É o nosso
prazer deixar aos leitores a continuação da tradução para português do capítulo
XII do livro de Werner Sombart, 'Os Judeus e a Economia Moderna', da qual
abaixo encontrará a segunda secção, ‘Uma Tentativa de Solução’.
Nesta seção, o autor debruça-se
mais a fundo sobre a psique judaica e dá-nos uma perspetiva mais detalhada das
suas características, estados de alma e as respetivas atitudes do judeu perante
a vida e o ambiente que o rodeia, abrindo-nos já o véu no final sobre a
conveniência das mesmas para ofícios da economia moderna.
Como já
referi noutros entradas deste blogue, considero ser da maior importância a
compreensão da atitude judaica perante a vida por todos aqueles que querem melhor
entender o mundo atual, as suas instituições e, especialmente, a sua
mundividência ou espírito. Não será esta a que todo o europeu tomou como sua,
consciente ou inconscientemente?
Escrevendo o
autor no início do século XX, onde ainda sobrevivia um proeminente patos não
judaico na sociedade europeia, este já não teria a predominância de outras
idades. A economização da sociedade, a preferência pela teorização abstrata e a
perspetiva materialista da vida já tinham ganho terreno e eram mesmo os esteios
pelo quais muitos governantes e a maioria dos cidadãos regiam as suas vidas, se
bem que ainda em quadros legais e religiosos que teoricamente prescreviam
outras conceções. E se tais características podem ser apanágio do povo hebreu,
nas quais estas sempre se encontraram de forma exagerada desde há séculos e
mesmo milénios, tornando-os particularmente aptos para tomar a dianteira no
mundo moderno, não é menos verdade que os povos europeus as foram lentamente incorporando
no seu ser, por processos diversos.
E se passado
mais de um século desde a finalização desta obra relançarmos os olhos pela
sociedade moderna, veremos que dos vestígios de uma ética tradicional propriamente
europeia que ainda subsistia no quotidiano de então, os vestígios da mesma hoje
só podem ser encontrados em livros de história, crónicas da época e em
especulações teóricas.
Para alguns,
tudo isto é prova cabal da influência nefasta dos judeus e justificação para as
pregas, passadas e presentes, sobre eles lançadas, quando não mesmo sinal de um
esforço concertado, oculto, por eles levado acabo para judaizar os povos
europeus e de todo o mundo.
Parece-nos
que tal visão é por demais simplista e ignora outras causas mais profundas e anteriores
e, igualmente, foge a questões inquietantes para os próprios inquisidores. Aqui
deixamos algumas: Fará sentido ainda falar da influência judaica numa sociedade
em que a esmagadora maioria dos seus cidadãos só sabe interagir com o mundo e
com o universo por via abstrata e psicológica, incluindo pelos próprios antissemitas
modernos? Ainda fará sentido falar de influência judaica numa sociedade em que
os mitos da igualdade e do livre desígnio do homem são a base de todas as
ideologias políticas modernas? Fará ainda sentido falar-se numa influência
judaica que se deve combater quando as principais religiões de massa mundiais advogam
a igualdade de todos perante o Divino e a respetiva submissão perante um Deus Criador
Todo-Poderoso? Antes de incorporar influências judaicas modernas, não foi a
própria Europa e os próprios europeus que já não se reviam nas tradicionais
instituições e formas de governo, deixando de acreditar nos próprios mitos
fundadores? Como explicar outros processos de decadência da ideia europeia,
como a Reforma ou mesmo a Revolução Francesa – também à nefasta cabala
hebraica?
Que se medite
nas perguntas acima colocadas, já que a génese dos problemas atuais da Europa –
e do Mundo – no sentido mais profundo, só lateralmente poderão ser atribuídos
ao povo judeu.
--------------------------
É surpreendente encontrar que, apesar da enormidade
do problema, existe ainda, apesar de tudo, um grande grau de unanimidade em
relação às diferentes opiniões sobre os judeus. Na literatura ainda mais que na
vida comum, observadores imparciais concordam em vários pontos fundamentais.
Leia-se Jellinek ou Fromer, Chamberlain ou Marx, Hein ou Goethe, Leroy-Beaulieu
ou Picciotto – leia-se o devoto ou o Judeu inconformista, o antissemita ou o
filo-semita não-judeu – e tem-se a impressão de que todos eles estão
conscientes das mesmas particularidades. Tal é reconfortante para aquele que se
arremete a descrever o génio judeu. De todos os modos, ele não dirá nada de
diferente do que outros já disseram, mesmo que o seu ponto de vista seja
ligeiramente diferente. No meu caso, vou tentar mostrar a conexão entre as
características e os dons naturais dos judeus e o sistema económico capitalista.
Primeiro tentarei descrever detalhadamente as características judaicas e então
relacioná-las com o capitalismo.
Ao contrário de outros escritores, começarei por
notar uma qualidade judaica que, apesar de mencionada frequentemente, nunca
recebeu o merecido reconhecimento. Refiro-me à extrema intelectualidade do
judeu. Os interesses intelectuais e a capacidade intelectual estão mais desenvolvidos
nele do que os poderes físicos (manuais). Do judeu pode-se com certeza afirmar
“líntelligence prime le corps”. A experiência do dia-a-dia comprava-o vezes sem
conta e muitos factos podem ser aduzidos a esse respeito. Nenhum outro povo
valorizou tanto o homem letrado, o erudito, como os judeus. “O homem sábio tem
precedência sobre o rei, e um bastardo que é um professor em relação ao
sacerdote que é um ignorante.” Assim o diz o Talmude. Quem estiver
familiarizado com estudantes judeus sabe quanto baste que esta sobrevalorização
do mero conhecimento não é apenas coisa do passado. E se não se pudesse tornar
“sábio”, pelo menos era seu dever o de se tornar letrado. Em todos os tempos a
instrução foi compulsória em Israel. Na verdade, aprender a religião era um
dever; e na Europa de Leste a sinagoga ainda é referida como a Escola (Schule,
School). O estudo e a adoração andavam de mão dada; não, o estudo era adoração
e a ignorância era considerada um pecado mortal. Um homem que não podia ler era
considerado um primitivo neste mundo e condenado no próximo. No dito popular do
gueto, nada era tão desprezado como a patetice. “Melhor a injustiça que a
insensatez” e “Ein Narr ist ein Gezar” (a estupidez é um infortúnio) são ambas bem
conhecidas.
O indivíduo mais valioso é o intelectual; a
humanidade no seu melhor é a mais elevada intelectualidade. Escute-se o que o
sábio judeu tem para dizer quando fala do homem ideal, o super-homem, se assim
se preferir, do futuro. Ele toma isto como consequência natural; aqueles que
são diferentemente constituídos com certeza devem tremer perante a
possibilidade. “Em lugar dos instintos cegos… o homem civilizado possui a
consciência intelectual de propósito. Devia ser o ideal de todos o de esmagar
os instintos e substitui-los pela força de vontade; e substituir a reflexão ao
simples impulso. O indivíduo só se torna homem no verdadeiro sentido do termo
quando a sua predisposição natural se encontra sob o controlo dos seus poderes
da razão. E quando o processo de emancipação dos instintos se completa,
encontramos o génio perfeito da sua absoluta paz interior livre do domínio das
leis naturais. A civilização deve ter apenas um fim – libertar o homem de tudo
o que é místico, da vaga impulsividade de toda a ação instintiva, e cultivar o
lado puramente racional do seu ser”. Pense-se apenas. O génio, a essência própria
da expressão instintiva, concebida como a forma mais elevada do racional e do
intelecto!
Uma consequência desta alta consideração do
intelecto foi a estima na qual as vocações eram avaliadas de acordo se
exigissem mais “esforço intelectual” ou “trabalho manual”. O primeiro foi quase
em todas as idades colocado em mais alto patamar que o último. É verdade que
devem ter existido, e ainda existem, comunidades judaicas nas quais o trabalho
manual pesado é executado todos os dias, mas praticamente não se aplica aos
judeus na Europa Ocidental. Mesmo nos tempos do Talmude, os judeus preferiam
vocações que necessitavam um menor gasto de energia física. Como disse o Rabi,
“O mundo necessita tanto do vendedor de especiarias como do curtidor, mas feliz
seja aquele que é vendedor de especiarias.” Ou doutro modo: “R. Men: costumava
dizer, um homem deve ensinar ao seu filho um ofício que seja limpo e fácil.” (Kiddushin, 82b).
Os judeus eram particularmente conscientes das suas
qualidades predominantes e sempre reconheceram que existia um grande fosse
entre a sua intelectualidade e a força bruta dos seus vizinhos. Um ou dois ditos
populares entre os judeu polacos expressa o contraste, não sem um pouco de
humor: “Deus socorra um homem das mãos gentis e das cabeças judias”. “Que o
Paraíso nos proteja contra o mooch (cérebro)
judeu e a koach (força física)
gentil.” Mooch v. Koach – esse é resumidamente o problema
judaico. Poderia ter sido o mote deste livro.
A predominância dos interesses intelectuais não
pode senão levar num povo tão dotado como o judeu à capacidade intelectual.
“Diga-se o que se quiser do judeu, não se poderá dizer que é um parvo.” “Um
grego galante, um judeu estúpido, um cigano honesto – todos são impensáveis” é
um provérbio entre os romenos. E o provérbio espanhol assim o tem, “Uma lebre
que é lenta e um judeu idiota: ambos são igualmente prováveis”. Quem teve assuntos
que tratar com judeus não confirmará que em média eles possuem um maior grau de
entendimento, que eles são mais inteligentes que os outros povos? Eu até a
chamaria de astúcia e sageza, como foi observado por um dos mais astutos
observadores dos judeus um século ou mais atrás, que os caracterizava como
“intelectuais e dotados de um grande génio para as coisas da idade presente”,
apesar de, acrescentar, “num grau menor que no passado”.
“A mente judia” é um instrumento de precisão; tem a
exatidão de um par de escalas”: a maior parte das pessoas concordará com a
sentença de Leroy-Beaulieu. E quando H.S. Chamberlain fala do subdesenvolvimento
do “entendimento” judeu, ele deve com certeza estar a usar o termo dum modo
especial. Ela não pode querer dizer com isto pensamento rápido, análise
precisa, dissecção exata, combinação rápida, o poder de ver o ponto à primeira,
de sugerir analogias, distinguir entre coisas sinónimas, de expor conclusões
finais. O judeu é capaz de realizar todas estas coisas, e Jellinek, que
corretamente acentua este lado do carácter judeu, aponta que o hebreu é
particularmente rico em expressões para atividades que exigem qualidades mentais.
Conhece não menos que onze palavras para busca ou pesquisa, trinta e quatro
para distinguir e separar, e quinze para combinar.
Não existe dúvida que estas dádivas mentais tornam
os judeus proeminentes jogadores de xadrez, matemáticos e, no geral, em todos
os trabalhos de cálculo. Estas atividades postulam uma forte capacidade para o
pensamento abstrato e também um tipo especial de imaginação, à qual Wundt tão
alegremente crismou de combinatória. A sua habilidade como médicos (habilidade
de diagnóstico) pode também ser rastreada às suas mentes calculadoras, dissectivas
e combinatórias, as quais “como relâmpagos, iluminam locais escuros num
lampejo”.
Não é desconhecido que frequentemente a capacidade
mental judaica degenera em minuciosidade exagerada. (Quando o moinho não tem
mais milho para moer, mói-se a si próprio.). Mas isto não interessa tanto como
outro facto. A intelectualidade do judeu é tao forte que tende a desenvolver-se
a expensas de outras qualidades mentais, e a mente tende a tornar-se
unilateral, assimétrica. Deixemos alguns exemplos. Ao judeu escasseia a
qualidade do entendimento instintivo; ele responde menos ao sentimento que ao
intelecto. Pensemos apenas num místico judaico como Jacob Bohme, e o contraste
torna-se ainda mais marcante quando nos lembramos do tipo de misticismo
encontrado na Cabala. Do mesmo modo todo o romantismo é estranho a este tipo
específico de vida; o judeu não pode facilmente simpatiza com perder-se no
mundo, na humanidade ou na natureza. É a diferença entre o entusiasmo frenético
e o pensamento sóbrio, prático.
Similar a esta característica é a de uma certa
falta de impressionabilidade, uma certa falta de recetividade e de génio
criativo. Quando eu me encontrava na Breslávia um estudante judeu da Sibéria
Extremo-Oriental veio ter comigo um dia “para estudar Karl Marx”. Levou-lhe
quase três semanas para chegar à Breslávia, e no próprio dia depois da sua
chegada ele chamou-me e pediu emprestado um dos livros de Marx. Poucos dias
depois ele voltou, discutiu comigo o que tinha lido, devolveu o livro e pediu outro
emprestado. Isto continuou durante alguns meses. Então ele regressou à sua vila
nativa. O jovem não recebeu quaisquer impressões dos seus novos arredores; não
estabeleceu quaisquer novos conhecimentos, não deu qualquer passeio, de facto mal
conheceu o sítio onde se tinha estabelecido. A vida da Breslávia passou-lhe
totalmente ao lado. Sem dúvida o mesmo se passou antes de vir à Breslávia, e o
mesmo acontecerá no futuro. Ele passeará pelo mundo sem o ver. Mas tornou-se
familiar com Marx. Será este um caso típico? Parece-me que sim. Este exemplo
encontramo-lo todos os dias. Não nos impressiona constantemente o amor que o
judeu nutre pelo inconcreto, a sua tendência para fugir do sensual, a sua
permanência constante num mundo de abstrações? E será meramente acidental que
existem muito menos pintores judeus que homens literários ou professores? Mesmo
no caso de artistas judeus não existe algo de intelectual nas suas obras? Nunca
houve frase mais verdadeira do que a proferida por Friedrich Naumann ao
comparar Max Liebermann [o famoso pintor judeu] com Espinosa, dizendo, “Ele
pinta com o cérebro”.
O judeu certamente vê de forma formidavelmente
clara, mas não vê muito. Ele não pensa o ambiente que o rodeia como algo vivo,
e tal é porque ele perdeu a verdadeira conceção da vida, da sua unidade, de ser
um organismo, um crescimento natural. Para resumir, ele perdeu a verdadeira conceção
do lado pessoal da vida. A experiência geral deve seguramente apoiar esta
visão, mas se outras provas são exigidas elas serão encontradas nas
peculiaridades da lei judaica, as quais, como já vimos, aboliram as relações pessoais
e as substituíram por conexões impessoais, abstratas, ou atividades ou
objetivos.
Na realidade, encontra-se nos judeus um
conhecimento extraordinário dos homens. Eles são capazes de perscrutar com os
seus aguçados intelectos, como se fosse possível, todos os poros, e ver o interior
de um homem como só os raios de Rontgen o poderiam mostrar. Eles reúnem todas
as suas qualidades e habilidades, notam as suas perfeições e as suas
fragilidades; detetam de uma vez para o qual este mais apto se encontra. Mas
raramente vêm o homem total, e portanto, frequentemente, cometem o erro de lhe
recomendarem ações que são uma abominação para a sua alma mais íntima. Além do
mais, raramente avaliam um homem de acordo com a sua personalidade, mas em
relação a quaisquer características ou feitos percetíveis.
Daí a sua clara de simpatia para qualquer estado
onde o nexo é pessoal. Todo o ser judaico é oposto a tudo que é geralmente entendido
por cavalheiresco, a toda a sentimentalidade, errância cavaleiresca,
feudalismo, patriarcalismo. Nem compreende uma ordem social baseada em relações
como estas. Sociedade de estratos ou castas e organizações de ofícios são por
ele desprezadas. Politicamente ele é um individualista. Um Estado
constitucional no qual toda a interação humana é regulada por princípios legais
claramente definidos apraz-lhe bem. Ele é um representante natural do ponto de
vista “liberal” da vida na qual não existem homens e mulheres vivos de carne e
sangue com personalidades distintas, mas apenas cidadãos com direitos e
deveres. E estes não diferem entre nações diferentes, mas formam parte da
humanidade, a qual não é mais que a soma total de um imenso número de unidades amorfas.
Como os próprios judeus não se enxergam – não negam eles as suas óbvias
características e asseveram que não existem diferenças entre eles e os ingleses
ou os alemães ou os franceses? – então eles não vêm os outros povos como seres
humanos vivos mas apenas como sujeitos, cidadãos, ou outro tipo de conceção
abstrata. Chega a este ponto, em que eles consideram o mundo não com a sua
“alma” mas com o seu intelecto. O resultado é o de que são facilmente levados a
acreditar que qualquer coisa que possa ser destramente elaborada por escrito e
corretamente ordenada com a ajuda do intelecto tem por necessidade de ser capaz
de realização prática na vida comum. Quantos judeus ainda mantêm que a questão
judaica é apenas política, e estão convencidos que um regime liberal é tudo o
que é necessário para remover as diferenças entre o judeu e o seu vizinho. É
algo de extraordinário ler a opinião de homens tão letrados como o autor de um
dos mais recentes livros sobre a questão judaica, de que todo o movimento antissemita
durante os últimos trinta anos foi o resultado das obras de Marr e Duhring. “As
milhares de vítimas dos pogrons e os milhões de trabalhadores robustos que
emigraram das suas casas são apenas uma ilustração clara do poder de Eugen
During” (!). Não é esta oposição entre tinta e sangue, entendimento e instinto,
uma abstração e uma realidade?
A conceção do universo na mente de um povo tanto
intelectual deve necessariamente ter sido aquela de uma estrutura bem ordenada
de acordo com a razão intelectual. Com a ajuda da razão, portanto, eles
procuraram entender o mundo; eles eram racionalistas, tanto em teoria como na
prática.
Agora assim que a forte consciência do ego se
agarra à intelectualidade predominante no ser pensante, ele tenderá a agrupar o
munda à volta do seu ego. Por outras palavras, ele olhará para o mundo do ponto
de vista do fim, do objetivo, do propósito. Nenhuma peculiaridade se encontra
tão inteiramente cumprida no judeu como esta, e existe total unanimidade de
opinião nesta matéria. A maior parte dos observadores começam com a teleologia
do judeu; eu, pela minha parte, considero-a como resultado da sua extrema
intelectualidade, na qual acredito que todas as outras peculiaridades do judeu
se encontram enraizadas. Ao dizer isto, no entanto, não pretendo de qualquer
modo minimizar a grande “importância” desta característica judaica.
Tome-se qualquer expressão do génio judaico e
certamente se encontrará nesta a tendência teleológica, a qual tem algumas
vezes sido chamada de subjetividade extrema. Sendo ou não as raças
indo-germânicas objetivas e as semíticas subjetivas, certo é que os judeus são
os mais subjetivos dos povos. O judeu nunca se perde no mundo exterior, nunca
se afunda na profundeza do cosmos, nunca se eleva nos infinitos estádios do
pensamento, mas, como Jellinek bem o põe, mergulha abaixo da superfície para
procurar pérolas. Ele traz tudo em relação com o seu ego. Ele encontra-se
sempre a perguntar porquê, para quê, o que tal trará? Cui bono? O seu maior interesse é sempre o do resultado de uma
coisa, não a coisa em si mesma; é não-judaico viver a vida sem ter qualquer
propósito, deixar tudo ao acaso; não-judaico gozar do prazer inocente da
Natureza. O judeu tomou tudo que se encontra na Natureza e fez disso “páginas
soltas de um livro de ética que terá por missão avançar a mais elevada vida
moral”. A religião judaica, como já o vimos, é teleológica no seu fim; em cada um
dos seus regulamentos tem a norma ética em vista. O universo inteiro, aos olhos
do judeu, é algo que foi feito de acordo com um plano. Esta é uma das
diferenças entre o Judaísmo e o Heathenismo, como Heine viu há muito tempo. “Eles
(os pagãos) têm um ‘passado’ infinito, eterno, que se encontra no mundo e se
desenvolve com ele pelas leis da necessidade, mas o Deus dos judeus
encontrava-se fora do mundo, que Ele criou como um ato de livre vontade.”
Nenhum termo é mais familiar ao ouvido do judeu que
Tachlis, que significa propósito,
objetivo, fim ou golo. Se algo se faz tem de ter um tachlis; a própria vida, seja como um todo ou nas suas atividades
singulares, deve ter algum tachlis, e
assim também o deve ter o universo. Àqueles que afirmam que o significado da
Vida, do Mundo, não é tachlis, mas
tragédia, o judeu toma-os como visionários néscios.
O quanto a visão teleológica das coisas se encontra
incorporada na natureza do judeu pode ser visto no caso daqueles judeus, como
os hassídicos, que não prestam atenção às necessidades da vida prática porque
“não existe propósito nelas.” Não existe propósito em ganhar a vida, e então
eles deixam as suas mulheres e crianças passar fome, e devotam-se ao estudo dos
livros sagrados. Mas podemos também notá-lo naqueles judeus que, com um cansaço
de alma dentro deles e com um sorriso apagado nos seus semblantes, tudo entendem
e perdoam, aguentam e olham fixamente para a vida das suas próprias alturas, muito
distantes deste mundo. Tenho em mente tais espíritos entre homens literários do
nosso tempo, como George Hirschfeld, Arthur Schnitzler e George Hermann. O
grande charme das suas obras encontra-se no desinteresse mundano com o qual
eles olham de alto à nossa azáfama, na melancolia serena que permeia toda a sua
poesia, no seu sentimento. A sua própria falta de vontade de poder é apenas
força de vontade de um tipo de forma negativa. Através de todas as suas baladas
ecoa a suave lamentação de pesar; quão sem propósito e portanto quão triste é
este mundo! A própria natureza encontra-se tingida com este pesar; o Outono
sempre à espreita em emboscada apesar dos bosques e dos prados estarem brilhantes
e com felizes flores de Primavera; o vento dança entre as folhas caídas e a
glória do sol dourado, que mesmo nunca tendo sido tão bonito, deve por fim
então repousar. A subjetividade e a conceção de que todas as coisas têm um
sentido (e as duas coisas são a mesma) rouba a poesia aos escritores judeus de naiveté, frescura e franqueza, porque os
poetas judeus são incapazes de simplesmente desfrutarem dos fenómenos deste
mundo, seja o destino humano ou os caprichos da Natureza; eles têm necessidade
de cogitar sobre isso e revirá-lo vezes sem conta. Um nenhum lugar é o ar
perfumando pela prímula e pela violeta, em nenhum local brilha o borrifo do
ribeiro na mata. Mas para compensar a falta destes, eles possuem o maravilhoso
aroma de vinho antigo e a charme mágico de um par de belos olhos que
tristemente fixam a distância.
Quando esta atitude da mente que busca um propósito
em todas as coisas se encontra unida a uma vontade forte, com um largo fundo de
energia (como é geralmente o caso do judeu), deixa de ser meramente um ponto de
vista; torna-se uma política. O homem define-se a si mesmo um objetivo e
busca-o, não permitindo que algo se lhe interponha nesse caminho; ele é
determinado, obcecado, para usar outra expressão. Heine, ao descrever a sua
gente, chamou-as de obstinadas, e Goethe disse que a essência do caráter
judaico era a energia e a busca de fins diretos.
O meu próximo tema é a mobilidade, mas não estou
inteiramente seguro se isto pode ser estendido a todos os judeu ou apenas aos judeus
asquenazes (alemães). Escritores que cantaram os louvores dos sefarditas
(judeus espanhóis) sempre acentuaram um certo ar dignificado que eles possuíam,
uma certa arrogância de porte. Os seus irmãos alemães, por outro lado, sempre
foram descritos como vivazes, ativos e de algum modo excitáveis. Ainda hoje podem-se
encontrar muitos judeus sefarditas, especialmente no Oriente, que se destacam
como sendo honrados, pensativos e comedidos, que de modo algum aparentam ter
aquela mobilidade, moral e física, que tão comummente é associada aos judeus
europeus. Mas mobilidade de mente – perceção rápida e versatilidade mental –
todos os judeus possuem.
Estes quatro elementos, intelectualidade,
teleologia, energia e mobilidade, são as pedras angulares do carácter judaico,
tão complicado na sua natureza. Acredito que todas as características do judeu
podem facilmente ser rastreadas a um ou mais destes elementos. Tomem-se dois
que são de especial importância na vida económica – atividade extrema e
adaptabilidade.
O judeu é ativo, ou se se preferir, industrioso.
Nas palavras de Goethe, “Nenhum judeu, nem mesmo o mais insignificante, não se
encontra atarefado na busca de qualquer fim mundano, temporário e momentâneo.”
Esta atividade muitas vezes degenera em inquietação. Ele tem que sempre
encontrar-se em ebulição, sempre a dirigir ou a levar algo à sua fruição. Ele
encontra-se sempre em movimento, e não se preocupa muito se se torna um
distúrbio para aqueles que descansariam se pudessem. Todos os “affairs”
musicais e sociais nas nossas grandes cidades são levados a cabo por judeus. O
judeu nasce já pregador do progresso e das suas bençoes multifacetadas. E
porquê? Porque o seu sentido prático e a sua mobilidade combinaram com a sua
intelectualidade. A última mais especialmente, porque nunca atinge uma raiz
profunda. Toda a intelectualidade no longo termo torna-se superficialidade;
nunca permite atingir as raízes próprias de um assunto, nunca atinge as
profundidades da alma, ou as do universo. Por isso a intelectualidade
facilmente permite ir de um extremo ao outro. Essa é a razão por que se
encontra entre os judeus, lado a lado, ortodoxia fanática e dúvida não
iluminada; ambas brotam de uma mesma fonte.
Mas a esta intelectualidade vã devem os judeus talvez
a mais valiosa das suas características – a sua adaptabilidade – que é única na
história. Os judeus sempre foram um povo obstinado, e a sua adaptabilidade, não
menor que a sua capacidade para manter os traços nacionais, são ambas derivadas
da mesma causa. A sua adaptabilidade permitiu-lhes submeterem-se no tempo coevo,
se as circunstâncias assim o exigissem, às leis da necessidade, para voltarem
aos seus modos habituais assim que melhores dias aparecessem. Da antiguidade, o
caráter judeu era ao mesmo tempo resistente e submissivo, e apesar de estas
características poderem parecer contraditórias, tal o é apenas aparente. Como
Leroy-Beaulieu bem disse, “O judeu é ao mesmo tempo o mais obstinado e o mais
flexível dos homens, o mais teimoso e o mais maleável”.
Os líderes e os homens “sábios” do povo judaico
foram em todas as todas as épocas conscientes da importância, não, da
necessidade, desta flexibilidade e elasticidade, se Israel quisesse continuar,
e portanto nunca se cansavam de insistir sobre isso. A literatura judaica
abunda em exemplos. “Sejam flexíveis como a cana que o vento sopra nesta direção
e naquela, porque a Torá apenas pode ser observada por aquele que é dotado de
um espírito contrito. Porque é a Torá associada à água? Para te dizer que como
a água nunca corre para as alturas mas antes corre com os modestos”. Ou de
novo, “Quando a raposa está em posição de poder, curva-te perante ele.” Uma vez
mais, “Encolhe-te perante a onda e ela passa sobre ti; opõe-te a ela, e ela
levar-te-á.” Finalmente, a suplicação do Livro da Prece [Sidur] diz deste modo:
“Que a minha alma seja como o pó para todos.”
Era neste espírito que os Rabis aconselhavam os
seus rebanhos a fingir aceitar as fés dominantes naqueles países onde a sua
existência dependesse da renunciação à sua. O conselho era seguido em larga
medida, e nas palavras de Fromer, “A raça judaica, ao simular a morte de tempos
em tempos, conseguiu sobreviver continuamente.”
Existem poucos, se alguns, cristãos ou muçulmanos
dissimulados. No entanto, o incrível poder dos judeus para se adaptar ao seu
ambiente tem maior extensão que nunca. O judeu da Europa Ocidental e da América
hoje não mais deseja manter a sua religião e o seu caráter nacional intactos;
pelo contrário, ele deseja, quando o espírito nacionalista ainda não acordou
nele, perder as suas características e assimilar-se com os povos no meio dos
quais o seu fado ditou viver. E isto também ele conseguir atingir com sucesso.
Talvez a ilustração mais clara do modo em que os
traços judaicos se manifestam é no facto de que o judeu em Inglaterra torna-se
um inglês, em França, um francês, e por aí adiante. E se ele não se torna
realmente um inglês ou francês, ela aparenta ser um. Que um Felix Mendelssohn
escreva música alemã, que um Jacques Offenbach francesa e um Sousa Yankee
Doodle; que Lord Beaconsfield se estabelece como um nobre inglês, Gambetta como
um francês, Lassale como um alemão; resumindo, o talento judeu tem tantas vezes
nada de judeu acerca dele, mas ser de acordo com a sua circunstância, tem vezes
sem conta, curiosamente, sido tomado como prova de que não existem
características especificamente judaicas, onde na verdade prova o exato oposto
de forma muito clara. Prova de que os judeus têm o dom da adaptabilidade num
grau eminentemente elevado. O judeu pode ir de um planeta para outro, mas a sua
estranheza entre as novas circunstâncias não se manterá por muito tempo. Ele
rapidamente pressente o seu caminho e adapta-se com facilidade. Ele é alemão
onde ele quer ser alemão, e italiano se tal lhe servir melhor. Ele faz tudo e
participa em tudo, e com sucesso. Ele consegue ser um puro magiar na Hungria,
ele pode pertencer aos irredentistas em Itália, e ser um antissemita em França
(Drumont!). Ele é adepto de tomar para si o que ainda se encontra a germinar, e
a levá-lo consigo até ao total desabrochar. E toda a sua adaptabilidade
permite-lhe fazê-lo.
Já tinha dito que esta capacidade particular para a
adaptabilidade está enraizada em quatro elementos do carácter judaico. Mas
talvez o racionalismo do judeu é responsável por isto num grau mais elevado que
as outras três. Por causa do seu racionalismo ele é capaz de olhar para tudo de
fora. Se o judeu for alguma coisa, não é porque ele a tal o deva mas porque ele
assim o decide. Quaisquer convicções que ele tenha não nascem da sua alma mais
íntima; são formuladas pelo seu intelecto. O seu ponto de vista não se encontra
na terra sólida mas sim num castelo imaginário no ar. Ele não é organicamente
original mas mecanicamente racional. A ele fata profundeza de sentimento e
força de instinto. É por isso que ele é o que é, mas também pode ser diferente.
Que Lord Beaconsfield tenha sido um Conservador foi devido a algum acidente ou
outro, ou a qualquer conjetura política; mas Stein e Bismarck e Carlyle foram
Conservadores porque não o conseguiram evitar; estava-lhes no sangue. Tivessem
Marx ou Lassale nascido noutra era, ou noutro ambiente, poderiam ter-se
facilmente tornado Conservadores em vez de Radicais. Na verdade, Lassale já se
encontrava a coquetear com a ideia de se tornar um reacionário, e sem dúvida
ele teria feito o papel de um junker prussiano de forma tão brilhante como a de
um agitador socialista.
A força motriz da adaptabilidade judaica é claro a
ideia de um propósito, de um objetivo, como o fim de todas as coisas. Uma vez
tendo o judeu decidido que linha irá seguir, o resto é comparativamente fácil,
e a sua mobilidade só torna o seu sucesso mais seguro.
O quão móvel o judeu consegue ser é incrível. Ele é
capaz de dar de si a aparência pessoal que mais desejar. Como antigamente ele
era capaz de simular a morte para se defender, hoje o mesmo acontece pela
adaptação colorida ou por outras formas de imitação. As melhores ilustrações
podem ser coligidas nos Estados Unidos, onde o judeu de segunda ou terceira
geração é com muita dificuldade distinguível do não-judeu. Nota-se o alemão
independentemente de quantas gerações; o mesmo com o irlandês, o sueco, o
eslavo. Mas o judeu, desde que as suas características físicas raciais assim o
permitam, tem tido sucesso a imitar o tipo yankee, especialmente no que
concerne aos seus traços externos como as roupas, a postura e os particulares
modos de penteado.
Ainda mais fácil, à conta da sua mobilidade mental
e moral, é para o judeu fazer da atmosfera intelectual dos seus arredores a sua.
A sua mobilidade mental permite-lhe rapidamente apreender o “tom” de qualquer
círculo, notar rapidamente o que interessa, rapidamente sentir o melhor caminho
para si. E a sua mobilidade moral? Tal permite-lhe remover obstáculos
problemáticos, sejam éticos ou ascéticos, do seu caminho. E ele faz isto com
tanta maior facilidade porque ele apenas possui em menor grau o que pode ser cunhado
por dignidade pessoal. Significa pouco para ele ser falso para ele próprio, se
tal é uma questão de alcançar o objetivo desejado.
Será este quadro fiel à vida? A óbvia
adaptabilidade do judeu às condições flutuantes da luta pela existência é prova
suficientemente bastante. Mas existe ainda mais prova em alguns dos dons
especiais que o judeu possui. Refiro-me ao seu inegável talento para o
jornalismo, para a barra, para o palco, e tudo isto é conduzível à sua
adaptabilidade.
Adolf Jellinek, no livro que referimos mais que uma
vez, pintou um quadro engraçado que mostra a conexão entre as duas. “O
jornalista”, diz ele, “deve ser rápido, móvel, vivaz, entusiástico, capaz de
analisar rapidamente e assim rapidamente em juntar as peças do puzzle; deve ser
capaz de entrar in media res, captar
a essência do problema do momento ou do facto principal do debate na sua mente;
tem de ser capaz de lidar com o seu sujeito com limites claros e bem
demarcados, de descrever epigraficamente, antiteticamente, sentenciosamente, em
frases curtas e suficientes, de dar-lhes vida por intermédio de um determinado patos,
de dar-lhes cor por intermédio do espírito, de torna-las picantes por
intermédio de tempero.” Não serão todos estes traços judaicos?
A vocação do ator, não menos que a do barrista,
depende para ter sucesso na sua habilidade para se colocar rapidamente num
estranho mundo de ideias, de tomar a correta visão do homem e das suas condições
sem muita dificuldade, de formar uma estimativa correta delas e de as usar para
o seu próprio fim. O dom do judeu para a subjetividade joga aqui a seu favor,
pois com a sua ajuda ele pode facilmente colocar-se na posição do outro, pensar
por ele e defendê-lo. Para ser claro, a jurisprudência é o cerne das matérias
da literatura judaica!
No comments:
Post a Comment