Tuesday, August 1, 2017

Tradução do Capítulo VIII do livro As Atitudes Religiosas dos Indo-Europeus, de Hans F. K. Günther

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Quinto Horácio Flaco (Carminas, III, 25,27) descreveu a tarefa de toda a arte, especialmente a poesia, a de ser de criar “nada pequeno ou de maneira baixa” (nil parvum aut himili modo). No entanto a literatura mais popular do Oeste livre, e a cultura dos mass media, hoje enfatiza as não importantes experiências sexuais do homem desenfreado, amiúde de uma maneira decadente e suja, e isto é descrito pelos muitos críticos de jornal como “arte”. As igrejas também patrocinam estas formas de arte para as massas e pretendem assegurar a participação da juventude oferecendo Jazz e ritmos negros. O melhor exemplo da experiência sexual pura, como atingida na nil parvum aut hilimi modo de Horácio, pode ser encontrado no verdadeiro Indo-Europeu Homero. De acordo com C. F. von Nagelsback (Himerische Theologie, terceira edição, editado por G. Autherieth, 1884, p.229) Homero sempre representou a sensualidade sem luxúria e sem falsa virtuosidade e nunca de forma encantadora ou sedutora ou com excitação sensual na mente; ele era um dos mais inocentes poetas de todos os tempos e inclusive a descrever cenas sexuais, ele nunca usou uma palavra que excedesse os requerimentos artísticos. Este é outro exemplo de como o Indo-Europeu ligava liberdade com dignidade.

Na Europa e na América do Norte, indivíduos que ainda eram capazes da sua própria dignidade, do qual o Commonplace Book de Thomas Jefferson, o distinto terceiro Presidente dos Estados Unidos da América, é um exemplo – têm sido substituídos por massas que por religiosidade só entendem um apêndice a uma confissão necessária para benefício próprio. Não há esperança possível, sob estas circunstâncias, que uma grande espiritualidade ou cumes religiosos que foram atingidos pelos Indo-Europeus que viviam na Europa e Índia em vários períodos da Idade de Bronze até ao século dezanove possam ser igualados de novo. Para uma cultura mundial que os progressistas querem construir, uma elevação do espírito acima e para além das necessidades de entretenimento das massas - acima do Jazz e do ritmo negro – não pode ser mais desejada, já que o que os europeus e norte-americanos têm a oferecer hoje às massas “não evoluídas” (que, no entanto, poderiam ter utilizado dos 10.000 até 20.000 anos que passaram desde o fim da Velha Idade da Pedra para o seu próprio desenvolvimento), não é nada mais que a “cultura” da vacuidade espiritual de um estado providência governado por autoridades sem alma. Em tais sociedades, a Imprensa, literatura, rádio, televisão e filmes e outros média disponibilizam às massas um “tensionamento” ou ”distensionamento” controlados que alternativamente promovem esta ou aquela crença ou descrença. Com a crescente extinção de famílias capazes de liberdade espiritual, e com o crescente desaparecimento de talentos, particularmente entre as gentes da América do Norte e Europa capazes de liderança espiritual, não pode ser expectável alternativa ao desaparecimento dos últimos vestígios restantes do Povo Indo-Europeu e sua cultura.

Thomas Jefferson (1743-1826), um dos fundadores do estado livre da Virgínia, autor da Declaração da Independência (1776), Governador da Virgínia, embaixador em Paris, Ministro dos Negócios Estrangeiros sob George Washington e de 1801 a 1809 Presidente dos Estados Unidos, procurou ver no seu povo uma nação de pequenos proprietários rurais que desconfiavam do comércio e da emergente indústria citadina, que ele considerava inimigos da liberdade. Jefferson procurava proteger a liberdade e dignidade do homem individual do estado, ao qual ele então desejava permitir só um mínimo de poder. Para proteger esta aristocracia agrícola gozadora de uma liberdade Indo-Europeia ele procurou evitar a centralização do estado a favor de uma frouxa federação ou associação das antigas colónias inglesas. Mas depois da era agrícola, a urbanização e a industrialização da era industrial trouxe as massas urbanas cuja necessidade de segurança se tornou maior que o real ou pretenso anseio de liberdade. Segurança contra (no sentido Indo-Europeu) o destino – segurança cobarde contra todas as situações difíceis de vida – só pode ser atingida num estado baseado em burocracia, um estado que é assim sendo, por necessidade, desumano. O excessivo número de departamentos protetores e de medidas repressivas, bem como o grande número de burocratas em posições de dependência, gradualmente asfixia a liberdade de quaisquer indivíduos ainda capazes de uma conduta de vida dignificada e corajosa. (Tacito: Anais, XXXVII: corruptissima in re publica plurimae leges.)

No Inverno de 1791-1792, Wilhelm von Humboldt, o amigo de Schiller, e como Schiller um dos grandes Indo-Europeus, escreveu um livro: Ideen zu einem Versuch, die Grenzen der Wirksamkeit des Staates zu bestimmen (Uma tentativa para determinar os limites da efetividade do Estado). Neste trabalho ele procurou salvaguardar a humanitas e a dignitas, a dignidade do homem, da patronização de estados sociais de governo. No entanto, com o século vinte, mais e mais países, incluindo os uma vez tão livres ingleses, e, na sua senda, a América do Norte, tornaram-se “socializados”, estados sociais burocráticos, cujas massas, sobrecarregadas por milhares de funcionários e organizações, começaram a esquecer a liberdade e a dignidade através do distensionamento a eles oferecido. Com a perda da liberdade e dignidade na vida política e social, como é possível a preservação dos valores espirituais tradicionais?

Um dos primeiros a reconhecer que a era do indivíduo libre, capaz de auto-determinação, estava a chegar ao fim, e que com a deslocação deste livre, auto-suficiente homem, a dignidade humana iria desaparecer da vida pública, foi o Conde normando Alexis de Tocqueville (1805-1859), amigo do Conde Arthur Gobineau (1816-1882). Os seus trabalhos O Regime Antigo e a Revolução (7th edição, 1866) e os Souvenirs de Alexis de Tocqueville (1893), que não foram publicados até trinta e quatro anos depois da morte do autor, só o foram na Alemanha quando era tarde de mais para salvar a liberdade do indivíduo. De Tocqueville estudou a natureza das democracias como se mostravam na sua terra de origem, na América do Norte, e depois escreveu o seu livro Da Democracia na América (1835), uma calorosa e ricamente informativa descrição do estado livre da América do Norte, no qual avisava dos perigos que visavam as democracias caídas sob domínio do espírito das massas. Ele temia que o aparecimento de uma era das massas, com capitalismo estatal e empreendedorismo controlado pelo estado, iria perverter as democracias a reprimir a liberdade do homem individual de dignidade – para ele o mais elevado bem humano – pelo que a democracia iria levar à supressão da liberdade no sentido Indo-Europeu, a liberdade exigida por Jefferson e por Wilhelm von Humboldt.

Os últimos homens que – não tendo investigado as suas origens – defenderam a liberdade Indo-Europeia, nomeadamente a democracia dos pais de família livres e mutualmente iguais detentores de terra, foram os filósofos ingleses John Stuart Mill (Michael St. John Packe: The Life of John Stuart Mill, 1954, pp. 488) e Herbert Spencer. J. S. Mill escreveu um livro Sobre a Liberdade em 1859. Com uma intuição quase incompreensível Mill reconheceu a ameaça à dignidade e à liberdade do independente e auto-suficiente homem pensante que era incorporada na “liberdade” das massas citadinas. Mill temia que a tirania das maiorias e das assembleias populares, a repressão daqueles capazes de discernimento pela massa de opiniões públicas flutuantes. Ele temia que o ideal chinês da igualdade de todos os homens e via – como Goethe na tragédia A Filha Natural (I, 5) – que todas as tendências contemporâneas modernas estavam destinadas a redefinir a era coeva ao aprofundar abismos e ao rebaixar os picos. Quando os homens são feitos “iguais” por lei, todos os desvios desta uniformidade seriam condenados como perversos, imorais, monstruosos e não naturais (John Stuart Mill: A Liberdade, 1859). Consequentemente no ano 1859, quando a Inglaterra ainda era livre, essa mesma conformidade era já predita, contra a qual até os escritores de jornais e literatura de circulação de massa hoje se queixam.

Para John Stuart Mill a liberdade do indivíduo era o bem mais elevado. Ele começou com o ponto de vista de Adam Smith e de David Ricardo e inclinou-se para o socialismo, mas temia que o abuso da liberdade pelos partidos e maiorias iria levar ao comando das massas, ao fim da competição e ao abolicionismo das possessões individuais, as quais favoreceriam os estúpidos e os preguiçosos, roubando dos inteligentes e dos industriosos. Por esta razão Mill também advogava Malthusianismo e planeamento familiar, porque famílias com muitas crianças, economicamente incapazes de se suportar, constituiriam uma ameaça ao estado.

Herbert Spencer encontrou o mais alto grau de liberdade no estado em Inglaterra em meados do século dezanove, o maior grau de liberdade para homens de julgamento independente e de consciência independente. Mas quando ele escreveu os seus Princípios de Sociologia em 1896, ele reconheceu que esta liberdade já se encontrava ameaçada pelo socialismo. Socialismo, ele disse, iria aparecer em todas a sociedades industriais e iria reprimir todas as liberdades; socialismo que em si se iria tornar outra forma de sujeição, simplesmente outra forma do regime burocrático, e portanto se iria tornar no maior infortúnio que o mundo já tinha experimentado; ninguém de novo faria o que lhe apeteceria, qualquer teria de fazer o que fosse ordenado a fazer. Uma total e absoluta perda de liberdade seria o resultado. Herbert Spencer poderia ter acrescentado que só uma minoria de homens capazes de pensamento independente se iria arrepender da perda de independência num estado burocrático, protetor, enquanto a sólida maioria (Ibsen: Um Inimigo do Povo) iria preferir a proteção estadual à liberdade, sendo incapazes de entender a liberdade de Jefferson ou de Wilhelm von Humboldt, ou de Mill ou de Spencer (Herbert Spencer: Princípios de Sociologia, Vol. III, 1897, pp. 585, 595).

Em duas contribuições para os seus Ensaios (Ensaios: Científico, Político e Especulativo, Vol. II, 1883, pp. 48, 56, 66, 94, 100, 104; Vol. III, 1878, pp. 181, 186) Herbert Spencer, o Liberal, sumarizou como o socialismo – quando finalmente tiver penetrado todos os partidos – iria reprimir a liberdade do indivíduo para vocalizar a opinião independente; através de uma inundação de leis iria surgir, apoiada por uma fé cega das massas socialista em decretos e na maquinaria governamental, um estúpido e ponderoso estado burocrático; o estado iria desencorajar os seus cidadãos de se ajudarem a si próprios, e a ninguém seria permitido retirar-se das instituições nacionais, como poderiam das privadas, quando estas quebravam ou se tornavam excessivamente dispendiosas; a fé cega na burocracia, acima de tudo na forma Fascista ou Nacional-Socialista, levou ao surgimento, como Spencer temia, na fé cega no governo, num fetichismo político. Mas onde os governos socialistas foram permitidos a governar sem contestação por décadas, burocracia, controlo estatal e fetichismo estatal instalaram-se, e com eles uma ainda consequente repressão da liberdade do indivíduo, daquela liberdade Indo-Europeia e acima de tudo Teutónica, emanante do espírito dos chefes de família detentores de Terra, iguais entre eles, sobre a qual Spencer e os liberais do seu dia estavam preocupados – apesar de eles não terem notado que as raízes desta liberdade eram historicamente Indo-Europeias.

Um poderia descrever os teutões como naturais democratas, se por democracia um entender a liberdade auto-consciente e a igualdade do proprietário rural. A democracia deste tipo irá sempre seguir o comando, encontrado no Edda (Grogaldr, VI, Der Zaubergesang der Groa, Edda, Vol. II, 1920, p. 178): “Conduz-te!”. Esta liberdade, a dignificada liberdade encontrada somente no homem capaz de autodeterminação, foi mantida na Islândia, de onde proprietários livres noruegueses se auto-removeram para evitar a conversão forçada ao Cristianismo às mãos dos recém-convertidos Reis noruegueses, com tal determinação, que o observador moderno deve duvidar se o estado livre da Islândia pode no geral ser chamado um estado.

Do mesmo modo Eduard Meyer (Geschichte des Altertums, Vol. I, 2, 1909, p. 777) aludiu ao individualismo e auto-determinação que caracterizam os Indo-Europeus, ao individualismo do homem auto-determinado, hostil a todo o tipo de liderança, até ao ponto de frequentemente provar ser um perigo à sua própria nação ou estado. O próprio Bismarck foi testemunho desta individualidade quando disse que estava menos preocupado em dar ordens do que punir desobediência. Tal visão é expressa na divisa, válida antes na Alemanha, Selbst ist der Mann — Depende de Ti Próprio — e esta visão recusa a caridade de qualquer outro, incluindo vinda do estado. Tal corresponde a uma afirmação verdadeiramente Indo-Europeia do Imperador Marco Aurélio Antonino (Observações, III, 5): “Deves manter-te de pé direito, sem seres apoiado por outros!” No Agamémnon (775) de Ésquilo, o rei do exército heleno, primeiro entre iguais, expressou a visão de que ele tinha as suas próprias convicções, à parte da dos seus cidadãos. Com Sófocles (Aias, 481) o Coro confirma a Aias, que livremente escolheu a morte, que ele nunca falou uma palavra que não tenha procedido da sua própria natureza.

Mas tais atitudes têm tendido a desaparecer ultimamente entre os povos Indo-Europeus - correspondendo ao desaparecimento do homem capaz de pensamento e opinião independente, o verdadeiro homem livre. Recentemente, através de uma acumulação de homens incapazes de pensamento independente, as massas citadinas apareceram, as quais apenas desejam ser guiadas: não é mais “guia-te a ti próprio – próprio!” mas “Líder, comanda e nós seguiremos!”. Em tais períodos, a verdadeira liberdade Indo-Europeia desaparece. Marco Túlio Cícero (de officio, I, 112- 113), imbuído com a tradicional liberdade de uma república aristocrata e conhecedor através de Panécio de Rodes das doutrinas de liberdade dos pensadores Helénicos, ainda arriscou elogiar o oponente morto de Júlio César, Catão Uticense, durante o período de ditadura daquele. Depois da batalha de Tapso, muitos romanos aceitaram o governo a solo do líder conquistador das massas citadinas (que se consistiam predominantemente de homens libertos, antigos escravos), o dictator perpetuus, Júlio César. Não, no entanto, Catão Uticense, um dos últimos homens livres da aristocrática república romana: O amor de Catão à liberdade ensinou-o a escolher a morte sobre a opção de viver sob tirania.

O trabalho histórico de Tácito, que já acima foi mencionado, revela que a liberdade Indo-Europeia (libertas) só é possível numa sociedade de indivíduos capazes de julgamento independente, que contam com os seus próprios recursos e que não precisam de ser apoiados. Herbert Spencer já tinha visto, para os finais do século dezanove, que tal liberdade já não seria viável em sociedades industriais.

A liberdade espiritual e a dignidade humana Indo-Europeia foram representadas com a maior beleza pela arte clássica dos helenos e este espírito fala com irrepreensível vigor e claridade das esculturas que representam pensadores e poetas helenos (K. Schefeld: Die Bildnisse der antiken Dichter, Redner und Denker, 1943) – esculturas que não poderiam ter sido criadas não sendo os mesmos artistas conscientes desta liberdade e dignidade. Uma grande parte da altamente elogiada arte dos dias de hoje, a arte do “Ocidente livre”, expressa em palavra e em imagem um enojamento que é talvez desculpável – com o homem espécie, frequentemente até com o próprio “artista”, e é óbvio que como tal, não pertence já ao espirito do Ocidente, primeiro representado à perfeição pelos Helenos. O Ocidente do dia presente, na medida em que é representado por “artistas famosos”, já não é capaz de alcançar a totalidade do mundo ou da imagem humana. Está satisfeito em produzir fragmentos distorcidos que são então considerados com assombro pela Imprensa como asserções sobre os “essenciais”. Escritores, pintores, escultores e construtores representam – à semelhança da sua imagem, criaturas que não chegam nem perto à nobreza humana, culturalmente chegadas aos lémures - “meias-naturezas” formadas por compostos de ligamentos, tendões e ossos (Goethe: Fausto, II, Act 5, Great Courtyard of Palace), “meias-naturezas” cuja microcefalia e desorientação parecem simbolizar a rejeição da razão, logos, ratio dos “artistas” da era presente. Quanto às letras de música dos dias correntes, Hugo Friedrich (Die Struktur der modernen Lyrik, 1961) fez uma penetrante análise deles desde Baudelaire até ao dia presente e delineia uma tendência descendente que reflete o declínio do Ocidente, apesar de não tentar avaliar o nível artístico do lirismo moderno ou discutir a questão se poderá ainda ser considerado ocidental.

O declínio da dignidade humana e da liberdade pelo socialismo, que exigiria tanto poder estadual quanto possível foi também temido por Friedrich Nietzsche, que, como Jefferson e Wilhelm von Humboldt, recomendava tão pouco estado como possível, e finalmente chamou ao estado o mais frio de todos os monstros frios (Assim falava Zaratustra: Do novo Ídolo). Hoje tal opinião incorreria em ação disciplinar contra o seu autor – não só nos estados europeus de Leste. Socialismo, de acordo com Nietzsche (Edição de bolso, Vol. III, pp. 350-351), cobiçou “a totalitarização do poder estadual como só o despotismo teve, de facto tendo-o ultrapassado já que ambicionou à formal abolição do indivíduo”. De um Estado Mundial a uma República Mundial, que é hoje considerada pelos crentes “progressistas” como o objetivo desejado da humanidade, Nietzsche esperava nada diferente que o desaparecimento final de todos os restos de liberdade e de dignidade humana “Quando o planeta for subjugado a um todo-abrangente controlo económico, então o género humano vai descobrir que foi reduzido a mera maquinaria ao seu serviço, como um monstruoso sistema mecânico ainda mais pequeno, com rodas dentadas finamente ajustadas.” (Nietzsches gesammelte Werke, Musarionausgabe, Bd. XIX, 1962, p. 266; cf. também Charles Andler: Nietzsche, Sa Vie et sa Pensée, Vol. III, 1958, pp. 201 et seq.).

O declínio da liberdade e dignidade humanas sob o socialismo foi também previsto por Gustave Le Bom nos seus livros Psychologie des Foules (1895) e Les Lois psychologiques de l’évolution des Peuples (1894). Le Bon temia que as massas rapidamente aceitassem toda a subjugação sob líderes de vontade férrea, e que se dissolvessem as antigas culturas da Europa, e que e sua ilusão de que a liberdade e igualdade pudessem ser alcançadas pela sempre crescente legislação, eles legalmente a aniquilariam, já que equivaleriam liberdade a uma falta de controlo externo. Do Cesarismo, o despotismo dos líderes, as massas esperavam, não tanto liberdade, a cuja não particularmente buscavam, como a igual subjeção de todos. O Socialismo do nosso tempo (1895) teria o efeito de absolutismo estadual, especialmente como o socialismo das massas apareceria como a nova religião e compeliria à uniformidade. Mais tarde o estado tornar-se-ia Deus todo-poderoso. A raça da alma dos povos representa a sua condição cultural; a alma da massa da população representa a condição de barbarismo e declínio.

Theobald Ziegler, Professor de Filosofia na Universidade de Estrasburgo, afirmou no seu trabalho Die Soziale Frage (1891), um estudo das ideias socialistas do seu tempo, que a igual subjeção de todos sob a proteção estadual, era predominantemente uma tendência germânica. Ernst Troeltsch, Professor de Filosofia na Universidade de Berlim (Das 19. Jahrhundert, Gesammelte Schriften, Vol. IV, p. 640), escreveu em 1925, que a “pressão do poder universal dos estados pesa cada vez mais sob o povo”. Isto era e é sem dúvida também verdade para os povos que vivem em democracias, pois como Eduard Schwartz, o historiador (Charakterköpfe der Antike, 1943), afirmou, a coragem cívica da opinião pessoal, a coragem de julgamento independente, não eram virtudes nem auto-evidentes nem supérfluas em democracias. A liberdade do homem de pensamento independente torna-se mais e mais restrita na era das massas legalmente “libertas”, dos decretos governamentais e da opinião pública.

No que à falta de dignidade e à falta de liberdade, aos abismos da vida pública, espiritual e moral, os governos socialistas podem guiar um povo uma vez nobre e livre, é ilustrado pelo extraordinário exemplo da moderna Suécia. Testemunha de tal é o socialista sueco Tage Lindbom, diretor dos Arquivos para a História do Movimento da Classe Trabalhadora de Estocolmo, um competente perito no seu livro Sancho Panzas Väderkvarnar (1963).

O abuso da liberdade das comunidades rurais por cidades-massa híbridas foi responsável pela queda da Grécia Antiga, bem como de Roma. Para Platão (Teeteto, 172-173), a liberdade era a dignificada independência do homem nobre. No seu trabalho O Estado (Politeia, VIII, 550, 557- 558, 562-564), ele criticou a liberdade como um slogan para as massas citadinas; um excesso de tal liberdade iria levar o estado bem como o cidadão a um excesso de escravidão. Para um homem de dignificada liberdade o fator guia é meramente a verdade (Platão: Teeteto, 172-173), a qual é sempre simples; para o homem não-digno, o fator guia em liberdade é o mexerico, a manha, a lisonja e a persuasão por meios confusos e provas falsas.

Neste caminho a liberdade desapareceu para o fim da aristocrática república romana, com a extinção da nobreza (ingenui); sob os Imperadores, a liberdade dos libertos (liberti), que mais não era que auto-controle, começou na capital e espalhou-se para todas as cidades do Império, a liberdade da qual os últimos nobres romanos podiam só se retirar, trocando a anterior tradição de participar na vida pública estadual por uma de isolamento. O homem sábio – Cícero uma vez escreveu (Das Leis, I, 61) – mantém que o que as massas louvam tanto de nada vale. Horácio (Odes, I, 1; 2, 16, 39, 40), que tinha vivido a transição da república aristocrática para o Cesarismo dos Imperadores, que favorecia as massas, falou de um povo comandado pelo mal (malignum volgus). O comportamento do liberto ao adular os Imperadores foi descrito com desprezo por Petrónio, que originava de uma família da nobilitas, a nobreza oficial, na sua Cena Trimalchionis. Nesta cena um dos últimos nobres romanos expressa o seu desdém, com a calma superior do homem que olha para o declínio sem esperança. No ano 66, Petrónio, até então popular na sua corte, é condenado à morte por Nero.

A literatura do “Ocidente liberto” celebrada e elogiada pelos críticos dos jornais de hoje, seria provavelmente hoje tida em conta por Petrónio como uma literatura de homens libertos para libertos. Em particular são apenas aqueles autores que são hoje mais incensados os que promovem em aborrecida repetição nada menos que a crescente decomposição dos valores espirituais e morais Indo-Europeus. Os escritores de jornal elogiam a “liberdade” destes “artistas” em contraste com o “atavismo estético” de céticos isolados. Ser considerado como esteticamente atrasado é também um aviso de Horácio: “Nada pequeno e nada de maneira baixa!”

Depois do fim do período de dominação colonial tem de ser temido que as populações de vastas regiões do mundo se comportem como libertos, tanto mais que o governo colonial destruiu o que restava das antigas ordens éticas e sociais destas populações; noutras palavras, eles irão imitar largas secções da juventude dos “povos cultos”.

Depois de todas as alterações constitucionais e de todas as sublevações desde metade do século dezanove, os povos do ocidente perderam mais da liberdade individual peculiar às suas naturezas, e tiveram que suportar em vez mais subjugação, mais da “insolência administrativa” (Shakespeare: Hamlet, III, 1). Já que este processo teve lugar gradualmente, a perda da liberdade que era inerente ao proprietário rural Indo-Europeu, a perda daquela liberdade que apesar de enfraquecida e distorcida, era ainda efetiva no liberalismo político do século dezanove, processou-se sem ser notada, enquanto oportunistas calculistas aprenderam prontamente a explorar a burocracia ou obteram para si próprios nomeações para altos cargos governativos. Como resultado tem ocorrido um gradual mas poderoso crescimento de autoritarismo tanto no estado como nos partidos políticos, e na influência, exercida tanto abertamente ou em segredo, de grupos endinheirados por detrás deles.

O poeta Paul Ernst (1866-1937), no seu arrebatador Memórias de Infância (finalizado em 1929 e publicado em 1959), descreveu a transição da sua pátria de uma terra de artificies rurais para um estado industrial acompanhado por temíveis perdas em verticalidade, solidariedade e respeito mútuo e confiança entre os homens – uma transição que trouxe consigo uma crescente perda de liberdade na qual os homens mais jovens se emaranharam mais ou menos ativamente. O pai do poeta foi obrigado já na idade de nove anos a trabalhar na mina nas montahas Harz como um “Pochjunge” com um salário semanal de 60 pfennigs. Com vinte e dois anos ele ganhava 2.40 marcos por semana; e desde 1856, quando estava nos seus trinta e dois anos de idade, 1 taler. O poeta, seu filho, sucumbiu tão pouco como o seu pai aos encantos do marxismo que apareceram na altura; em vez, ele deu um aviso de subjugação universal aos quais os estados socialistas se iriam reduzir, como o tinham feito John Stuart Mill e Herbert Spencer. O poeta viu no marxismo “um caminho que levaria a uma escravatura tão terrível como o mundo jamais tinha conhecido” (pp. 289-290). Ele expressou a visão de que hoje o homem que deseja evitar as garras de tal escravidão, deve adaptar a sua vida para que se posicione tão longe quanto possível do alcance da sociedade contemporânea, e deve manter-se completamente isolado das influências contemporâneas.

A solidão do indivíduo foi rejeitada na Alemanha pelo governo da massa (Oclocracia) do Nacional Socialismo em favor de uma comunidade (Folk) de massas urbanas, que também revelou o fim da era Indo-Europeia na Alemanha. Mas a pessoa com entendimento vai compreender, como Herbert Spencer, que a perda da liberdade do indivíduo é inevitável em todas as sociedades industriais.

É desafortunadamente verdade que entre os povos do ocidente, o número de homens que prefere a liberdade a um elevado padrão de vida têm-se tornado muito pequeno, e que os homens que são naturalmente nobres (eleutheros, ingenuus) e Paul Ernst foi um, sofrem um crescente protecionismo. Nas suas Jugenderinnerungen (Memórias de Juventude, p. 312) Paul Ernst escreveu que o seu pai sempre foi um homem livre apesar da sua pobreza, e que a sua mãe foi uma mulher dignificada, como competia à mulher de um tal homem.

Há uma grande falta de homens do calibre de Paul Ernst, do tipo de estirpe humana cuja morte está hoje a ser acelerada, se a perda de liberdade é notada de todo. Walter Mushg, Pofessor da Universidade de Basileia, numa palestra por ocasião das celebrações de Schiller, intituladas Schiller: a Tragédia da Liberdade (1959), enfatizou que a liberdade “não só desapareceu sob ditaduras, mas também nos chamados países livres. Em todos os lugares novos fatores de poder formaram-se que controlam a existência de homens e que produziram formas invisíveis de escravatura, perante as quais os nossos antepassados liberais teriam tremido… Estamos rodeados de chapéus de Gessler, aos quais ninguém faz mira. O homem do dia presente não mais conhece o que liberdade é e ainda mais já não a deseja. Ele deseja conforto, uma vida de divertimento sem esforço ao preço de controlo burocrático que ele voluntariamente financia. A vontade de liberdade foi substituída por um desejo de dominação, por uma libertação da auto-determinação. Deste desejo… surgem tanto abertas como dissimuladas formas de ditadura.”

M. T. Vaerting, que foi à América do Norte, uma terra de aparente liberdade, numa altura em que o estado Nacional-Socialista da Alemanha se tornou mais e mais totalitário ao ponto de finalmente já não mais confiar até na esfera privada nos indivíduos incapazes de uma existência de massas – eventualmente chegou à conclusão, que explanou em dois livros, que gradualmente todos os estados da Europa e da América do Norte estavam a seguir o exemplo da Rússia Soviética, e que todos estavam no caminho para o estado totalitário de massas que só pode levar a um destino, a um super-estado em que toda a liberdade e dignidade humana são oprimidos.

Assim ela vê em todo o lado um aumento do poder estadual que trará o declínio do homem. Tal declínio efetuado através de um crescente controlo do homem pelo estado, não será sentido pelas massas, que exigirão segurança, mas que será finalizado através da crescente extinção de famílias nobres, exatamente como foi previsto por Walter Tathenau em A Tragédia do Povo Ariano, que Rathenau viu como a grande tragédia de toda a história humana. No entanto, esta estirpe em vias de extinção era, e ainda é, a estirpe de Heráclito e Sófocles, de Tito Lucrécio Caro, daquele mesmo Catão Uticense, que preferia a morte à vida sob o dictator perpetuus Júlio César; era e ainda é a estirpe de Giordano Bruno, Thomas Jefferson e Wilhelm von Humboldt, uma estirpe que através de qualidades herdadas é ainda capaz de uma brava, desassombrada luta pela dignidade e liberdade. Selbst ist der Mann: Confia em ti mesmo!

Sócrates uma vez caminhava pelo mercado de Atenas, olhando para a quantidade de bens expostos, os artigos de luxo indicativos do elevada padrão de vida dos atenienses – que eram ao contrário espiritualmente empobrecidos – e voltou-se para os seus amigos e disse: “Quantas coisas aqui estão, das quais eu posso viver sem!”

Os produtos dos mass media dos nossos dias, que um dia serão levados ao alcance dos povos mais remotos na terra, ao custo de distorcerem e substituírem as suas culturas nativas pela tecnologia espiritualmente destrutiva chamada de “cultura mundial” serão renunciados pelos últimos verdadeiros Indo-Europeus da mesma maneira que Sócrates renunciou aos bens expostos para venda no mercado de Atenas.

Mas para o homem Indo-Europeu, o criador histórico de culturas de Benares a Reykjavik, poderemos verdadeiramente aplicar as palavras de Hamlet:


“I shall not look upon his like again!”

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