Thursday, November 9, 2017

Características Jucaicas - Uma Tentativa de Solução

 




É o nosso prazer deixar aos leitores a continuação da tradução para português do capítulo XII do livro de Werner Sombart, 'Os Judeus e a Economia Moderna', da qual abaixo encontrará a segunda secção, ‘Uma Tentativa de Solução’.

Nesta seção, o autor debruça-se mais a fundo sobre a psique judaica e dá-nos uma perspetiva mais detalhada das suas características, estados de alma e as respetivas atitudes do judeu perante a vida e o ambiente que o rodeia, abrindo-nos já o véu no final sobre a conveniência das mesmas para ofícios da economia moderna.

Como já referi noutros entradas deste blogue, considero ser da maior importância a compreensão da atitude judaica perante a vida por todos aqueles que querem melhor entender o mundo atual, as suas instituições e, especialmente, a sua mundividência ou espírito. Não será esta a que todo o europeu tomou como sua, consciente ou inconscientemente?

Escrevendo o autor no início do século XX, onde ainda sobrevivia um proeminente patos não judaico na sociedade europeia, este já não teria a predominância de outras idades. A economização da sociedade, a preferência pela teorização abstrata e a perspetiva materialista da vida já tinham ganho terreno e eram mesmo os esteios pelo quais muitos governantes e a maioria dos cidadãos regiam as suas vidas, se bem que ainda em quadros legais e religiosos que teoricamente prescreviam outras conceções. E se tais características podem ser apanágio do povo hebreu, nas quais estas sempre se encontraram de forma exagerada desde há séculos e mesmo milénios, tornando-os particularmente aptos para tomar a dianteira no mundo moderno, não é menos verdade que os povos europeus as foram lentamente incorporando no seu ser, por processos diversos.

E se passado mais de um século desde a finalização desta obra relançarmos os olhos pela sociedade moderna, veremos que dos vestígios de uma ética tradicional propriamente europeia que ainda subsistia no quotidiano de então, os vestígios da mesma hoje só podem ser encontrados em livros de história, crónicas da época e em especulações teóricas.

Para alguns, tudo isto é prova cabal da influência nefasta dos judeus e justificação para as pregas, passadas e presentes, sobre eles lançadas, quando não mesmo sinal de um esforço concertado, oculto, por eles levado acabo para judaizar os povos europeus e de todo o mundo.

Parece-nos que tal visão é por demais simplista e ignora outras causas mais profundas e anteriores e, igualmente, foge a questões inquietantes para os próprios inquisidores. Aqui deixamos algumas: Fará sentido ainda falar da influência judaica numa sociedade em que a esmagadora maioria dos seus cidadãos só sabe interagir com o mundo e com o universo por via abstrata e psicológica, incluindo pelos próprios antissemitas modernos? Ainda fará sentido falar de influência judaica numa sociedade em que os mitos da igualdade e do livre desígnio do homem são a base de todas as ideologias políticas modernas? Fará ainda sentido falar-se numa influência judaica que se deve combater quando as principais religiões de massa mundiais advogam a igualdade de todos perante o Divino e a respetiva submissão perante um Deus Criador Todo-Poderoso? Antes de incorporar influências judaicas modernas, não foi a própria Europa e os próprios europeus que já não se reviam nas tradicionais instituições e formas de governo, deixando de acreditar nos próprios mitos fundadores? Como explicar outros processos de decadência da ideia europeia, como a Reforma ou mesmo a Revolução Francesa – também à nefasta cabala hebraica?

Que se medite nas perguntas acima colocadas, já que a génese dos problemas atuais da Europa – e do Mundo – no sentido mais profundo, só lateralmente poderão ser atribuídos ao povo judeu.


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É surpreendente encontrar que, apesar da enormidade do problema, existe ainda, apesar de tudo, um grande grau de unanimidade em relação às diferentes opiniões sobre os judeus. Na literatura ainda mais que na vida comum, observadores imparciais concordam em vários pontos fundamentais. Leia-se Jellinek ou Fromer, Chamberlain ou Marx, Hein ou Goethe, Leroy-Beaulieu ou Picciotto – leia-se o devoto ou o Judeu inconformista, o antissemita ou o filo-semita não-judeu – e tem-se a impressão de que todos eles estão conscientes das mesmas particularidades. Tal é reconfortante para aquele que se arremete a descrever o génio judeu. De todos os modos, ele não dirá nada de diferente do que outros já disseram, mesmo que o seu ponto de vista seja ligeiramente diferente. No meu caso, vou tentar mostrar a conexão entre as características e os dons naturais dos judeus e o sistema económico capitalista. Primeiro tentarei descrever detalhadamente as características judaicas e então relacioná-las com o capitalismo.

Ao contrário de outros escritores, começarei por notar uma qualidade judaica que, apesar de mencionada frequentemente, nunca recebeu o merecido reconhecimento. Refiro-me à extrema intelectualidade do judeu. Os interesses intelectuais e a capacidade intelectual estão mais desenvolvidos nele do que os poderes físicos (manuais). Do judeu pode-se com certeza afirmar “líntelligence prime le corps”. A experiência do dia-a-dia comprava-o vezes sem conta e muitos factos podem ser aduzidos a esse respeito. Nenhum outro povo valorizou tanto o homem letrado, o erudito, como os judeus. “O homem sábio tem precedência sobre o rei, e um bastardo que é um professor em relação ao sacerdote que é um ignorante.” Assim o diz o Talmude. Quem estiver familiarizado com estudantes judeus sabe quanto baste que esta sobrevalorização do mero conhecimento não é apenas coisa do passado. E se não se pudesse tornar “sábio”, pelo menos era seu dever o de se tornar letrado. Em todos os tempos a instrução foi compulsória em Israel. Na verdade, aprender a religião era um dever; e na Europa de Leste a sinagoga ainda é referida como a Escola (Schule, School). O estudo e a adoração andavam de mão dada; não, o estudo era adoração e a ignorância era considerada um pecado mortal. Um homem que não podia ler era considerado um primitivo neste mundo e condenado no próximo. No dito popular do gueto, nada era tão desprezado como a patetice. “Melhor a injustiça que a insensatez” e “Ein Narr ist ein Gezar” (a estupidez é um infortúnio) são ambas bem conhecidas.

O indivíduo mais valioso é o intelectual; a humanidade no seu melhor é a mais elevada intelectualidade. Escute-se o que o sábio judeu tem para dizer quando fala do homem ideal, o super-homem, se assim se preferir, do futuro. Ele toma isto como consequência natural; aqueles que são diferentemente constituídos com certeza devem tremer perante a possibilidade. “Em lugar dos instintos cegos… o homem civilizado possui a consciência intelectual de propósito. Devia ser o ideal de todos o de esmagar os instintos e substitui-los pela força de vontade; e substituir a reflexão ao simples impulso. O indivíduo só se torna homem no verdadeiro sentido do termo quando a sua predisposição natural se encontra sob o controlo dos seus poderes da razão. E quando o processo de emancipação dos instintos se completa, encontramos o génio perfeito da sua absoluta paz interior livre do domínio das leis naturais. A civilização deve ter apenas um fim – libertar o homem de tudo o que é místico, da vaga impulsividade de toda a ação instintiva, e cultivar o lado puramente racional do seu ser”. Pense-se apenas. O génio, a essência própria da expressão instintiva, concebida como a forma mais elevada do racional e do intelecto!

Uma consequência desta alta consideração do intelecto foi a estima na qual as vocações eram avaliadas de acordo se exigissem mais “esforço intelectual” ou “trabalho manual”. O primeiro foi quase em todas as idades colocado em mais alto patamar que o último. É verdade que devem ter existido, e ainda existem, comunidades judaicas nas quais o trabalho manual pesado é executado todos os dias, mas praticamente não se aplica aos judeus na Europa Ocidental. Mesmo nos tempos do Talmude, os judeus preferiam vocações que necessitavam um menor gasto de energia física. Como disse o Rabi, “O mundo necessita tanto do vendedor de especiarias como do curtidor, mas feliz seja aquele que é vendedor de especiarias.” Ou doutro modo: “R. Men: costumava dizer, um homem deve ensinar ao seu filho um ofício que seja limpo e fácil.” (Kiddushin, 82b).

Os judeus eram particularmente conscientes das suas qualidades predominantes e sempre reconheceram que existia um grande fosse entre a sua intelectualidade e a força bruta dos seus vizinhos. Um ou dois ditos populares entre os judeu polacos expressa o contraste, não sem um pouco de humor: “Deus socorra um homem das mãos gentis e das cabeças judias”. “Que o Paraíso nos proteja contra o mooch (cérebro) judeu e a koach (força física) gentil.” Mooch v. Koach – esse é resumidamente o problema judaico. Poderia ter sido o mote deste livro.

A predominância dos interesses intelectuais não pode senão levar num povo tão dotado como o judeu à capacidade intelectual. “Diga-se o que se quiser do judeu, não se poderá dizer que é um parvo.” “Um grego galante, um judeu estúpido, um cigano honesto – todos são impensáveis” é um provérbio entre os romenos. E o provérbio espanhol assim o tem, “Uma lebre que é lenta e um judeu idiota: ambos são igualmente prováveis”. Quem teve assuntos que tratar com judeus não confirmará que em média eles possuem um maior grau de entendimento, que eles são mais inteligentes que os outros povos? Eu até a chamaria de astúcia e sageza, como foi observado por um dos mais astutos observadores dos judeus um século ou mais atrás, que os caracterizava como “intelectuais e dotados de um grande génio para as coisas da idade presente”, apesar de, acrescentar, “num grau menor que no passado”.

“A mente judia” é um instrumento de precisão; tem a exatidão de um par de escalas”: a maior parte das pessoas concordará com a sentença de Leroy-Beaulieu. E quando H.S. Chamberlain fala do subdesenvolvimento do “entendimento” judeu, ele deve com certeza estar a usar o termo dum modo especial. Ela não pode querer dizer com isto pensamento rápido, análise precisa, dissecção exata, combinação rápida, o poder de ver o ponto à primeira, de sugerir analogias, distinguir entre coisas sinónimas, de expor conclusões finais. O judeu é capaz de realizar todas estas coisas, e Jellinek, que corretamente acentua este lado do carácter judeu, aponta que o hebreu é particularmente rico em expressões para atividades que exigem qualidades mentais. Conhece não menos que onze palavras para busca ou pesquisa, trinta e quatro para distinguir e separar, e quinze para combinar.

Não existe dúvida que estas dádivas mentais tornam os judeus proeminentes jogadores de xadrez, matemáticos e, no geral, em todos os trabalhos de cálculo. Estas atividades postulam uma forte capacidade para o pensamento abstrato e também um tipo especial de imaginação, à qual Wundt tão alegremente crismou de combinatória. A sua habilidade como médicos (habilidade de diagnóstico) pode também ser rastreada às suas mentes calculadoras, dissectivas e combinatórias, as quais “como relâmpagos, iluminam locais escuros num lampejo”.

Não é desconhecido que frequentemente a capacidade mental judaica degenera em minuciosidade exagerada. (Quando o moinho não tem mais milho para moer, mói-se a si próprio.). Mas isto não interessa tanto como outro facto. A intelectualidade do judeu é tao forte que tende a desenvolver-se a expensas de outras qualidades mentais, e a mente tende a tornar-se unilateral, assimétrica. Deixemos alguns exemplos. Ao judeu escasseia a qualidade do entendimento instintivo; ele responde menos ao sentimento que ao intelecto. Pensemos apenas num místico judaico como Jacob Bohme, e o contraste torna-se ainda mais marcante quando nos lembramos do tipo de misticismo encontrado na Cabala. Do mesmo modo todo o romantismo é estranho a este tipo específico de vida; o judeu não pode facilmente simpatiza com perder-se no mundo, na humanidade ou na natureza. É a diferença entre o entusiasmo frenético e o pensamento sóbrio, prático.

Similar a esta característica é a de uma certa falta de impressionabilidade, uma certa falta de recetividade e de génio criativo. Quando eu me encontrava na Breslávia um estudante judeu da Sibéria Extremo-Oriental veio ter comigo um dia “para estudar Karl Marx”. Levou-lhe quase três semanas para chegar à Breslávia, e no próprio dia depois da sua chegada ele chamou-me e pediu emprestado um dos livros de Marx. Poucos dias depois ele voltou, discutiu comigo o que tinha lido, devolveu o livro e pediu outro emprestado. Isto continuou durante alguns meses. Então ele regressou à sua vila nativa. O jovem não recebeu quaisquer impressões dos seus novos arredores; não estabeleceu quaisquer novos conhecimentos, não deu qualquer passeio, de facto mal conheceu o sítio onde se tinha estabelecido. A vida da Breslávia passou-lhe totalmente ao lado. Sem dúvida o mesmo se passou antes de vir à Breslávia, e o mesmo acontecerá no futuro. Ele passeará pelo mundo sem o ver. Mas tornou-se familiar com Marx. Será este um caso típico? Parece-me que sim. Este exemplo encontramo-lo todos os dias. Não nos impressiona constantemente o amor que o judeu nutre pelo inconcreto, a sua tendência para fugir do sensual, a sua permanência constante num mundo de abstrações? E será meramente acidental que existem muito menos pintores judeus que homens literários ou professores? Mesmo no caso de artistas judeus não existe algo de intelectual nas suas obras? Nunca houve frase mais verdadeira do que a proferida por Friedrich Naumann ao comparar Max Liebermann [o famoso pintor judeu] com Espinosa, dizendo, “Ele pinta com o cérebro”.

O judeu certamente vê de forma formidavelmente clara, mas não vê muito. Ele não pensa o ambiente que o rodeia como algo vivo, e tal é porque ele perdeu a verdadeira conceção da vida, da sua unidade, de ser um organismo, um crescimento natural. Para resumir, ele perdeu a verdadeira conceção do lado pessoal da vida. A experiência geral deve seguramente apoiar esta visão, mas se outras provas são exigidas elas serão encontradas nas peculiaridades da lei judaica, as quais, como já vimos, aboliram as relações pessoais e as substituíram por conexões impessoais, abstratas, ou atividades ou objetivos.

Na realidade, encontra-se nos judeus um conhecimento extraordinário dos homens. Eles são capazes de perscrutar com os seus aguçados intelectos, como se fosse possível, todos os poros, e ver o interior de um homem como só os raios de Rontgen o poderiam mostrar. Eles reúnem todas as suas qualidades e habilidades, notam as suas perfeições e as suas fragilidades; detetam de uma vez para o qual este mais apto se encontra. Mas raramente vêm o homem total, e portanto, frequentemente, cometem o erro de lhe recomendarem ações que são uma abominação para a sua alma mais íntima. Além do mais, raramente avaliam um homem de acordo com a sua personalidade, mas em relação a quaisquer características ou feitos percetíveis.

Daí a sua clara de simpatia para qualquer estado onde o nexo é pessoal. Todo o ser judaico é oposto a tudo que é geralmente entendido por cavalheiresco, a toda a sentimentalidade, errância cavaleiresca, feudalismo, patriarcalismo. Nem compreende uma ordem social baseada em relações como estas. Sociedade de estratos ou castas e organizações de ofícios são por ele desprezadas. Politicamente ele é um individualista. Um Estado constitucional no qual toda a interação humana é regulada por princípios legais claramente definidos apraz-lhe bem. Ele é um representante natural do ponto de vista “liberal” da vida na qual não existem homens e mulheres vivos de carne e sangue com personalidades distintas, mas apenas cidadãos com direitos e deveres. E estes não diferem entre nações diferentes, mas formam parte da humanidade, a qual não é mais que a soma total de um imenso número de unidades amorfas. Como os próprios judeus não se enxergam – não negam eles as suas óbvias características e asseveram que não existem diferenças entre eles e os ingleses ou os alemães ou os franceses? – então eles não vêm os outros povos como seres humanos vivos mas apenas como sujeitos, cidadãos, ou outro tipo de conceção abstrata. Chega a este ponto, em que eles consideram o mundo não com a sua “alma” mas com o seu intelecto. O resultado é o de que são facilmente levados a acreditar que qualquer coisa que possa ser destramente elaborada por escrito e corretamente ordenada com a ajuda do intelecto tem por necessidade de ser capaz de realização prática na vida comum. Quantos judeus ainda mantêm que a questão judaica é apenas política, e estão convencidos que um regime liberal é tudo o que é necessário para remover as diferenças entre o judeu e o seu vizinho. É algo de extraordinário ler a opinião de homens tão letrados como o autor de um dos mais recentes livros sobre a questão judaica, de que todo o movimento antissemita durante os últimos trinta anos foi o resultado das obras de Marr e Duhring. “As milhares de vítimas dos pogrons e os milhões de trabalhadores robustos que emigraram das suas casas são apenas uma ilustração clara do poder de Eugen During” (!). Não é esta oposição entre tinta e sangue, entendimento e instinto, uma abstração e uma realidade?

A conceção do universo na mente de um povo tanto intelectual deve necessariamente ter sido aquela de uma estrutura bem ordenada de acordo com a razão intelectual. Com a ajuda da razão, portanto, eles procuraram entender o mundo; eles eram racionalistas, tanto em teoria como na prática.

Agora assim que a forte consciência do ego se agarra à intelectualidade predominante no ser pensante, ele tenderá a agrupar o munda à volta do seu ego. Por outras palavras, ele olhará para o mundo do ponto de vista do fim, do objetivo, do propósito. Nenhuma peculiaridade se encontra tão inteiramente cumprida no judeu como esta, e existe total unanimidade de opinião nesta matéria. A maior parte dos observadores começam com a teleologia do judeu; eu, pela minha parte, considero-a como resultado da sua extrema intelectualidade, na qual acredito que todas as outras peculiaridades do judeu se encontram enraizadas. Ao dizer isto, no entanto, não pretendo de qualquer modo minimizar a grande “importância” desta característica judaica.

Tome-se qualquer expressão do génio judaico e certamente se encontrará nesta a tendência teleológica, a qual tem algumas vezes sido chamada de subjetividade extrema. Sendo ou não as raças indo-germânicas objetivas e as semíticas subjetivas, certo é que os judeus são os mais subjetivos dos povos. O judeu nunca se perde no mundo exterior, nunca se afunda na profundeza do cosmos, nunca se eleva nos infinitos estádios do pensamento, mas, como Jellinek bem o põe, mergulha abaixo da superfície para procurar pérolas. Ele traz tudo em relação com o seu ego. Ele encontra-se sempre a perguntar porquê, para quê, o que tal trará? Cui bono? O seu maior interesse é sempre o do resultado de uma coisa, não a coisa em si mesma; é não-judaico viver a vida sem ter qualquer propósito, deixar tudo ao acaso; não-judaico gozar do prazer inocente da Natureza. O judeu tomou tudo que se encontra na Natureza e fez disso “páginas soltas de um livro de ética que terá por missão avançar a mais elevada vida moral”. A religião judaica, como já o vimos, é teleológica no seu fim; em cada um dos seus regulamentos tem a norma ética em vista. O universo inteiro, aos olhos do judeu, é algo que foi feito de acordo com um plano. Esta é uma das diferenças entre o Judaísmo e o Heathenismo, como Heine viu há muito tempo. “Eles (os pagãos) têm um ‘passado’ infinito, eterno, que se encontra no mundo e se desenvolve com ele pelas leis da necessidade, mas o Deus dos judeus encontrava-se fora do mundo, que Ele criou como um ato de livre vontade.”

Nenhum termo é mais familiar ao ouvido do judeu que Tachlis, que significa propósito, objetivo, fim ou golo. Se algo se faz tem de ter um tachlis; a própria vida, seja como um todo ou nas suas atividades singulares, deve ter algum tachlis, e assim também o deve ter o universo. Àqueles que afirmam que o significado da Vida, do Mundo, não é tachlis, mas tragédia, o judeu toma-os como visionários néscios.

O quanto a visão teleológica das coisas se encontra incorporada na natureza do judeu pode ser visto no caso daqueles judeus, como os hassídicos, que não prestam atenção às necessidades da vida prática porque “não existe propósito nelas.” Não existe propósito em ganhar a vida, e então eles deixam as suas mulheres e crianças passar fome, e devotam-se ao estudo dos livros sagrados. Mas podemos também notá-lo naqueles judeus que, com um cansaço de alma dentro deles e com um sorriso apagado nos seus semblantes, tudo entendem e perdoam, aguentam e olham fixamente para a vida das suas próprias alturas, muito distantes deste mundo. Tenho em mente tais espíritos entre homens literários do nosso tempo, como George Hirschfeld, Arthur Schnitzler e George Hermann. O grande charme das suas obras encontra-se no desinteresse mundano com o qual eles olham de alto à nossa azáfama, na melancolia serena que permeia toda a sua poesia, no seu sentimento. A sua própria falta de vontade de poder é apenas força de vontade de um tipo de forma negativa. Através de todas as suas baladas ecoa a suave lamentação de pesar; quão sem propósito e portanto quão triste é este mundo! A própria natureza encontra-se tingida com este pesar; o Outono sempre à espreita em emboscada apesar dos bosques e dos prados estarem brilhantes e com felizes flores de Primavera; o vento dança entre as folhas caídas e a glória do sol dourado, que mesmo nunca tendo sido tão bonito, deve por fim então repousar. A subjetividade e a conceção de que todas as coisas têm um sentido (e as duas coisas são a mesma) rouba a poesia aos escritores judeus de naiveté, frescura e franqueza, porque os poetas judeus são incapazes de simplesmente desfrutarem dos fenómenos deste mundo, seja o destino humano ou os caprichos da Natureza; eles têm necessidade de cogitar sobre isso e revirá-lo vezes sem conta. Um nenhum lugar é o ar perfumando pela prímula e pela violeta, em nenhum local brilha o borrifo do ribeiro na mata. Mas para compensar a falta destes, eles possuem o maravilhoso aroma de vinho antigo e a charme mágico de um par de belos olhos que tristemente fixam a distância.

Quando esta atitude da mente que busca um propósito em todas as coisas se encontra unida a uma vontade forte, com um largo fundo de energia (como é geralmente o caso do judeu), deixa de ser meramente um ponto de vista; torna-se uma política. O homem define-se a si mesmo um objetivo e busca-o, não permitindo que algo se lhe interponha nesse caminho; ele é determinado, obcecado, para usar outra expressão. Heine, ao descrever a sua gente, chamou-as de obstinadas, e Goethe disse que a essência do caráter judaico era a energia e a busca de fins diretos.

O meu próximo tema é a mobilidade, mas não estou inteiramente seguro se isto pode ser estendido a todos os judeu ou apenas aos judeus asquenazes (alemães). Escritores que cantaram os louvores dos sefarditas (judeus espanhóis) sempre acentuaram um certo ar dignificado que eles possuíam, uma certa arrogância de porte. Os seus irmãos alemães, por outro lado, sempre foram descritos como vivazes, ativos e de algum modo excitáveis. Ainda hoje podem-se encontrar muitos judeus sefarditas, especialmente no Oriente, que se destacam como sendo honrados, pensativos e comedidos, que de modo algum aparentam ter aquela mobilidade, moral e física, que tão comummente é associada aos judeus europeus. Mas mobilidade de mente – perceção rápida e versatilidade mental – todos os judeus possuem.

Estes quatro elementos, intelectualidade, teleologia, energia e mobilidade, são as pedras angulares do carácter judaico, tão complicado na sua natureza. Acredito que todas as características do judeu podem facilmente ser rastreadas a um ou mais destes elementos. Tomem-se dois que são de especial importância na vida económica – atividade extrema e adaptabilidade.

O judeu é ativo, ou se se preferir, industrioso. Nas palavras de Goethe, “Nenhum judeu, nem mesmo o mais insignificante, não se encontra atarefado na busca de qualquer fim mundano, temporário e momentâneo.” Esta atividade muitas vezes degenera em inquietação. Ele tem que sempre encontrar-se em ebulição, sempre a dirigir ou a levar algo à sua fruição. Ele encontra-se sempre em movimento, e não se preocupa muito se se torna um distúrbio para aqueles que descansariam se pudessem. Todos os “affairs” musicais e sociais nas nossas grandes cidades são levados a cabo por judeus. O judeu nasce já pregador do progresso e das suas bençoes multifacetadas. E porquê? Porque o seu sentido prático e a sua mobilidade combinaram com a sua intelectualidade. A última mais especialmente, porque nunca atinge uma raiz profunda. Toda a intelectualidade no longo termo torna-se superficialidade; nunca permite atingir as raízes próprias de um assunto, nunca atinge as profundidades da alma, ou as do universo. Por isso a intelectualidade facilmente permite ir de um extremo ao outro. Essa é a razão por que se encontra entre os judeus, lado a lado, ortodoxia fanática e dúvida não iluminada; ambas brotam de uma mesma fonte.

Mas a esta intelectualidade vã devem os judeus talvez a mais valiosa das suas características – a sua adaptabilidade – que é única na história. Os judeus sempre foram um povo obstinado, e a sua adaptabilidade, não menor que a sua capacidade para manter os traços nacionais, são ambas derivadas da mesma causa. A sua adaptabilidade permitiu-lhes submeterem-se no tempo coevo, se as circunstâncias assim o exigissem, às leis da necessidade, para voltarem aos seus modos habituais assim que melhores dias aparecessem. Da antiguidade, o caráter judeu era ao mesmo tempo resistente e submissivo, e apesar de estas características poderem parecer contraditórias, tal o é apenas aparente. Como Leroy-Beaulieu bem disse, “O judeu é ao mesmo tempo o mais obstinado e o mais flexível dos homens, o mais teimoso e o mais maleável”.

Os líderes e os homens “sábios” do povo judaico foram em todas as todas as épocas conscientes da importância, não, da necessidade, desta flexibilidade e elasticidade, se Israel quisesse continuar, e portanto nunca se cansavam de insistir sobre isso. A literatura judaica abunda em exemplos. “Sejam flexíveis como a cana que o vento sopra nesta direção e naquela, porque a Torá apenas pode ser observada por aquele que é dotado de um espírito contrito. Porque é a Torá associada à água? Para te dizer que como a água nunca corre para as alturas mas antes corre com os modestos”. Ou de novo, “Quando a raposa está em posição de poder, curva-te perante ele.” Uma vez mais, “Encolhe-te perante a onda e ela passa sobre ti; opõe-te a ela, e ela levar-te-á.” Finalmente, a suplicação do Livro da Prece [Sidur] diz deste modo: “Que a minha alma seja como o pó para todos.”

Era neste espírito que os Rabis aconselhavam os seus rebanhos a fingir aceitar as fés dominantes naqueles países onde a sua existência dependesse da renunciação à sua. O conselho era seguido em larga medida, e nas palavras de Fromer, “A raça judaica, ao simular a morte de tempos em tempos, conseguiu sobreviver continuamente.”

Existem poucos, se alguns, cristãos ou muçulmanos dissimulados. No entanto, o incrível poder dos judeus para se adaptar ao seu ambiente tem maior extensão que nunca. O judeu da Europa Ocidental e da América hoje não mais deseja manter a sua religião e o seu caráter nacional intactos; pelo contrário, ele deseja, quando o espírito nacionalista ainda não acordou nele, perder as suas características e assimilar-se com os povos no meio dos quais o seu fado ditou viver. E isto também ele conseguir atingir com sucesso.

Talvez a ilustração mais clara do modo em que os traços judaicos se manifestam é no facto de que o judeu em Inglaterra torna-se um inglês, em França, um francês, e por aí adiante. E se ele não se torna realmente um inglês ou francês, ela aparenta ser um. Que um Felix Mendelssohn escreva música alemã, que um Jacques Offenbach francesa e um Sousa Yankee Doodle; que Lord Beaconsfield se estabelece como um nobre inglês, Gambetta como um francês, Lassale como um alemão; resumindo, o talento judeu tem tantas vezes nada de judeu acerca dele, mas ser de acordo com a sua circunstância, tem vezes sem conta, curiosamente, sido tomado como prova de que não existem características especificamente judaicas, onde na verdade prova o exato oposto de forma muito clara. Prova de que os judeus têm o dom da adaptabilidade num grau eminentemente elevado. O judeu pode ir de um planeta para outro, mas a sua estranheza entre as novas circunstâncias não se manterá por muito tempo. Ele rapidamente pressente o seu caminho e adapta-se com facilidade. Ele é alemão onde ele quer ser alemão, e italiano se tal lhe servir melhor. Ele faz tudo e participa em tudo, e com sucesso. Ele consegue ser um puro magiar na Hungria, ele pode pertencer aos irredentistas em Itália, e ser um antissemita em França (Drumont!). Ele é adepto de tomar para si o que ainda se encontra a germinar, e a levá-lo consigo até ao total desabrochar. E toda a sua adaptabilidade permite-lhe fazê-lo.

Já tinha dito que esta capacidade particular para a adaptabilidade está enraizada em quatro elementos do carácter judaico. Mas talvez o racionalismo do judeu é responsável por isto num grau mais elevado que as outras três. Por causa do seu racionalismo ele é capaz de olhar para tudo de fora. Se o judeu for alguma coisa, não é porque ele a tal o deva mas porque ele assim o decide. Quaisquer convicções que ele tenha não nascem da sua alma mais íntima; são formuladas pelo seu intelecto. O seu ponto de vista não se encontra na terra sólida mas sim num castelo imaginário no ar. Ele não é organicamente original mas mecanicamente racional. A ele fata profundeza de sentimento e força de instinto. É por isso que ele é o que é, mas também pode ser diferente. Que Lord Beaconsfield tenha sido um Conservador foi devido a algum acidente ou outro, ou a qualquer conjetura política; mas Stein e Bismarck e Carlyle foram Conservadores porque não o conseguiram evitar; estava-lhes no sangue. Tivessem Marx ou Lassale nascido noutra era, ou noutro ambiente, poderiam ter-se facilmente tornado Conservadores em vez de Radicais. Na verdade, Lassale já se encontrava a coquetear com a ideia de se tornar um reacionário, e sem dúvida ele teria feito o papel de um junker prussiano de forma tão brilhante como a de um agitador socialista.

A força motriz da adaptabilidade judaica é claro a ideia de um propósito, de um objetivo, como o fim de todas as coisas. Uma vez tendo o judeu decidido que linha irá seguir, o resto é comparativamente fácil, e a sua mobilidade só torna o seu sucesso mais seguro.

O quão móvel o judeu consegue ser é incrível. Ele é capaz de dar de si a aparência pessoal que mais desejar. Como antigamente ele era capaz de simular a morte para se defender, hoje o mesmo acontece pela adaptação colorida ou por outras formas de imitação. As melhores ilustrações podem ser coligidas nos Estados Unidos, onde o judeu de segunda ou terceira geração é com muita dificuldade distinguível do não-judeu. Nota-se o alemão independentemente de quantas gerações; o mesmo com o irlandês, o sueco, o eslavo. Mas o judeu, desde que as suas características físicas raciais assim o permitam, tem tido sucesso a imitar o tipo yankee, especialmente no que concerne aos seus traços externos como as roupas, a postura e os particulares modos de penteado.

Ainda mais fácil, à conta da sua mobilidade mental e moral, é para o judeu fazer da atmosfera intelectual dos seus arredores a sua. A sua mobilidade mental permite-lhe rapidamente apreender o “tom” de qualquer círculo, notar rapidamente o que interessa, rapidamente sentir o melhor caminho para si. E a sua mobilidade moral? Tal permite-lhe remover obstáculos problemáticos, sejam éticos ou ascéticos, do seu caminho. E ele faz isto com tanta maior facilidade porque ele apenas possui em menor grau o que pode ser cunhado por dignidade pessoal. Significa pouco para ele ser falso para ele próprio, se tal é uma questão de alcançar o objetivo desejado.

Será este quadro fiel à vida? A óbvia adaptabilidade do judeu às condições flutuantes da luta pela existência é prova suficientemente bastante. Mas existe ainda mais prova em alguns dos dons especiais que o judeu possui. Refiro-me ao seu inegável talento para o jornalismo, para a barra, para o palco, e tudo isto é conduzível à sua adaptabilidade.

Adolf Jellinek, no livro que referimos mais que uma vez, pintou um quadro engraçado que mostra a conexão entre as duas. “O jornalista”, diz ele, “deve ser rápido, móvel, vivaz, entusiástico, capaz de analisar rapidamente e assim rapidamente em juntar as peças do puzzle; deve ser capaz de entrar in media res, captar a essência do problema do momento ou do facto principal do debate na sua mente; tem de ser capaz de lidar com o seu sujeito com limites claros e bem demarcados, de descrever epigraficamente, antiteticamente, sentenciosamente, em frases curtas e suficientes, de dar-lhes vida por intermédio de um determinado patos, de dar-lhes cor por intermédio do espírito, de torna-las picantes por intermédio de tempero.” Não serão todos estes traços judaicos?

A vocação do ator, não menos que a do barrista, depende para ter sucesso na sua habilidade para se colocar rapidamente num estranho mundo de ideias, de tomar a correta visão do homem e das suas condições sem muita dificuldade, de formar uma estimativa correta delas e de as usar para o seu próprio fim. O dom do judeu para a subjetividade joga aqui a seu favor, pois com a sua ajuda ele pode facilmente colocar-se na posição do outro, pensar por ele e defendê-lo. Para ser claro, a jurisprudência é o cerne das matérias da literatura judaica!


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