Terminamos aqui a nossa incursão pelo livro de Sombart, 'os Judeus e o Capitalismo Moderno', mais concretamente o capítulo XII do mesmo.
Nesta última secção, Sombart estabelecesse de forma sistematizada o paralelismo entre a mentalidade capitalística e a judaica, concluindo que as condições para o sucesso na primeira encontram-se de sobre-maneira representadas no génio judaico típico.
Mais uma vez, aconselhamos vivamente a leitura do obra completa, que promove uma introdução a todos os títulos brilhante à génese do moderno espírito financeiro no Ocidente e a correspondente influência judaica.
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Agora aparece a questão, como e de que modo as
características judaicas permitiram aos judeus tornaram-se financiadores e
especuladores, para de facto se envolverem com tanto sucesso em atividades
económicas dentro da estrutura do sistema capitalístico como a que tiveram como
matemáticos, estatísticos, médicos, jornalistas, atores e advogados? Em que
medida este talento para o empreendedorismo capitalista brota dos elementos do
caráter judeu?
Falando genericamente, podemos afirmar em relação a
isto o que já afirmamos sobre o capitalismo e a religião judaica, de que as
ideias fundamentais do capitalismo e aquelas do caráter judeu mostram uma
similaridade única. Portanto temos um paralelismo triplo entre o carácter
judaico, a religião judaica e o capitalismo. O que já descobrimos ser o todo
envolvente traço do povo judeu? Não o era a extrema intelectualidade? E não é a
intelectualidade a qualidade que diferencia o sistema capitalista de todos os
outros? A habilidade organizativa nasce da intelectualidade, e no sistema
capitalista encontramos a separação entre a cabeça e os braços, entre a tarefa
de dirigir e aquela de produzir. “Para o melhor trabalho se encontrar
totalmente finalizado, são necessárias mil mãos, mente apenas uma.” Isto resume
o estado de coisas capitalístico.
A mais pura forma de capitalismo é aquela onde as
ideais abstratas se encontram mais claramente expressadas. Que elas são parte e
parcela do caráter judaico, já o notámos; não é agora ocasião para aprofundar a
relação próxima entre o capitalismo e o judeu. De novo, as qualidades de abstração
no capitalismo manifestam-se na substituição de todas as diferenças qualitativas
pelas meramente quantitativas (valor de troca). Antes do capitalismo aparecer,
a troca era um processo plurilateral, multicor e técnico; agora é apenas um ato
especializado – aquele do mercador: antes existiam muitas relações entre
comprador e vendedor; hoje só existe uma – a comercial. A tendência do
capitalismo tem sido a de se livrar dos diferentes modos, costumes, dos contrastes
locais e nacionais, e de estabelecer no seu lugar o nivelamento morto da cidade
cosmopolita. Resumindo, tem existido uma tendência em direção à uniformidade, e
nisto o capitalismo e o liberalismo têm muito em comum. Ao liberalismo já concluímos
ser um parente próximo do judaísmo, e portanto encontramo-nos com o trio
aparentado do capitalismo, liberalismo e judaísmo.
Como é a semelhança interior entre o primeiro e o
último melhor manifestada? Não é através da agência do dinheiro, pelo meio do
qual o capitalismo prospera tão bem na política de levar a cabo uma
uniformidade tediosa? O dinheiro é o denominador comum, em termos pelos quais
todos os valores são expressos; ao mesmo tempo, é o todo abrangente objetivo da
atividade económica no sistema capitalístico. Então uma das conspicuidades de
tal sistema é o sucesso. É de outro modo com o judeu? Não faz este também do
aumento do capital o seu objetivo principal? E não só porque a abstração do
capital é congenial à alma do judeu, mas também porque a grande conta com que o
dinheiro é levado em conta (no sistema capitalista) é uma nota simpatética para
o caráter judaico – a sua teleologia. O ouro torna-se o grande expediente, e o
seu valor surge do facto de que pode ser realizado para muitos fins.
Necessita-se de pouco esforço para demonstrar que uma natureza focada em
trabalhar com vista a uma objetivo deva-se sentir atraída para algo que tem
valor apenas porque é um meio para um fim. Mais, a teleologia do judeu confirma
que ele premeia o sucesso. (Outro ponto de similitude, portanto, com o
capitalismo.) Porque ele premeia o sucesso de forma tão elevada, ele sacrifica
o hoje pelo amanhã, e a sua mobilidade só o ajuda para o executar ainda melhor.
Aqui de novo observamos uma semelhança com o capitalismo. O capitalismo
encontra-se constantemente na busca de algo novo, por algum modo de o expandir,
de obter hoje com o motivo do amanhã. Pense-se em todo o nosso sistema de
crédito. Não se torna esta característica suficientemente clara? Agora
lembre-se também que os judeus encontravam-se totalmente à vontade na
organização de crédito – no qual valores ou serviços que poderão, ou podem,
tornar-se efetivos em alguma altura no futuro, são postos à disposição hoje. O pensamento
humano pode claramente imaginar experiências e necessidades futuras, e o
crédito proporciona a oportunidade através de atividades económicas atuais de
produzir valores futuros. Que o crédito é extensivamente encontrado na vida
moderna é algo fútil de demonstrar. A razão é igualmente óbvia: oferece
oportunidades de ouro. Verdade, temos de desistir das satisfações que nascem de
“nos atirarmos de cabeça para o presente.” Mas o que importa isso? O caráter
judeu e o capitalismo têm mais um ponto em comum – o racionalismo prático, pelo
qual quero dizer o modelar de todas as atividades de acordo com a razão.
Para tornar todo o paralelismo ainda mais claro,
deixe-se-me ilustrá-lo por exemplos concretos. O judeu encontra-se bem equipado
para fazer o papel de empresário pela sua força de vontade e o seu hábito de se
estabelecer num determinado objetivo. A sua mobilidade intelectual é
responsável pela sua prontidão para descobrir novos métodos de produção e novas
possibilidades de marketing. Ele é adepto de formar organizações novas, e nesta
a sua peculiar capacidade para descobrir para o que um homem se encontra melhor
capacitado só o beneficia. E desde que no mundo do capitalismo não existe nada
de orgânico ou natural mas apenas o que é mecânico ou artificial, a falta de
entendimento do judeu acerca do primeiro não é de consequência. É por tal razão
que os judeus são tão bem-sucedidos como organizadores de enormes empreendimentos
capitalistas. De novo, o judeu consegue facilmente compreender relações impessoais.
Já notámos que ele só possui o sentimento de dependência pessoal em pequena escala.
Portanto, ele não se preocupa com o vosso “patriarcalismo” grisalho e presta
pouca atenção aos traços de sentimentalidade que são encontrados nos contratos
de trabalho. Em todas as relações entre vendedores e compradores, e entre
empregadores e empregados, ele tudo reduz a uma base legal e puramente
comercial. Na lutar dos trabalhadores para obterem acordos coletivos entre eles
e os patrões, que deverão regular as condições do seu trabalho, o judeu
encontra-se invariavelmente do lado dos primeiros.
Mas se o judeu encontra-se bem equipado para ser um
empresário, ainda mais o será para o papel de mercador. As suas qualidades a
este respeito são praticamente inumeráveis.
O negociante habita em números, e em números o
judeu sempre se encontrou no seu elemento. O seu amor pelo abstrato tornou os
cálculos fáceis para ele; é o seu ponto forte. Agora, um talento calculador
combinado com uma capacidade para sempre trabalhar com um fim à vista, já conquistou
meia-batalha para o negociante. Ele encontra-se capacitado para sopesar as
hipóteses, as possibilidades e as vantagens de qualquer situação dada, de eliminar
tudo que é desnecessário, e para avaliar tudo em termos de números. Dê-se a
este calculador sóbrio uma forte dose de imaginação e encontrar-se-á o perfeito
especulador. Para fazer o inventário de qualquer estado de coisas a uma grande
velocidade, para prever mil eventualidades, capturar a mais valiosa e agir de
acordo com tal – isso, como já apontámos, é o objetivo do negociante. Para tudo
isto o judeu possui as necessárias dádivas da mente. Gostaria de enfatizar
expressamente o parentesco próximo entre as atividades do inteligente
especulador e aquelas do médico inteligente que consegue com sucesso
diagnosticar uma doença. O judeu, por causa destas qualidades, encontra-se eminentemente
equipado para ambas.
Um bom negociante tem de ser um bom negociador. Que
mais inteligentes negociadores existem para além dos judeus, cuja habilidade
nesta área há muito foi reconhecida e utilizada? Para se adaptar às
necessidades de um mercado, para cumprir qualquer específica forma de
exigência, é o requisito primordial para o negociante. Que o judeu com a sua de
adaptabilidade pode-o fazer melhor que ninguém é óbvio. A segunda é o poder de
sugestão, e nisto o judeu encontra-se bem qualificado pela sua capacidade de colocar-se
na situação do outro.
Para onde olharmos a conclusão que se força em nós é
de que a combinação deste cardápio de qualidades não se encontram tão
perfeitamente representadas como no judeu para a realização dos melhores
resultados capitalistas. Não existe necessidade para mim de levar o paralelismo
ainda mais longe; o leitor inteligente pode facilmente fazê-lo pelos seus meios.
Apenas direcionaria a sua atenção para mais um ponto antes de deixar este
assunto – o paralelismo entre a inquietação febril do negócio da bolsa de
valores, sempre obcecado em perturbar a tendência em direção a um equilíbrio, e
a agitada natureza do judeu.
Noutro lugar procurei caracterizar o empreendedor
ideal em três palavras – ele deve ser desperto, inteligente e industrioso. Desperto:
isto é dizer, rápido de entendimento, certeza no julgamento, deve pensar duas
vezes antes de falar e ser capaz de atacar no momento correto. Inteligente: isto
é dizer, ele tem de possuir um conhecimento do mundo, deve estar seguro de si
no seu julgamento e no seu tratamento de homens, certo do seu julgamento numa
dada conjetura; e, acima de tudo, familiar com as fraquezas e os erros daqueles
à sua volta. Industrioso: isto é dizer, cheio de ideias. O empreendedor
capitalista tem de possuir três qualidades adicionais: ele tem de ser ativo,
sóbrio e minucioso. Por sóbrio, quero dizer livre de paixão, de sentimento, de idealismo
impraticável. Por minucioso, quero dizer confiável, consciencioso, ordenado,
arrumado e frugal.
Acredito que este esboço grosseiro irá, em traços
largos, representar o empreendedor capitalista e, não menos, o judeu.
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