Quinto Horácio Flaco (Carminas, III, 25,27) descreveu a tarefa de toda a arte,
especialmente a poesia, a de ser de criar “nada pequeno ou de maneira baixa” (nil parvum aut himili modo). No entanto
a literatura mais popular do Oeste livre, e a cultura dos mass media, hoje enfatiza
as não importantes experiências sexuais do homem desenfreado, amiúde de uma
maneira decadente e suja, e isto é descrito pelos muitos críticos de jornal
como “arte”. As igrejas também patrocinam estas formas de arte para as massas e
pretendem assegurar a participação da juventude oferecendo Jazz e ritmos
negros. O melhor exemplo da experiência sexual pura, como atingida na nil parvum aut hilimi modo de Horácio,
pode ser encontrado no verdadeiro Indo-Europeu Homero. De acordo com C. F. von
Nagelsback (Himerische Theologie, terceira
edição, editado por G. Autherieth, 1884, p.229) Homero sempre representou a
sensualidade sem luxúria e sem falsa virtuosidade e nunca de forma encantadora
ou sedutora ou com excitação sensual na mente; ele era um dos mais inocentes
poetas de todos os tempos e inclusive a descrever cenas sexuais, ele nunca usou
uma palavra que excedesse os requerimentos artísticos. Este é outro exemplo de
como o Indo-Europeu ligava liberdade com dignidade.
Na Europa e na América do Norte,
indivíduos que ainda eram capazes da sua própria dignidade, do qual o Commonplace Book de Thomas Jefferson, o
distinto terceiro Presidente dos Estados Unidos da América, é um exemplo – têm
sido substituídos por massas que por religiosidade só entendem um apêndice a
uma confissão necessária para benefício próprio. Não há esperança possível, sob
estas circunstâncias, que uma grande espiritualidade ou cumes religiosos que
foram atingidos pelos Indo-Europeus que viviam na Europa e Índia em vários períodos
da Idade de Bronze até ao século dezanove possam ser igualados de novo. Para
uma cultura mundial que os progressistas querem construir, uma elevação do
espírito acima e para além das necessidades de entretenimento das massas -
acima do Jazz e do ritmo negro – não pode ser mais desejada, já que o que os europeus
e norte-americanos têm a oferecer hoje às massas “não evoluídas” (que, no
entanto, poderiam ter utilizado dos 10.000 até 20.000 anos que passaram desde o
fim da Velha Idade da Pedra para o seu próprio desenvolvimento), não é nada
mais que a “cultura” da vacuidade espiritual de um estado providência governado
por autoridades sem alma. Em tais sociedades, a Imprensa, literatura, rádio,
televisão e filmes e outros média disponibilizam às massas um “tensionamento”
ou ”distensionamento” controlados que
alternativamente promovem esta ou aquela crença ou descrença. Com a crescente
extinção de famílias capazes de liberdade espiritual, e com o crescente
desaparecimento de talentos, particularmente entre as gentes da América do
Norte e Europa capazes de liderança espiritual, não pode ser expectável
alternativa ao desaparecimento dos últimos vestígios restantes do Povo
Indo-Europeu e sua cultura.
Thomas Jefferson (1743-1826), um
dos fundadores do estado livre da Virgínia, autor da Declaração da
Independência (1776), Governador da Virgínia, embaixador em Paris, Ministro dos
Negócios Estrangeiros sob George Washington e de 1801 a 1809 Presidente dos
Estados Unidos, procurou ver no seu povo uma nação de pequenos proprietários
rurais que desconfiavam do comércio e da emergente indústria citadina, que ele
considerava inimigos da liberdade. Jefferson procurava proteger a liberdade e
dignidade do homem individual do estado, ao qual ele então desejava permitir só
um mínimo de poder. Para proteger esta aristocracia agrícola gozadora de uma
liberdade Indo-Europeia ele procurou evitar a centralização do estado a favor
de uma frouxa federação ou associação das antigas colónias inglesas. Mas depois
da era agrícola, a urbanização e a industrialização da era industrial trouxe as
massas urbanas cuja necessidade de segurança se tornou maior que o real ou
pretenso anseio de liberdade. Segurança contra (no sentido Indo-Europeu) o
destino – segurança cobarde contra todas as situações difíceis de vida – só
pode ser atingida num estado baseado em burocracia, um estado que é assim
sendo, por necessidade, desumano. O excessivo número de departamentos
protetores e de medidas repressivas, bem como o grande número de burocratas em
posições de dependência, gradualmente asfixia a liberdade de quaisquer
indivíduos ainda capazes de uma conduta de vida dignificada e corajosa.
(Tacito: Anais, XXXVII: corruptissima in re publica plurimae leges.)
No Inverno de 1791-1792, Wilhelm
von Humboldt, o amigo de Schiller, e como Schiller um dos grandes
Indo-Europeus, escreveu um livro: Ideen
zu einem Versuch, die Grenzen der Wirksamkeit des Staates zu bestimmen (Uma
tentativa para determinar os limites da efetividade do Estado). Neste trabalho
ele procurou salvaguardar a humanitas
e a dignitas, a dignidade do homem,
da patronização de estados sociais de governo. No entanto, com o século vinte,
mais e mais países, incluindo os uma vez tão livres ingleses, e, na sua senda,
a América do Norte, tornaram-se “socializados”, estados sociais burocráticos,
cujas massas, sobrecarregadas por milhares de funcionários e organizações,
começaram a esquecer a liberdade e a dignidade através do distensionamento a
eles oferecido. Com a perda da liberdade e dignidade na vida política e social,
como é possível a preservação dos valores espirituais tradicionais?
Um dos primeiros a reconhecer que
a era do indivíduo libre, capaz de auto-determinação, estava a chegar ao fim, e
que com a deslocação deste livre, auto-suficiente homem, a dignidade humana
iria desaparecer da vida pública, foi o Conde normando Alexis de Tocqueville
(1805-1859), amigo do Conde Arthur Gobineau (1816-1882). Os seus trabalhos O Regime Antigo e a Revolução (7th edição,
1866) e os Souvenirs de Alexis de
Tocqueville (1893), que não foram publicados até trinta e quatro anos
depois da morte do autor, só o foram na Alemanha quando era tarde de mais para salvar
a liberdade do indivíduo. De Tocqueville estudou a natureza das democracias
como se mostravam na sua terra de origem, na América do Norte, e depois
escreveu o seu livro Da Democracia na
América (1835), uma calorosa e ricamente informativa descrição do estado
livre da América do Norte, no qual avisava dos perigos que visavam as
democracias caídas sob domínio do espírito das massas. Ele temia que o
aparecimento de uma era das massas, com capitalismo estatal e empreendedorismo
controlado pelo estado, iria perverter as democracias a reprimir a liberdade do
homem individual de dignidade – para ele o mais elevado bem humano – pelo que a
democracia iria levar à supressão da liberdade no sentido Indo-Europeu, a
liberdade exigida por Jefferson e por Wilhelm von Humboldt.
Os últimos homens que – não tendo
investigado as suas origens – defenderam a liberdade Indo-Europeia,
nomeadamente a democracia dos pais de família livres e mutualmente iguais
detentores de terra, foram os filósofos ingleses John Stuart Mill (Michael St.
John Packe: The Life of John Stuart Mill,
1954, pp. 488) e Herbert Spencer. J. S. Mill escreveu um livro Sobre a Liberdade em 1859. Com uma
intuição quase incompreensível Mill reconheceu a ameaça à dignidade e à
liberdade do independente e auto-suficiente homem pensante que era incorporada
na “liberdade” das massas citadinas. Mill temia
que a tirania das maiorias e das assembleias populares, a repressão daqueles
capazes de discernimento pela massa de opiniões públicas flutuantes. Ele temia
que o ideal chinês da igualdade de todos os homens e via – como Goethe na
tragédia A Filha Natural (I, 5) – que
todas as tendências contemporâneas modernas estavam destinadas a redefinir a
era coeva ao aprofundar abismos e ao rebaixar os picos. Quando os homens são
feitos “iguais” por lei, todos os desvios desta uniformidade seriam condenados
como perversos, imorais, monstruosos e não naturais (John Stuart Mill: A Liberdade, 1859). Consequentemente no
ano 1859, quando a Inglaterra ainda era livre, essa mesma conformidade era já
predita, contra a qual até os escritores de jornais e literatura de circulação
de massa hoje se queixam.
Para John Stuart Mill a liberdade
do indivíduo era o bem mais elevado. Ele começou com o ponto de vista de Adam
Smith e de David Ricardo e inclinou-se para o socialismo, mas temia que o abuso
da liberdade pelos partidos e maiorias iria levar ao comando das massas, ao fim
da competição e ao abolicionismo das possessões individuais, as quais favoreceriam
os estúpidos e os preguiçosos, roubando dos inteligentes e dos industriosos.
Por esta razão Mill também advogava Malthusianismo e planeamento familiar, porque
famílias com muitas crianças, economicamente incapazes de se suportar,
constituiriam uma ameaça ao estado.
Herbert Spencer encontrou o mais
alto grau de liberdade no estado em Inglaterra em meados do século dezanove, o
maior grau de liberdade para homens de julgamento independente e de consciência
independente. Mas quando ele escreveu os seus Princípios de Sociologia em 1896, ele reconheceu que esta liberdade
já se encontrava ameaçada pelo socialismo. Socialismo, ele disse, iria aparecer
em todas a sociedades industriais e iria reprimir todas as liberdades;
socialismo que em si se iria tornar outra forma de sujeição, simplesmente outra
forma do regime burocrático, e portanto se iria tornar no maior infortúnio que
o mundo já tinha experimentado; ninguém de novo faria o que lhe apeteceria, qualquer
teria de fazer o que fosse ordenado a fazer. Uma total e absoluta perda de
liberdade seria o resultado. Herbert Spencer poderia ter acrescentado que só
uma minoria de homens capazes de pensamento independente se iria arrepender da
perda de independência num estado burocrático, protetor, enquanto a sólida maioria
(Ibsen: Um Inimigo do Povo) iria
preferir a proteção estadual à liberdade, sendo incapazes de entender a
liberdade de Jefferson ou de Wilhelm von Humboldt, ou de Mill ou de Spencer
(Herbert Spencer: Princípios de Sociologia,
Vol. III, 1897, pp. 585, 595).
Em duas contribuições para os
seus Ensaios (Ensaios: Científico,
Político e Especulativo, Vol. II, 1883, pp. 48, 56, 66, 94, 100, 104; Vol.
III, 1878, pp. 181, 186) Herbert Spencer, o Liberal, sumarizou como o
socialismo – quando finalmente tiver penetrado todos os partidos – iria
reprimir a liberdade do indivíduo para vocalizar a opinião independente;
através de uma inundação de leis iria surgir, apoiada por uma fé cega das
massas socialista em decretos e na maquinaria governamental, um estúpido e ponderoso
estado burocrático; o estado iria desencorajar os seus cidadãos de se ajudarem
a si próprios, e a ninguém seria permitido retirar-se das instituições
nacionais, como poderiam das privadas, quando estas quebravam ou se tornavam
excessivamente dispendiosas; a fé cega na burocracia, acima de tudo na forma
Fascista ou Nacional-Socialista, levou ao surgimento, como Spencer temia, na fé
cega no governo, num fetichismo político. Mas onde os governos socialistas
foram permitidos a governar sem contestação por décadas, burocracia, controlo
estatal e fetichismo estatal instalaram-se, e com eles uma ainda consequente
repressão da liberdade do indivíduo, daquela liberdade Indo-Europeia e acima de
tudo Teutónica, emanante do espírito dos chefes de família detentores de Terra,
iguais entre eles, sobre a qual Spencer e os liberais do seu dia estavam
preocupados – apesar de eles não terem notado que as raízes desta liberdade
eram historicamente Indo-Europeias.
Um poderia descrever os teutões
como naturais democratas, se por democracia um entender a liberdade auto-consciente
e a igualdade do proprietário rural. A democracia deste tipo irá sempre seguir
o comando, encontrado no Edda (Grogaldr,
VI, Der Zaubergesang der Groa, Edda,
Vol. II, 1920, p. 178): “Conduz-te!”. Esta liberdade, a dignificada liberdade encontrada
somente no homem capaz de autodeterminação, foi mantida na Islândia, de onde proprietários
livres noruegueses se auto-removeram para evitar a conversão forçada ao
Cristianismo às mãos dos recém-convertidos Reis noruegueses, com tal determinação,
que o observador moderno deve duvidar se o estado livre da Islândia pode no
geral ser chamado um estado.
Do mesmo modo Eduard Meyer (Geschichte des Altertums, Vol. I, 2,
1909, p. 777) aludiu ao individualismo e auto-determinação que caracterizam os
Indo-Europeus, ao individualismo do homem auto-determinado, hostil a todo o
tipo de liderança, até ao ponto de frequentemente provar ser um perigo à sua
própria nação ou estado. O próprio Bismarck foi testemunho desta
individualidade quando disse que estava menos preocupado em dar ordens do que
punir desobediência. Tal visão é expressa na divisa, válida antes na Alemanha, Selbst ist der Mann — Depende de Ti
Próprio — e esta visão recusa a caridade de qualquer outro, incluindo vinda do
estado. Tal corresponde a uma afirmação verdadeiramente Indo-Europeia do Imperador
Marco Aurélio Antonino (Observações,
III, 5): “Deves manter-te de pé direito, sem seres apoiado por outros!” No Agamémnon (775) de Ésquilo, o rei do
exército heleno, primeiro entre iguais, expressou a visão de que ele tinha as
suas próprias convicções, à parte da dos seus cidadãos. Com Sófocles (Aias, 481) o Coro confirma a Aias, que
livremente escolheu a morte, que ele nunca falou uma palavra que não tenha
procedido da sua própria natureza.
Mas tais atitudes têm tendido a
desaparecer ultimamente entre os povos Indo-Europeus - correspondendo ao
desaparecimento do homem capaz de pensamento e opinião independente, o
verdadeiro homem livre. Recentemente, através de uma acumulação de homens
incapazes de pensamento independente, as massas citadinas apareceram, as quais
apenas desejam ser guiadas: não é mais “guia-te a ti próprio – próprio!” mas
“Líder, comanda e nós seguiremos!”. Em tais períodos, a verdadeira liberdade Indo-Europeia
desaparece. Marco Túlio Cícero (de
officio, I, 112- 113), imbuído com a tradicional liberdade de uma república
aristocrata e conhecedor através de Panécio de Rodes das doutrinas de liberdade
dos pensadores Helénicos, ainda arriscou elogiar o oponente morto de Júlio
César, Catão Uticense, durante o período de ditadura daquele. Depois da batalha
de Tapso, muitos romanos aceitaram o governo a solo do líder conquistador das
massas citadinas (que se consistiam predominantemente de homens libertos,
antigos escravos), o dictator perpetuus, Júlio
César. Não, no entanto, Catão Uticense, um dos últimos homens livres da
aristocrática república romana: O amor de Catão à liberdade ensinou-o a
escolher a morte sobre a opção de viver sob tirania.
O trabalho histórico de Tácito,
que já acima foi mencionado, revela que a liberdade Indo-Europeia (libertas) só é possível numa sociedade de indivíduos capazes de julgamento
independente, que contam com os seus próprios recursos e que não precisam de ser
apoiados. Herbert Spencer já tinha visto, para os finais do século dezanove,
que tal liberdade já não seria viável em sociedades industriais.
A liberdade espiritual e a
dignidade humana Indo-Europeia foram representadas com a maior beleza pela arte
clássica dos helenos e este espírito fala com irrepreensível vigor e claridade
das esculturas que representam pensadores e poetas helenos (K. Schefeld: Die Bildnisse der antiken Dichter, Redner
und Denker, 1943) – esculturas que não poderiam ter sido criadas não sendo
os mesmos artistas conscientes desta liberdade e dignidade. Uma grande parte da
altamente elogiada arte dos dias de hoje, a arte do “Ocidente livre”, expressa
em palavra e em imagem um enojamento que é talvez desculpável – com o homem
espécie, frequentemente até com o próprio “artista”, e é óbvio que como tal,
não pertence já ao espirito do Ocidente, primeiro representado à perfeição
pelos Helenos. O Ocidente do dia presente, na medida em que é representado por
“artistas famosos”, já não é capaz de alcançar a totalidade do mundo ou da
imagem humana. Está satisfeito em produzir fragmentos distorcidos que são então
considerados com assombro pela Imprensa como asserções sobre os “essenciais”.
Escritores, pintores, escultores e construtores representam – à semelhança da
sua imagem, criaturas que não chegam nem perto à nobreza humana, culturalmente
chegadas aos lémures - “meias-naturezas” formadas por compostos de ligamentos,
tendões e ossos (Goethe: Fausto, II,
Act 5, Great Courtyard of Palace), “meias-naturezas” cuja microcefalia e
desorientação parecem simbolizar a rejeição da razão, logos, ratio dos “artistas” da era presente. Quanto às letras de
música dos dias correntes, Hugo Friedrich (Die
Struktur der modernen Lyrik, 1961) fez uma penetrante análise deles desde
Baudelaire até ao dia presente e delineia uma tendência descendente que reflete
o declínio do Ocidente, apesar de não tentar avaliar o nível artístico do
lirismo moderno ou discutir a questão se poderá ainda ser considerado
ocidental.
O declínio da dignidade humana e
da liberdade pelo socialismo, que exigiria tanto poder estadual quanto possível
foi também temido por Friedrich Nietzsche, que, como Jefferson e Wilhelm von
Humboldt, recomendava tão pouco estado como possível, e finalmente chamou ao estado
o mais frio de todos os monstros frios (Assim
falava Zaratustra: Do novo Ídolo). Hoje
tal opinião incorreria em ação disciplinar contra o seu autor – não só nos
estados europeus de Leste. Socialismo, de acordo com Nietzsche (Edição de bolso, Vol. III, pp. 350-351),
cobiçou “a totalitarização do poder estadual como só o despotismo teve, de
facto tendo-o ultrapassado já que ambicionou à formal abolição do indivíduo”. De
um Estado Mundial a uma República Mundial, que é hoje considerada pelos crentes
“progressistas” como o objetivo desejado da humanidade, Nietzsche esperava nada
diferente que o desaparecimento final de todos os restos de liberdade e de dignidade
humana “Quando o planeta for subjugado a um todo-abrangente controlo económico,
então o género humano vai descobrir que foi reduzido a mera maquinaria ao seu
serviço, como um monstruoso sistema mecânico ainda mais pequeno, com rodas
dentadas finamente ajustadas.” (Nietzsches
gesammelte Werke, Musarionausgabe, Bd. XIX, 1962, p. 266; cf. também Charles
Andler: Nietzsche, Sa Vie et sa Pensée, Vol. III, 1958, pp. 201 et seq.).
O declínio da liberdade e
dignidade humanas sob o socialismo foi também previsto por Gustave Le Bom nos
seus livros Psychologie des Foules
(1895) e Les Lois psychologiques de
l’évolution des Peuples (1894). Le Bon temia que as massas rapidamente
aceitassem toda a subjugação sob líderes de vontade férrea, e que se
dissolvessem as antigas culturas da Europa, e que e sua ilusão de que a
liberdade e igualdade pudessem ser alcançadas pela sempre crescente legislação,
eles legalmente a aniquilariam, já que equivaleriam liberdade a uma falta de
controlo externo. Do Cesarismo, o despotismo dos líderes, as massas esperavam,
não tanto liberdade, a cuja não particularmente buscavam, como a igual subjeção
de todos. O Socialismo do nosso tempo (1895) teria o efeito de absolutismo
estadual, especialmente como o socialismo das massas apareceria como a nova
religião e compeliria à uniformidade. Mais tarde o estado tornar-se-ia Deus
todo-poderoso. A raça da alma dos povos representa a sua condição cultural; a
alma da massa da população representa a condição de barbarismo e declínio.
Theobald Ziegler, Professor de
Filosofia na Universidade de Estrasburgo, afirmou no seu trabalho Die Soziale Frage (1891), um estudo das
ideias socialistas do seu tempo, que a igual subjeção de todos sob a proteção
estadual, era predominantemente uma tendência germânica. Ernst Troeltsch,
Professor de Filosofia na Universidade de Berlim (Das 19. Jahrhundert, Gesammelte Schriften, Vol. IV, p. 640), escreveu em
1925, que a “pressão do poder universal dos estados pesa cada vez mais sob o
povo”. Isto era e é sem dúvida também verdade para os povos que vivem em
democracias, pois como Eduard Schwartz, o historiador (Charakterköpfe der
Antike, 1943), afirmou, a coragem cívica da opinião pessoal, a coragem de
julgamento independente, não eram virtudes nem auto-evidentes nem supérfluas em
democracias. A liberdade do homem de pensamento independente torna-se mais e
mais restrita na era das massas legalmente “libertas”, dos decretos governamentais
e da opinião pública.
No que à falta de dignidade e à falta
de liberdade, aos abismos da vida pública, espiritual e moral, os governos
socialistas podem guiar um povo uma vez nobre e livre, é ilustrado pelo
extraordinário exemplo da moderna Suécia. Testemunha de tal é o socialista sueco
Tage Lindbom, diretor dos Arquivos para a História do Movimento da Classe
Trabalhadora de Estocolmo, um competente perito no seu livro Sancho Panzas Väderkvarnar (1963).
O abuso da liberdade das
comunidades rurais por cidades-massa híbridas foi responsável pela queda da
Grécia Antiga, bem como de Roma. Para Platão (Teeteto, 172-173), a liberdade era a dignificada independência do
homem nobre. No seu trabalho O Estado (Politeia, VIII, 550, 557- 558, 562-564),
ele criticou a liberdade como um slogan para as massas citadinas; um excesso de
tal liberdade iria levar o estado bem como o cidadão a um excesso de
escravidão. Para um homem de dignificada liberdade o fator guia é meramente a verdade
(Platão: Teeteto, 172-173), a qual é
sempre simples; para o homem não-digno, o fator guia em liberdade é o mexerico,
a manha, a lisonja e a persuasão por meios confusos e provas falsas.
Neste caminho a liberdade
desapareceu para o fim da aristocrática república romana, com a extinção da
nobreza (ingenui); sob os Imperadores,
a liberdade dos libertos (liberti),
que mais não era que auto-controle, começou na capital e espalhou-se para todas
as cidades do Império, a liberdade da qual os últimos nobres romanos podiam só
se retirar, trocando a anterior tradição de participar na vida pública estadual
por uma de isolamento. O homem sábio – Cícero uma vez escreveu (Das Leis, I, 61) – mantém que o que as
massas louvam tanto de nada vale. Horácio (Odes,
I, 1; 2, 16, 39, 40), que tinha vivido a transição da república
aristocrática para o Cesarismo dos Imperadores, que favorecia as massas, falou
de um povo comandado pelo mal (malignum
volgus). O comportamento do liberto ao adular os Imperadores foi descrito
com desprezo por Petrónio, que originava de uma família da nobilitas, a nobreza oficial, na sua Cena Trimalchionis. Nesta cena um dos últimos nobres romanos
expressa o seu desdém, com a calma superior do homem que olha para o declínio sem
esperança. No ano 66, Petrónio, até então popular na sua corte, é condenado à
morte por Nero.
A literatura do “Ocidente liberto”
celebrada e elogiada pelos críticos dos jornais de hoje, seria provavelmente
hoje tida em conta por Petrónio como uma literatura de homens libertos para
libertos. Em particular são apenas aqueles autores que são hoje mais incensados
os que promovem em aborrecida repetição nada menos que a crescente decomposição
dos valores espirituais e morais Indo-Europeus. Os escritores de jornal elogiam
a “liberdade” destes “artistas” em contraste com o “atavismo estético” de céticos
isolados. Ser considerado como esteticamente atrasado é também um aviso de
Horácio: “Nada pequeno e nada de maneira baixa!”
Depois do fim do período de
dominação colonial tem de ser temido que as populações de vastas regiões do
mundo se comportem como libertos, tanto mais que o governo colonial destruiu o
que restava das antigas ordens éticas e sociais destas populações; noutras
palavras, eles irão imitar largas secções da juventude dos “povos cultos”.
Depois de todas as alterações
constitucionais e de todas as sublevações desde metade do século dezanove, os
povos do ocidente perderam mais da liberdade individual peculiar às suas
naturezas, e tiveram que suportar em vez mais subjugação, mais da “insolência administrativa”
(Shakespeare: Hamlet, III, 1). Já que
este processo teve lugar gradualmente, a perda da liberdade que era inerente ao
proprietário rural Indo-Europeu, a perda daquela liberdade que apesar de
enfraquecida e distorcida, era ainda efetiva no liberalismo político do século
dezanove, processou-se sem ser notada, enquanto oportunistas calculistas
aprenderam prontamente a explorar a burocracia ou obteram para si próprios nomeações
para altos cargos governativos. Como resultado tem ocorrido um gradual mas
poderoso crescimento de autoritarismo tanto no estado como nos partidos
políticos, e na influência, exercida tanto abertamente ou em segredo, de grupos
endinheirados por detrás deles.
O poeta Paul Ernst (1866-1937),
no seu arrebatador Memórias de Infância
(finalizado em 1929 e publicado em 1959), descreveu a transição da sua pátria
de uma terra de artificies rurais para um estado industrial acompanhado por
temíveis perdas em verticalidade, solidariedade e respeito mútuo e confiança
entre os homens – uma transição que trouxe consigo uma crescente perda de
liberdade na qual os homens mais jovens se emaranharam mais ou menos ativamente.
O pai do poeta foi obrigado já na idade de nove anos a trabalhar na mina nas
montahas Harz como um “Pochjunge” com um salário semanal de 60 pfennigs. Com vinte
e dois anos ele ganhava 2.40 marcos por semana; e desde 1856, quando estava nos
seus trinta e dois anos de idade, 1 taler. O poeta, seu filho, sucumbiu tão
pouco como o seu pai aos encantos do marxismo que apareceram na altura; em vez,
ele deu um aviso de subjugação universal aos quais os estados socialistas se
iriam reduzir, como o tinham feito John Stuart Mill e Herbert Spencer. O poeta
viu no marxismo “um caminho que levaria a uma escravatura tão terrível como o
mundo jamais tinha conhecido” (pp. 289-290). Ele expressou a visão de que hoje
o homem que deseja evitar as garras de tal escravidão, deve adaptar a sua vida
para que se posicione tão longe quanto possível do alcance da sociedade contemporânea,
e deve manter-se completamente isolado das influências contemporâneas.
A solidão do indivíduo foi
rejeitada na Alemanha pelo governo da massa (Oclocracia) do Nacional Socialismo
em favor de uma comunidade (Folk) de massas urbanas, que também revelou o fim
da era Indo-Europeia na Alemanha. Mas a pessoa com entendimento vai
compreender, como Herbert Spencer, que a perda da liberdade do indivíduo é
inevitável em todas as sociedades industriais.
É desafortunadamente verdade que
entre os povos do ocidente, o número de homens que prefere a liberdade a um
elevado padrão de vida têm-se tornado muito pequeno, e que os homens que são
naturalmente nobres (eleutheros, ingenuus)
e Paul Ernst foi um, sofrem um crescente protecionismo. Nas suas Jugenderinnerungen (Memórias de
Juventude, p. 312) Paul Ernst escreveu que o seu pai sempre foi um homem livre
apesar da sua pobreza, e que a sua mãe foi uma mulher dignificada, como competia
à mulher de um tal homem.
Há uma grande falta de homens do
calibre de Paul Ernst, do tipo de estirpe humana cuja morte está hoje a ser acelerada,
se a perda de liberdade é notada de todo. Walter Mushg, Pofessor da Universidade
de Basileia, numa palestra por ocasião das celebrações de Schiller, intituladas
Schiller: a Tragédia da Liberdade (1959),
enfatizou que a liberdade “não só desapareceu sob ditaduras, mas também nos
chamados países livres. Em todos os lugares novos fatores de poder formaram-se
que controlam a existência de homens e que produziram formas invisíveis de
escravatura, perante as quais os nossos antepassados liberais teriam tremido…
Estamos rodeados de chapéus de Gessler, aos quais ninguém faz mira. O homem do
dia presente não mais conhece o que liberdade é e ainda mais já não a deseja.
Ele deseja conforto, uma vida de divertimento sem esforço ao preço de controlo
burocrático que ele voluntariamente financia. A vontade de liberdade foi
substituída por um desejo de dominação, por uma libertação da
auto-determinação. Deste desejo… surgem tanto abertas como dissimuladas formas
de ditadura.”
M. T. Vaerting, que foi à América
do Norte, uma terra de aparente liberdade, numa altura em que o estado
Nacional-Socialista da Alemanha se tornou mais e mais totalitário ao ponto de
finalmente já não mais confiar até na esfera privada nos indivíduos incapazes
de uma existência de massas – eventualmente chegou à conclusão, que explanou em
dois livros, que gradualmente todos os estados da Europa e da América do Norte
estavam a seguir o exemplo da Rússia Soviética, e que todos estavam no caminho
para o estado totalitário de massas que só pode levar a um destino, a um super-estado
em que toda a liberdade e dignidade humana são oprimidos.
Assim ela vê em todo o lado um
aumento do poder estadual que trará o declínio do homem. Tal declínio efetuado
através de um crescente controlo do homem pelo estado, não será sentido pelas
massas, que exigirão segurança, mas que será finalizado através da crescente
extinção de famílias nobres, exatamente como foi previsto por Walter Tathenau
em A Tragédia do Povo Ariano, que
Rathenau viu como a grande tragédia de toda a história humana. No entanto, esta
estirpe em vias de extinção era, e ainda é, a estirpe de Heráclito e Sófocles,
de Tito Lucrécio Caro, daquele mesmo Catão Uticense, que preferia a morte à
vida sob o dictator perpetuus Júlio
César; era e ainda é a estirpe de Giordano Bruno, Thomas Jefferson e Wilhelm
von Humboldt, uma estirpe que através de qualidades herdadas é ainda capaz de
uma brava, desassombrada luta pela dignidade e liberdade. Selbst ist der Mann: Confia em ti mesmo!
Sócrates uma vez caminhava pelo
mercado de Atenas, olhando para a quantidade de bens expostos, os artigos de
luxo indicativos do elevada padrão de vida dos atenienses – que eram ao
contrário espiritualmente empobrecidos – e voltou-se para os seus amigos e
disse: “Quantas coisas aqui estão, das quais eu posso viver sem!”
Os produtos dos mass media dos nossos dias, que um dia
serão levados ao alcance dos povos mais remotos na terra, ao custo de
distorcerem e substituírem as suas culturas nativas pela tecnologia
espiritualmente destrutiva chamada de “cultura mundial” serão renunciados pelos
últimos verdadeiros Indo-Europeus da mesma maneira que Sócrates renunciou aos
bens expostos para venda no mercado de Atenas.
Mas para o homem Indo-Europeu, o
criador histórico de culturas de Benares a Reykjavik, poderemos verdadeiramente
aplicar as palavras de Hamlet:
“I shall not look upon his like again!”
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