Tuesday, August 15, 2017

Futebol - Desporto Satânico

Image result for football medieval times


O aparecimento do desporto de massas é um dos fenómenos típicos da modernidade, do qual o futebol é sem dúvida o seu exemplo mais proeminente.

Sendo uma atividade desportiva que consome tantos recursos e devoção pelas atuais massas humanas, é de notar – á semelhanças de outras importantes manias atuais – a pouca atenção dada às causas fundas da sua popularidade e da devoção que tributa tanto a praticantes como a seguidores. Para além das interpretações marxistas do futebol como ópio do povo – que o é a um nível superficial – e de outras explicações sociológicas, os comentadores atuais, muitos dos quais professam amor confesso a um qualquer clube, parecem admitir um certo irracionalismo nesta obsessão, mas fazem sempre referência ao amor clubístico como algo mais ou menos natural e até mesmo saudável.

Cumpre reconhecer a contradição que a muitos parece passar totalmente ao lado: a de, numa sociedade que se preza por ter ultrapassado os chamados “dogmas de fé” e que afirma o positivismo e o racionalismo como móbeis da ação humana, existirem e cresceram fenómenos de adoração de massa que arrebatam as energias e paixões de setores cada vez mais extensos da humanidade.

Propomo-nos neste artigo deixar algumas bases para entender o presente culto futebolístico e explicar que não é por acaso ser esta modalidade a mais seguida no Mundo, já que ela, de todos os outros desportos disponíveis, partilhará mais do corrente pathos modernista. Mais, entendemos que o futebol, do modo como é praticado e seguido, poderá ser considerado o desporto satânico por excelência – satânico aqui entendido menos no sentido escatológico das religiões abraâmicas, mas mais como conjunto de forças subterrâneas que, não sendo mais controladas pela alta espiritualidade de caráter solar que outrora prevalecia, guiam hoje sem freio as ações e atitudes humanas sobretudo no espaço territorial a que se chama de Ocidente.

1.      O Desporto das Massas:

Na tentativa de encontrar as origens deste desporto, podemos recuar, pelo menos, à Idade Média Europeia, onde por vezes a turba dos primeiros aglomerados urbanos (o início das cidades na aceção moderna do termo, habitadas por massas informes anónimas) exteriorizava a sua agressividade e os seus instintos mais ferozes ao pontapear um objeto de forma circular pelas ruas e campos adjacentes.

Não sendo este ainda o desporto a que hoje chamamos futebol, é de notar como o seu antecedente nasceu desta forma “espontânea” em elementos da classe popular de estrato mais baixo que, no frenesim da multidão, chutavam a bola sem destino e que no seu fulgor a seguiam para onde esta os levasse e onde a ação do indivíduo que momentaneamente pontapeava o objeto era rapidamente submergida pela força da massa ululante em que este então se perdia.

Esta expressão do irrequietismo das massas de então não podia diferir mais das atividades que envolviam esforço físico por parte da nobreza (cavalaria ou esgrima, por exemplo), que eram por natureza individuais, exigiam um controlo intenso da mente e do corpo, eram precedidas por anos de preparação e obedeciam a um sem número de códigos de honra e de conduta de natureza imemorial, sem os quais as suas práticas não fariam sentido.

Podemos afirmar que o futebol surgiu como uma atividade própria do demos, de significação totalmente contrária à atividade nobre; mais, o seu surgimento nesta altura significou, acima da expressão da natureza própria daqueles que, guiados por forças subterrâneas, se juntavam à sua prática, a derrota das forças espirituais que até então as tinham contido no plano material.

Não é curioso notar como, passados séculos, o futebol é hoje essencialmente praticado por homens que provém dos elementos das camadas mais destituías e menos cultivadas da nossa sociedade? Como o são sem dúvida os adeptos mais fervorosos das equipas que vemos a apoiar as respetivas equipas no estádio ou a celebrar na rua, raras vezes sem violência física e verbal.

O futebol é essencialmente um desporto de massas para as massas. É fascinante notar como pessoas que normalmente apresentam um módico de educação e decoro, quando num ambiente de estádio ou mesmo a jogar com os amigos, recorrem frequentemente ao palavrão e a atos de violência física, já que nesses ambientes o que predomina é o ambiente demónico que dantes guiava as massas quando estas se empurravam umas às outras para chutar uma bola.

Quanto ao modo como é praticado, como já acima fizemos referência, nada no futebol se pode comparar à dignidade superior de um cavaleiro, à disciplina militar de um escalador ou à paz de corpo e alma de um atirador de arco; ademais, a violência, a falta de graça e controlo das emoções dos protagonistas, o grassar das ações vis, simulações, agressões e insultos entre praticantes, não deixam dúvidas quanto à natureza desta atividade física.

O futebol, como símbolo e efeito, explica a consagração das forças demónicas do chamado 4º estado que venceram em quase toda em linha as viris forças espirituais que se lhes opunham, já que são aquelas que guiam as modernas massas humanas, sejam estas de qualquer estrato socioeconómico que se julguem pertencer.


 1.  O Futebol como Anti-Religião:

Ao contrário do que o endoutrinado homem moderno pensa, o mundo espiritual não conhece o vazio. E se dantes com razão poderíamos dizer que as forças da verdadeira Tradição operavam ou, pelo menos, procuravam conter as forças ditas satânicas, hoje podemos afirmar que as últimas têm livre-rédea para atuar sob uma massa disforme que, sem referências superiores, se encontra mais que nunca à sua mercê, sempre sem o saber.

Não é pois de admirar ver o mais vitriólico ateísta, o chefe sindical, o intelectual cosmopolita, o líder de indústria ou o moderno cacique político, depois de prezarem os tempos atuais de libertação contra as “longas noites negras” do passado, num qualquer Domingo à tarde, vestidos da mesma indumentária que o resto dos congregantes e num templo titânico de adoração, a ulular em paroxismos de êxtase e desespero os modernos deuses do desporto, em uníssono com o restante magma humano.

À semelhança do centro comercial, do computador e da televisão, o estádio de futebol funciona como o templo escolhido pelo homem moderno para expiar as suas frustrações e projetar os seus anseios e desejos, o qual frequenta religiosamente.

Mas se pelo menos na Igreja ainda havia a intermediação de um ser com qualidades superiores responsável por ministrar o rito e assim permitir algum contato, por pequeno que fosse, entre Deus e a congregação - que atendia à cerimónia de forma voluntária - não deixa de ser preocupante que os fenómenos de fervor religioso modernos como o futebol sejam executados de forma passiva, sob outra guisa.

E para comprovar o caráter subversivo do futebol, é interessante constatar que a intermediação com as forças espirituais não é feita por um ser dotado de preparação especial ou capacidades inatas, mas precisamente pela massa humana na sua capacidade mais vil e rebaixada – qualquer pessoa que já esteve num estádio reparará que há um conjunto de adeptos mais fervorosos (como já acima referimos, representantes por excelência do 4º estado) que iniciam a maior parte das reações coletivas dos adeptos, os quais a maioria de pronto segue e copia, tanto nos modos como nas palavras.

Haverá porventura maior exemplo de satanismo moderno que o de uma celebração coletiva ministrada (não de forma consciente, mas sim guiada por forças subterrâneas) pelos elementos mais grosseiros da sociedade, os quais são copiados na sua vileza e baixeza pela restante massa humana que assim perde toda a sua individualidade e personalidade, a pretexto de apoiar meros seres humanos embrutecidos num terreno de jogo?


 2. O Irracionalismo no Futebol:

O moderno fenómeno futebolístico aparece como algo que apela ao lado mais irracional do ser humano, e isto visto não no que poderia de ter de positivo caso fosse uma busca das possibilidades sobrenaturais do ser humano ou de algo que potenciasse realizações metafísicas, mas precisamente no que é mais obscuro e animalesco nele, no seu substrato inconsciente e subconsciente.

Cabe notar que o adepto médio deste desporto, muito mais que uma verdadeira paixão pelo jogo, desenvolve acima de tudo um fanatismo para com o seu clube ou jogadores favoritos, com cujo sucesso, contra o que seria de esperar numa perspetiva puramente racional, ele totalmente se identifica e cujo destino vai contribuir para o seu estado de espírito. 

 Existe uma adoração semelhante à antiga devoção totémica por tribos antigas que se identificavam sobretudo com a adoração da Terra e animais, com os quais a respetiva estirpe comungava origem e destino.

E basta notar que há algo de mais profundo e outras forças em jogo quando se constata que a escolha de uma equipa como objeto de devoção é somente baseada em puros fatores emocionais, familiares e mesmo de integração de grupo, que são base para manter um fanatismo e tribalismo que se identificam com o que acima foi dito.

Também se pode dizer que tudo o que podia servir como base de apoio para realizações superiores tanto para os desportistas bem como para os adeptos (atente-se ao caráter essencialmente religiosos tanto dos originais Jogos Olímpicos como do Circo Romano), descamba numa exaltação de estados instantâneos de alegria raivosa ou de fúria profunda, imitados pelos jogadores, numa atividade que, totalmente secularizada, só funciona como leve bálsamo para as massas urbanas que o usam momentaneamente para esconder o vazio da existência moderna e o niilismo em que operam.

Como de outra maneira entender o apego fanático que alguns membros “destacados” da nossa praça mostram para com a sua equipa de futebol, traindo uma violência e agressividade da sua parte que não se coaduna de modo algum com a imagem exterior que utilizam no cumprimento das suas funções?

Faremos uma referência breve ao jogo do futebol em si que confirma a irracionalidade que o próprio jogo pressupõe: a expetativa que existe noutros desportos coletivos na marcação de um regular número de pontos para cada equipa durante uma partida, não existe no futebol, já que neste é comum a existência de um reduzido número de golos, não sendo raro de todo a partida concluir-se sem qualquer golo. Um jogo de futebol é composto essencialmente por ações mais ou menos desconexas praticadas por um conjunto de jogadores de cada equipa, que passam uma hora e meia a lutar entre si e a chutar a bola para o outro campo, com raros momentos de verdadeira beleza, composto essencialmente por um atleticismo agressivo, de natureza essencialmente bruta; jogadores e adeptos esperam acima de tudo, quase como que suplicantes, por um momento de catarse que o golo lhes proporcionará e fará todo o tempo perdido até então ter valido a pena.

Alguns comentadores políticos americanos já notaram, mais perspicazmente do que se lhes dá crédito, que a crescente popularização deste tipo de futebol europeu niilista, o soccer, em relação ao seu futebol americano - com o seu cariz essencialmente militar de natureza mais masculina - constitui um sintoma da decadência americana no que entendem ser uma “europeização” dos Estados Unidos, no que aquela tem de pior.


 3. O Futebol como Desporto Global:

Como é demais sabido, o fenómeno “futebolístico” não para de crescer e, à semelhança de outros fenómenos modernos que acompanham a crescente globalização, ameaça submeter sociedades ainda relativamente tradicionais à sua adoração.

Já hoje o futebol funciona como o grande equalizador dentro de cada país e sociedade, onde antigas diferenças de educação e status são esquecidas aquando da celebração do culto futebolístico, mas também em termos transnacionais e transculturais – em qualquer local do mundo o futebol funciona como fator comum de contacto e algo que todos aproxima as pessoas independentemente da origem e educação, já que a maioria partilha da paixão pelo jogo.

E se dantes as equipas de futebol mantinham algo de nacional ou regional, hoje elas não são mais que interpostos comerciais para jogadores e homens de negócios fazerem fortuna numa indústria global, mais se assemelhando a multinacionais com consumidores nas 4 partes do globo do que a associações desportivas, exploradas pelos mesmos homens sem escrúpulos que tudo capitalizam e monetizam – os que são, de facto, os principais beneficiários materiais desta devoção de muitas “almas”.

Seja no estádio ou na televisão, biliões de seres estão constantemente hipnotizados na religião moderna, umas vezes vencendo, outas vezes perdendo, mas acima de tudo partilhando uma mesma experiência espiritual regressivo-passiva comum.

Como se vê o futebol acaba por ser um tentáculo da moderna universalização e estandardização do homem que está em curso e para a qual caminhamos: uma aldeia global de seres equalizados e nivelados, que, vestindo todos a mesma camisola, partilham dos mesmos gostos, as mesmas paixões e os mesmos conhecimentos superficiais, acima de qualquer particularismo regional, político ou religioso que possam ter - enquanto estes ainda subsistirem!   

E aqui não deixa de ser de notar que, tendo o futebol nascido no Ocidente, este se expande e conquista cada vez mais o Oriente, seguindo a mesma direção de outros mitos modernos de confeção “europeia” cuja exportação para terras orientais contribuiu para a implementação também aí das ideias subversivas da Contra-Iniciação global.


Numa época em que a subversão é a palavra-chave, em que se prefere o exterior ao interior, o terreno ao céu, o inferior ao superior, o plebeu ao real, só os mais ingénuos e crédulos não podem notar a ironia subversiva de ser esta atividade apodada de “desporto-rei”.

No comments:

Post a Comment

Wakinyan-Tanka - O Simbolismo da Águia Entre os Peles Vermelhas

Com a devida vénia, deixamos traduzido o ensaio de António Medrano, originalmente publicado na já defunta publicação tradicionalista ...