Aqui deixo a tradução para português do primeiro capítulo da obra de Emmanuel Malynski, intitulada A Guerra Oculta, 1940.
Este livro polémico que tenta desvendar a história profunda, as forças secretas responsáveis pelos ventos históricos que varrem a história humana desde os finais do século XVIII, revela a audácia do autor em tentar articular esta história invisível e dar nomes aos autores escondidos.
Qualquer pessoa que queira perceber a história humana sem tentar perceber as correntes profundas da história, ficar-se-á por um entendimento superficial da mesma, arriscando-se a ser objeto da história, em vez de sujeito.
Para ler o livro todo com a mente aberta e sem um pouco de cuidado, pela delicadeza do tema e pela grandeza da empresa a que o autor se propõe.
A chave da inteira história do século XIX é a evolução do
movimento revolucionário de 1789 até ao bolchevismo russo.
A luta subterrânea iniciou-se com a Revolução Francesa,
iniciada pelos Illuminati reunidos no Congresso de Wilhelmsbad debaixo da
presidência do professor bávaro Weishaupt. Um setor da cidade, já assediado
desde dezenas de anos atrás (já ela o estava desde os tempo de Rosseau, do
Enciclopedismo e da difusão das lojas), um dos setores mais belos, foi tomada
de assalto e os seus habitantes foram chamados a atacar os setores próximos.
Como sucede nos assaltos verdadeiros, esta parte da cidade foi recuperada pelos
outros assediados, depois dos encarniçados combates da era napoleónica. Os
assediantes, então, retiraram-se e voltaram às suas posições de segurança. No
entanto eles deixaram na praça assediada um germe infeccioso que ali
frutificou, provindo de França no século XIX o l’enfant terrible de toda a Europa.
É em França que tiveram nascimento aquelas revoluções que,
debaixo das ideias liberais, nobres e generosas, com a sua realização gradual,
modificaram insensivelmente o rosto do mundo cristão e a estrutura interna da
sociedade europeia, em benefício de elementos revolucionários, entre os quais
os hebreus estavam na primeira fila. Toda a história profunda do século XIX,
até à Primeira Guerra Mundial, é a história desta luta muda e surda na maior
parte dos casos; luta entre os assediantes, que sabiam muito bem o que faziam e
os assediados, que não se davam conta do que sucedia.
Dito processo durou exatamente um século e dois anos
(1815-1917) e conduziu a dois resultados.
O primeiro é a transformação da sexta parte do mundo
habitado num foco revolucionário, impregnado de maçonaria e judaísmo, em que a infeção
já madura se torna consciente das forças que a organizavam, com a segurança
total com vista à segunda parte do programa.
O segundo é a transformação do resto do planeta num ambiente
brando, desarticulado e dividido interiormente por rivalidades irascíveis e
ódios regionalistas. Ela tornou-o incapaz de toda a iniciativa de caráter
ofensivo e também defensivo, contra um inimigo cuja força e cuja audácia também
aumentaram consideravelmente e que, seguro da sua imunidade, acreditava que
podia sempre atacar, sem correr o risco de ter que se defender nunca.
Definitivamente, isto deveu-se a um ambiente mundial tão
dominado pelo capitalismo, tão anemizado pela democracia, tão sacudido pelo
socialismo e dividido por nacionalismos mal entendidos, que já não foi capaz de
contrapor resistência firme a um ataque similar.
No ano de 1813 a Europa tradicional por fim havia decidido
reagir contra a revolução, personificada por Napoleão. Tratava-se propriamente
da revolução, e não da França, do mesmo modo que se combate contra a doença que
apoquenta uma pessoa e não contra a pessoa em si. A melhor prova disso é que o
Congresso de Viena não abusou em absoluto da sua vitória com respeito à França
vencida, a qual não perdeu nada do seu território, a qual volveu a ser uma
monarquia honorável e honrada. Os monarcas de direito divino da Europa não
fizeram senão reparar a sua culpa capital, por causa da qual haviam corrido o
risco de perder a coroa e que tinham empurrado os seus povos a convulsões
democráticas já um século antes do momento fixado pelo destino.
Esta culpa referia-se ao fato de todos os monarcas, em
quanto a miopia, haviam superado inclusive Luís XVI. Este havia-se obstinado em
não ver nada mais que os movimentos acidentais de revoltas devidos a descontentamentos
ocasionais, ali onde em vez começava a era revolucionária. Do mesmo modo, estes
monarcas só pensaram em rivalidades de nacionalismos regionalista, em vez de se
porem de acordo como um só homem, esquecendo as suas divergências crónicas que,
em comparação, eram somente divergências de famílias, para eliminar o germe,
antes que este pudesse manifestar-se e difundir-se, o perigo que ameaçava o
mundo.
Como demasiados dos nossos contemporâneos, eles tão pouco
pareceram dar-se conta que se iniciava um novo capítulo da história. A guerra
por excelência do século XIX devia der aquela dos estratos sociais sobrepostos:
a guerra da democracia universal contra a elite universal; a guerra do de baixo
contra o de cima; e a guerra do mundo inferior contra o mundo divino será em
geral a consequência lógica. Onde a democracia triunfará, ali o baixo transformar-se-á
no alto e deverá defender-se contra algo ainda mais baixo, que por sua vez, encontrar-se-á
na mesma situação apenas chegado ao poder e ao vértice. Em linha máxima, tem
sempre sido uma guerra da democracia contra uma aristocracia relativa, e assim
deviam as coisas suceder-se fatalmente, até ao dia em que se tocou no fundo.
No dia de hoje, só a Rússia alcançou esse zero absoluto,
debaixo do qual já nada mais resta; assim, ela é o único país na história, em
que a revolução está estacionária, que não aumenta já em profundidade: ela
tende só à expansão e não poderia ser de outra maneira. Contra os nossos
argumentos, que a revolução bolchevique alcançou o último grau de profundidade,
poder-se-ia objetar que as coisas não são assim, posto que ela todavia não
ganhou a maior parte do povo russo, nos seus estratos realmente profundos. Quem
postulasse tal argumento e fosse realmente sincero, posto que muitos utilizam-no
para não deixar entrever a verdade, demonstraria ter-se ficado no ponto de considerar
a revolução moderna ou a democracia, que é a sua continuação, como uma manifestação
“do povo, feita pelo povo, para o povo”. A
verdade é que, ao contrário, a revolução e a democracia são só meios empregues
no conjunto de um plano de conspiração geral, para arrancar o poder sobre o
povo das mãos daquele grupo e daquela ideia positivamente aristocrática, que
sempre esteve acima e mais além da maioria do género humano.
Revolução burguesa, democracia, revolução “social”,
comunismo, não são senão episódios de um duelo gigantesco entre dois
princípios, personificadas um pela tradição e outro pela anti-tradição. E se
Satanás se rebelou, em nome da liberdade e da igualdade em relação a Deus, tal
aconteceu não só para não servir, senão para submeter, substituindo-se à
autoridade do Altíssimo.
O povo não é portanto o sujeito senão o objeto desta
revolução do suposto progresso democrático, constelado por revoluções violentas
que aceleram a sua marcha.
Sobra ainda toda a hierarquia humana quando nos começamos a
separar da tradição: o Renascimento. Sobram os príncipes e os reis, quando nos
separamos da hierarquia religiosa e do emperador: a Reforma. Sobra a burguesia
quando nos separamos da nobreza dos príncipes e reis que são os ápices desta:
Revolução Francesa. Sobra ainda o povo, quando se ultrapasso o estado da
burguesia: 1848 – 1917. Não sobram senão e escória e um mundo sub-humano quando
se vai mais além das massas: 1917, bolchevismo. Quando a revolução completa-se
em profundidade como o é na Rússia, e por extensão, como o poderá ser só quando
o mundo se pareça ao império decaído dos czares, ela não se preocupará no que o
povo pensa, mais do que a nós nos preocupa aquilo que os nossos cordeiros ou os
nossos bois poderão ter na cabeça, posto que sabe que bastam umas poucas
bactérias para exterminar sem perigo algum para as nossas pessoas, a totalidade
de todas as bestas do rebanho.
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