Monday, October 30, 2017

Características Judaicas - O Problema



Werner Sombart (1863-1941) será no seio académico económico da Alemanha, um espelho da instabilidade política, social e financeira que este país viveu durante os finais do século XIX e a primeira metade do século XX.

Filho de uma abastada família burguesa da Saxónia, este jurista e economista de profissão, tornou-se ainda jovem um radical de esquerda de renome que, inclusive, foi considerado por Engels como o único professor universitário que corretamente interpretava o ‘Das Kapital’.

No decorrer da sua carreira na Universidade dedicou-se à sociologia política, na esteira do seu colega e amigo Max Weber, tendo como este focado a sua obra na história do capitalismo moderno e no entendimento do seu espírito e dos processos que levaram à primazia desta nova mundividência económica e financeira na Europa coeva.

Em 1901, na altura em que publica a sua obra de referência, ‘O Capitalismo Moderno’, já se tinha afastado dos círculos marxistas que frequentava, tendo esta deriva ideológica acentuado-se durante o período da República de Weimar, que o aproximou dos meios mais nacionalistas de então. A sua posterior ligação ao regime nazi foi distante e ambivalente.

Aqui propomos traduzir do inglês um capítulo do livro que será o mais conhecido nos meios académicos internacionais, ‘Os Judeus e o Capitalismo Moderno’, de 1911, onde Sombart retrata a influência dos judeus na criação e desenvolvimento das instituições capitalistas e, mais importante, perceber as razões porque o chamado espírito capitalista se conforma tão perfeitamente com as características do povo judaico.

Um trabalho académico sério e honesto, em que se tenta não cair na insanidade daqueles que pretendem não reconhecer o génio judaico, ou admitir sequer uma particularidade interior a este povo; ou no outro extremo de paranoia daqueles que denunciam complôs judaicos a cada esquina e que só concebem o sucesso judaico – que, diga-se, não se restringe apenas ao meio económico – por vias nefárias e esquemas pérfidos.

Dado o capítulo em questão – ‘As Características Judaicas’ – ser bastante longo, propomo-nos dividi-lo em três partes, tendo neste post traduzido apenas a primeira seção, ‘o Problema’, que esclarece as bases da exposição mais detalhada que virá adiante.

Vivamente recomendamos a leitura de toda a obra, que é facilmente acessível na internet em inglês, tanto pelo estilo do autor – sóbrio e direto, como não seria esperar de um académico alemão – mas sobretudo pelos diversos temas tratados, desde a evolução das instituições mercantis, ao surgimento do estado capitalista e o seu contraponto ao estado tradicional que jazia sobre as ruínas da Idade Média, até à análise detalhadas da diáspora judaica, a uma investigação aprofundada das características deste povo em diversas modalidades e da sua aptidão para ocuparem um lugar de primazia no atual estado em que se encontra a Europa e o mundo ocidental em geral.


------------------


A decisão de lidar num trabalho de caráter científico com o problema sugerido pelo título do presente capítulo não chegou sem um grande esforço. Pois ultimamente tem-se tornado uma moda pegar em qualquer coisa que soe mesmo que remotamente a psicologia de nações como joguete das disposições dos dilettanti, enquanto descrições do génio judaico têm sido incensadas como a nova forma de desporto político pelos espíritos mais grosseiros, cujos rudes instintos não podem senão ofender todos aqueles que, na nossa época vulgar, têm conseguido preservar um módico de bom-gosto e de imparcialidade. Fazer malabarismos injustificáveis com categorias de psicologia de raça já levou à conclusão de que é impossível chegar a quaisquer resultados científicos neste campo de estudo. Leiam-se os livros de P. Hertz, Jean Finot e outros e depois de os acabar fica-se com a sensação de que é uma tentativa fútil a de tenter encontrar características psicológicas comuns entre qualquer conglomeração de humanos; esse esprit francês é um mito – de facto não existem franceses, assim como não existem judeus. Mas atravesse-se a rua e eis que é se confrontado com um tipo específico; leia-se um livro ou observe-se uma fotografia e quase inconscientemente dir-se-á: quão alemão, quão tão francês!

Será isto apenas uma extravagância da nossa imaginação?

Julgamos que não. Se pensamos por um momento na história humana temos de construir para a nossa análise a hipótese de uma espécie de “alma coletiva”. Quando, por exemplo, falamos da religião judaica estamos destinados a ligá-la com o povo judeu cujo génio lhe deu nascimento. Ou quando dizemos que os judeus tiveram uma influência no moderno desenvolvimento económico, segue-se seguramente que deve existir algo essencialmente judaico que o trouxe à tona. De outro modo bem podemos afirmar que não teria feito qualquer diferença para a história económica da Europa Ocidental se os esquimós tivessem ocupado o lugar dos judeus, ou talvez que até gorilas tivessem tido resultados igualmente bons!

Este reducito ad absurdum mostra claramente que devem existir algumas características especificamente judaicas. Mas deixe-se considerar o assunto de um ponto de vista ligeiramente diferente. Vamos observar as características objetivas na aptitude judaica para o capitalismo moderno. Existiu primeiro, como já vimos, a dispersão dos judeus por uma grande área geográfica. Agora, sem recurso às forças subjetivas da Diáspora, pouco pode ser explicado como efeito da Diáspora. E uma coisa é evidente. A dispersão de um povo não provoca por si mesma resultados económicos ou culturais; não, muito frequentemente a dispersão leva à fusão e ultimamente ao desaparecimento.

Já foi reclamado – e com razão – que foi a dispersão dos judeus que os capacitou para se tornarem intermediários. Concedido, mas também permitiu fazer deles negociantes e conselheiros privados de príncipes, vocações que têm desde tempos imemoriais sido os trampolins para postos mais altos? Foram inerentes aos próprios judeus as capacidades essenciais para estas novas posições?

Admitimos que a dispersão dos judeus foi responsável por não pouco do seu sucesso no comércio internacional e na banca. Mas não é o postulado para este sucesso o facto de que os judeus em toda a parte se mantivessem juntos? O que teria acontecido se, como tantas outras raças dispersas, eles não tivessem mantido essas ligações de união?

Por fim, não nos esqueçamos que os judeus apareceram apenas entre os povos que aconteceram encontrarem-se maduros o suficiente para receber o capitalismo. Mas mesmo assim, se a influência judaica era forte (e ainda o é) na Holanda, em Inglaterra, na Alemanha, na Áustria-Hungria – muito maior que a sua influência junto dos espanhóis, italianos, gregos ou árabes – foi em larga medida devido aos contrastes entre eles e os seus hóspedes. Já que assim pareceria que quanto mais lento de raciocínio, mais cabeça-dura, mais iletrado em negócios seja um povo, mais efetiva será a influência judaica na sua vida económica. E pode isto ser satisfatoriamente justificado exceto através de especiais peculiaridades judaicas?

Independentemente da origem da sua inata dissemelhança com os seus hóspedes, o ponto saliente é que esta dissemelhança lhes tivesse obtido uma influência duradoura na vida económica. Uma vez mais é impossível imaginar isto sem a assunção de características inerentemente judaicas. Que um povo ou uma tribo seja detestada ou perseguida não nos fornece razão suficiente para os motivar para redobrar os esforços nas suas atividades. Pelo contrário, na maior parte dos casos este desprezo e mau tratamento servem para destruir a moral e iniciativa. Apenas onde o homem possui qualidades excecionais estas se tornam, sob a pressão das circunstâncias, a fonte de energia regenerada.

De novo, olhe-se à sua semi-cidadania. Não se aplica aqui também argumento idêntico? É tão óbvio ao ponto de quase se tornar num truísmo. Em nenhuma outra parte o judeu gozou das mesmas vantagens que o seu concidadão, e mesmo assim em todo o lugar eles conquistaram economicamente muito mais que o resto da população. Apenas pode existir uma explicação para isto – as características especificamente judaicas.

Por outro lado, a posição legal dos judeus variava em diferentes países e em alturas diferentes. Em alguns Estados eles eram permitidos em participar em certos ofícios; noutros estes mesmos ofícios eram-lhes proibidos; em outros de novo, como em Inglaterra, eles estavam em perfeito pé de igualdade com o resto da população a este respeito. E mesmo assim eles devotaram-se quase em toda a parte a vocações específicas. Em Inglaterra e na América eles iniciaram a sua missão comercial ao tornarem-se comerciantes de moeda e lojistas. E pode isto ser tomado de outro modo que não seja o apontar para as suas características peculiares?

Quanto à riqueza dos judeus, tal, apenas e tão só, é suficiente para explicar os seus grandes feitos na esfera das atividades económicas. Um homem que possui vastas quantidades deve possuir um número de qualidades intelectuais, se o seu dinheiro é empregue vantajosamente no sentido capitalista. Isso seguramente não requer prova.

As características judaicas devem portanto existir. Resta só descobrir quais são elas.

O nosso primeiro pensamento dos judeus como uma unidade irá naturalmente ser associado com a sua religião. Mas antes que procedamos um degrau mais, gostaria de dizer que, por um lado, delimitarei o grupo agrupado sob a religião judaica, e, por outro lado, vou alargá-lo. Vou limitá-lo ao apenas considerar os judeus desde a sua expulsão de Espanha e Portugal, isto é, desde o final da Idade Média. Devo alargá-lo ao incluir no círculo das minhas observações os descendentes de judeus, mesmo que tenham deixado a fé.

Além disso, gostaria de tocar nos argumentos que se insurgem contra a existência de peculiaridades judaicas.

(1) Foi escrito que os judeus da Europa Ocidental e da América têm-se, em larga medida, assimilado com os povos entre os quais se movimentam. Isto não necessita ser negado, mesmo que características especificamente judaicas fossem claras como a luz do dia. Não é possível que grupos sociais se misturarem? Um homem pode ser alemão, ter todas as características de um alemão, e mesmo assim ser um indivíduo pertencente ao grupo dito “proletariado internacional”! Ou tome-se outro exemplo. Não são os suíços-alemães ao mesmo tempo suíços e alemães?

(2) Os judeus na Diáspora, é mantido, não são uma “nação” ou um “povo” no comumente aceite significado do termo, já que eles não são uma comunidade política, cultural ou linguística. A resposta a esta objeção é a de que existem muitas outras qualificações para além daquelas mencionadas (por exemplo, uma origem comum) que devem ser consideradas. Mas generalizando, o melhor será não pressionar uma definição neste momento.

(3) Demasiado tem sido dito sobre as diferenças entre os próprios judeus. Tem sido dito que não existe homogeneidade entre os judeus, que uma secção se encontra asperamente oposta à outra. Os judeus ocidentais são diferentes dos judeus orientais, os sefarditas dos asquenazes, os ortodoxos dos liberais, o judeu comum do judeu do Sabat (para usar uma expressão de Marx). Isto também não necessita de ser negado. Mas não impede de modo algum a possibilidade de características judaicas comuns. É assim tão difícil conceber círculos dentro de círculos? Não pode um grupo largo conter grupos menores dentro de si? Pense-se nos muitos grupos ao qual um inglês pode pertencer. Ele será um católico ou um protestante, um agricultor ou um professor, um nortenho ou um sulista ou Deus saberá de que outro lugares. Mas ele mantem-se inglês de qualquer modo. Assim com o judeu. Ele poderá pertencer a um círculo dentro do todo, poderá possuir certas características que marcam todos os indivíduos nesse círculo, mas ele reterá de qualquer modo as características especificamente judaicas.

Finalmente, devo fazer claro que não tenho intenção de descrever todas as características judaicas. Proponho lidar com apenas aquelas que tem conexão à vida económica. Não me contentarei com antigas expressões, tais como o “comercialismo” judeu, o “espírito de negociação” e outras do mesmo género. Nada direi quanto à prática de alguns de incluir o desejo pelo lucro como uma característica de um grupo social. O desejo de lucro é humano – demasiado humano. Na verdade, devo rejeitar todas as prévias análises da alma judaica (no que respeita à parte económica), e pelas seguintes razões. Primeiro, para o que os judeus se encontrava tão bem predisposto, tal nunca foi claramente definido. “Para a troca” é um termo demasiado vago para ser de qualquer uso. Eu demonstrei portanto, num capítulo especial, o círculo de atividades económicas para o qual o judeu se encontra particularmente capacitado. Segundo, a mera descrição não é explicação. Se eu quero provar que um homem tem todas as capacidades necessárias para o tornar num especulador admirável no mercado de ações, não será suficiente se eu disser que ele fará um bom ladrão. É como dizer que a indigência advém da pobreza. No entanto isso é o modo como os talentos económicos judaicos têm sido tratados. O nosso método será diferente. Tentaremos descobrir certas propriedades da alma que são congeniais ao exercício das funções económicas num capitalismo orgânico.

E agora, tendo aclarado o caminho, devo proceder a demonstrar quais são as verdadeiras peculiaridades judaicas.

No comments:

Post a Comment

Wakinyan-Tanka - O Simbolismo da Águia Entre os Peles Vermelhas

Com a devida vénia, deixamos traduzido o ensaio de António Medrano, originalmente publicado na já defunta publicação tradicionalista ...