivíduo, que já tem à sua disposição um cardápio cada vez maior de géneros e orientações por onde escolher. No fundo, a revolução sexual e a igualdade dos sexos não mais foram do que etapas de uma corrente uniforme que lhes deu nascimento; nunca foram, nem nunca serão, fins em sim mesmos. Esgotados os efeitos para os quais foram criados, descartam-se sem mais em favor dos próximos mitos da ação subversiva mundial, como já o foram, a título de exemplo, o princípio das soberanias nacionais no séc. XVII ou o da liberdade religiosa, mais recentemente.

Que todos aqueles que tenham um desejo de combater os malefícios do atual estado da humanidade tenham olhos para ver e que não sejam tentados a tomar posições reativas, que na maior parte dos casos se limitam a tomar a defesa de uma etapa anterior da subversão, que mais não causa do que fazer o jogo dela e nos torna em meros objetos da história.

Uma palavra para os detratores que nos acusam de nos mover um ódio pela mulher ao escrever estas linhas – acusação comum e deveras interessante, já que assume que só se podem tomar posições por ódio, o que diz muito de quem as avança – aos quais diremos que, por muito chocantes que possam parecer para a mente moderna, estas linhas constatam apenas uma realidade de facto que, inclusive, foi prevista pelos grandes textos sagrados de todo o mundo e também ecoada pela opinião generalizada de toda a humanidade até a um período muito recente. Mais, se há censura a fazer, ela deverá ser dirigida fundamentalmente ao próprio homem e não à mulher, já que foi este que, enquanto detentor das chaves da civilização e do divino, permitiu, por inação e covardia, que se chegasse a tal estado de coisas, o qual é infinitamente mais violento para a mulher e para a sua honorabilidade.


Quanto aos homens que acreditam na Tradição, na Honra e na Verdade, esses serão os últimos a atacar a mulher atual pelas suas ações, já que sabemos melhor e, no fundo, envergonhamo-nos pelo modo como deixamos que se criasse uma sociedade como esta na qual as nossas Avós, Mães e Filhas tiveram a infelicidade de viver. 

No comments:

Post a Comment

Wakinyan-Tanka - O Simbolismo da Águia Entre os Peles Vermelhas

Com a devida vénia, deixamos traduzido o ensaio de António Medrano, originalmente publicado na já defunta publicação tradicionalista ...